O governo de Israel aprovou oficialmente nesta sexta-feira (17), o acordo de cessar-fogo assinado com o Hamas após uma reunião do seu Conselho de Ministros. O site Axios informa que 24 ministros votaram a favor, enquanto oito foram contrários.
O cessar-fogo foi recomendado horas antes pelo Gabinete de Segurança de Israel, órgão formado após o início da guerra na Faixa de Gaza. Israel e Hamas afirmaram que tinham acertado os últimos pontos depois que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ameaçou voltar atrás na trégua.
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Membros linha-dura do governo pressionaram o premiê contra o cessar-fogo. Netanyahu informou mais cedo que pelos menos 33 dos cem reféns que estão sob poder do Hamas devem ser libertados já no próximo domingo (19).
O acordo prevê ainda que Israel liberte centenas de palestinos presos em Israel e interrompa os bombardeios na Faixa de Gaza.
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Segundo o Hamas, os pontos de discórdia do acordo foram totalmente resolvidos.
O tratado, que entra em vigor no domingo, ainda precisa ser ratificado pelo Conselho de Ministros do governo, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o que, segundo as previsões, deverá ocorrer sem dificuldades.
Oposição ao acordo
O extremista de direita e ministro da Segurança Interna sionista, Itamar Ben Gvir, afirmou que seu partido, Otzma Yehudit, vai sair do governo Netanyahu caso o acordo de cessar-fogo seja implementado.
Ben Gvir defendeu, durante o curso do genocídio, o aniquilamento total dos palestinos e a implementação de colonos israelenses em Gaza.
Segundo Ben Gvir, o “acordo imprudente” levará à “libertação de centenas de terroristas assassinos”, “apagará efetivamente as conquistas da guerra” e “selará o destino dos reféns que permanecerem [além dos libertados na primeira fase]”, deixando o Hamas “com uma capacidade significativa de se reconstruir”, insistiu.
Bezalel Smotrich, ministro das Finanças e líder do partido Sionismo Religioso, afirmou na quarta-feira (15) que:
“O acordo que será apresentado ao governo é um acordo ruim e perigoso para a segurança nacional do Estado de Israel. Junto com a grande alegria e excitação do retorno de cada homem e mulher sequestrados, o acordo retira muitas conquistas da guerra em que os heróis desta nação arriscaram suas vidas e nos custará, Deus nos livre, muito sangue. Nós nos opomos a ele com todas as nossas forças.”
Sem o Otzma Yehudit e o Sionismo Religioso, o governo Netanyahu cai. Segundo alguns analistas, os partidos de extrema direita não devem sair do governo, mas buscam pressionar Netanyahu para forçar ainda mais movimentos coloniais na Cisjordânia.
Um sinal forte disso está na ação do ministro da Defesa, Israel Katz, anunciada nesta sexta-feira (17). Ele afirmou que, por conta da libertação dos reféns palestinos presos em detenções israelenses, o governo irá liberar diversos milhares de colonos israelenses na Cisjordânia que estavam presos sob "sanções administrativas".
“À luz da esperada libertação de terroristas da Judeia e Samaria como parte do acordo de libertação de reféns, decidi libertar os colonos mantidos em detenção administrativa”, a ideia é “transmitir uma mensagem clara de fortalecimento e encorajamento dos assentamentos, que estão na vanguarda da luta contra o terrorismo palestino e enfrentam crescentes desafios de segurança”, afirmou Katz — o mesmo que ofendeu o presidente Lula em diferentes ocasiões no início de 2024.
O genocídio
O acordo, a princípio, mantém o cessar-fogo por 60 dias, interrompendo o genocídio cometido por Israel na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023.
Segundo informações do articulista da Fórum, Yuri Ferreira, entre os cerca de 48 mil mortos no conflito, segundo números oficiais, mais de 46 mil palestinos perderam a vida nos 15 meses de violência contra Gaza, incluindo 17 mil mulheres e crianças assassinadas.
Um estudo da The Lancet, no entanto, aponta para pelo menos 150 mil mortos em Gaza. Mais de 64 mil pessoas ficaram gravemente feridas, enquanto 90% da população foi forçada a se deslocar, e 80% do território foi devastado.
- 660 mil crianças ficaram sem acesso à escola, com 534 das 564 instituições de ensino básico atacadas.
- Dos 36 hospitais em Gaza, apenas 17 funcionavam parcialmente, no fim de 2024.
- Segundo a Organização Mundial da Saúde, foram registrados 654 ataques a hospitais, o que equivale a mais de um ataque por dia.
- Mais de 50 mil crianças enfrentam desnutrição aguda, conforme a UNICEF.
- 1,2 milhão de palestinos foram infectados por doenças respiratórias, enquanto 570 mil sofreram de diarreia aguda, com muitos sem acesso a tratamento devido à destruição das infraestruturas de saúde.
- Além disso, mais da metade das árvores de Gaza foi destruída, assim como 40% da produção de alimentos, segundo a instituição Forensic Architecture.
E, apesar da destruição, Israel falhou em todos seus objetivos principais:
- Não conseguiu eliminar o Hamas, que retomou suas operações e ampliou seu recrutamento.
- Não conseguiu resgatar os reféns sem um acordo de paz.
- Não conseguiu colonizar Gaza.
O que Israel colhe
Os sionistas cometeram o primeiro genocídio televisionado da história. Acreditavam que anos de propaganda de relações públicas com apoio da mídia hegemônica e com os países do imperialismo poderiam perdoá-los.
Acreditavam que as vítimas da Operação Dilúvio de Al-Aqsa seriam capazes de encobrir as crianças incendiadas exibidas diariamente na mídia antissionista e nas redes sociais.
Acreditavam que poderiam calar vozes dissonantes ao redor do mundo. Acreditavam que Israel seguiria sendo "a única democracia do Oriente Médio". Nunca foi e nunca será.
Mas o que uma pesquisa da Morning Consult de janeiro de 2024 mostrou é que o apoio mundial ao sionismo caiu 18,5 pontos em apenas três meses de genocídio. Países como China, África do Sul, Brasil e outras nações latino-americanas passaram a ter uma visão negativa de Israel..
Em nações onde o apoio já era frágil, como Japão, Coreia do Sul e Reino Unido, as quedas foram ainda mais acentuadas:
- Japão: de -39,9 para -62,0.
- Coreia do Sul: de -5,5 para -47,8.
- Reino Unido: de -17,1 para -29,8.
Uma pesquisa Gallup de março de 2024 mostrou que 55% dos estadunidenses, o país mais pró-Israel do mundo, condenavam o genocídio israelense em Gaza.
O sionismo se deslegitimou no campo internacional. Colaborou para a vitória de Donald Trump nos EUA. Fez com que Joe Biden e Antony Blinken fossem marcados como genocidas. Se escancarou como etnoestado colonialista.
Para os sionistas mais desavergonhados, como o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, o cessar-fogo é uma tragédia. Justamente porque eles possuem a sinceridade em reconhecer que não houve uma vitória sequer nesta guerra.
A única colheita de Israel desde outubro de 2023 é a vergonha.