DESIGUALDADE SOCIAL

Número de pessoas na pobreza permanece estável enquanto bilionários lucram R$ 34 bi por dia

Relatório da Oxfam mostra que grupo obteve lucro de US$ 2 trilhões em 2024; organização prevê pelo menos cinco trilionários até 2035

Número de pessoas vivendo na pobreza segue intacto enquanto bilionários lucram R$ 34 bi por dia.Créditos: Cauan Kaizen/Wikimedia Commons
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O novo relatório da Oxfam, lançado nesta segunda-feira (20), escancarou em números o cenário global de extrema desigualdade que se perpetua há anos, com bilionários concentrando cada vez mais renda enquanto a pobreza segue intacta. A organização mostrou que, somente em 2024, surgiram cerca de quatro novos bilionários por semana. A riqueza desse grupo composto por 204 pessoas cresceu de maneira alarmante, aumentando em US$ 2 trilhões durante o ano, três vezes mais rápido do que em 2023. 

De acordo com o documento "Às custas de quem? – A origem da riqueza e a construção da injustiça no colonialismo", lançado no mesmo dia do Fórum Econômico de Davos 2025, a riqueza dos bilionários aumentou cerca de US$ 5,7 bilhões (ou R$ 34 bilhões) por dia. Enquanto isso, o número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza permanece praticamente inalterado desde 1990, segundo dados do Banco Mundial.

A organização alerta que embora as taxas gerais de pobreza tenham diminuído em todo o mundo, o número de pessoas vivendo em situações extremamente precárias hoje é o mesmo que há 35 anos: quase 3,6 bilhões. O número representa 44% da humanidade. Por outro lado,  o 1% mais rico concentra 45% de toda a riqueza mundial. 

Foto: Oxfam

As previsões para o futuro, contudo, não são animadoras, conforme análise da Oxfam. Desde 2022, estudos realizados pela organização apontam tendências negativas na maioria dos países: 4 em cada 5 reduziram a parcela de seus orçamentos destinada à educação, saúde, proteção social ou tributação progressiva, enquanto 9 em cada 10 apresentaram retrocessos nos direitos trabalhistas e nos salários mínimos.

"Sem ações políticas urgentes para reverter essa tendência preocupante, é quase certo que a desigualdade econômica continuará a aumentar em 90% dos países", diz um trecho do relatório.

A organização também alerta que muitos países estão enfrentando falência e sendo prejudicados pelo peso das dívidas, o que os impede de financiar adequadamente a luta contra a desigualdade. "Em média, os países de baixa e média renda destinam 48% de seus orçamentos ao pagamento de dívidas, frequentemente para credores privados ricos de Nova York e Londres. Esse valor supera em muito o que é gasto, somado, com educação e saúde", afirma.

A projeção de trilionários

Em 2023, a Oxfam previu o surgimento de um trilionário dentro da próxima década. No entanto, com o aumento acelerado da concentração de renda, a projeção se expandiu: agora, o risco é de existirem pelo menos cinco trilionários até 2035

“A captura da nossa economia global por um seleto grupo privilegiado atingiu níveis antes inimagináveis. A falha em deter os bilionários agora está gerando futuros trilionários. Não apenas a taxa de acumulação de riqueza dos bilionários acelerou — por três vezes — mas também seu poder”, afirma Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.

Behar ainda acrescenta que o auge dessa oligarquia é representado por Donald Trump, apoiado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, e governando a maior economia do planeta. "Apresentamos este relatório como um alerta severo de que as pessoas comuns em todo o mundo estão sendo esmagadas pela enorme riqueza de um número ínfimo de pessoas”, completa o diretor.

Diante desse cenário, a Oxfam lista algumas medidas urgentes para frear o aumento da desigualdade no mundo, como a taxação dos mais ricos e o fim do fluxo de  riqueza do Sul para o Norte. Confira em detalhes:

  • Reduzir radicalmente a desigualdade. Os governos precisam se comprometer a garantir que, tanto globalmente quanto a nível nacional, as rendas dos 10% mais ricos não sejam mais altas do que as dos 40% mais pobres. De acordo com dados do Banco Mundial, reduzir a desigualdade poderia acabar com a pobreza três vezes mais rápido. Os governos também devem combater e acabar com o racismo, o sexismo e a divisão que sustentam a exploração econômica em curso.
  • Taxar os mais ricos para acabar com a riqueza extrema. A política fiscal global deve estar sob uma nova convenção tributária da ONU, garantindo que as pessoas e corporações mais ricas paguem sua parte justa. Os paraísos fiscais devem ser abolidos. A análise da Oxfam mostra que metade dos bilionários do mundo vive em países sem imposto de herança para descendentes diretos. A herança precisa ser taxada para desmontar a nova aristocracia.
  • Acabar com o fluxo de riqueza do Sul para o Norte. Cancelar dívidas e acabar com o domínio de países e corporações ricos sobre mercados financeiros e regras comerciais. Isso significa desmontar monopólios, democratizar as regras de patentes e regular as corporações para garantir que paguem salários dignos e limitem os salários dos CEOs. Reestruturar os poderes de voto no Banco Mundial, no FMI e no Conselho de Segurança da ONU para garantir uma representação justa dos países do Sul Global. Os poderosos frutos do colonialismo também devem enfrentar os danos duradouros causados por seu domínio colonial, pedir desculpas formalmente e fornecer reparações às comunidades afetadas.
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