GAZA

Cessar-fogo em Gaza: Israel e Hamas discutem 'estágio final' e detalhes de acordo definitivo

Rascunho final de um acordo de três fases para pôr fim ao genocídio estaria prestes a ser aprovado, informam autoridades

Destruição em campo de refugiados palestinos.Créditos: Free source
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De acordo com um documento obtido pela Associated Press nesta terça-feira (14), negociadores de Israel e Hamas teriam se reunido no Catar na segunda (13) para definir os termos de um acordo de cessar-fogo definitivo, que garantiria a libertação de dezenas de reféns e estabeleceria o "estágio final" para o fim da ofensiva israelense na região palestina — que já dura 15 meses e dizimou mais de 46 mil vidas. 

O veículo informou que esteve em contato com três autoridades — um oficial do Egito, um israelense e um do Hamas —, que puderam confirmar a autenticidade do documento, o "rascunho final" de um acordo que deve ser submetido, ainda, para a aprovação do Gabinete de Segurança de Israel.  As informações são corroboradas pelos veículos Al Mayadeen, Al Jazeera e Times of Israel.

As negociações têm sido mediadas de forma conjunta por Catar, Egito e EUA — e o enviado de Trump ao Oriente Médio, Steve Witkoff, se juntou recentemente às discussões em Doha. Há um otimismo para a conclusão do acordo até a posse de Trump, na próxima segunda (20), disseram os oficiais à AP. Em entrevista a um canal de televisão norte-americano, Trump afirmou que "houve um aperto de mãos e eles [Israel e Hamas] estão finalizando [o acordo] — talvez até o fim da semana".

Em comunicado, o Hamas informou que atingiu o estágio final das negociações, após mais de um ano do conflito que condenou a Faixa de Gaza a danos severos — com mais de 66% de suas estruturas destruídas, 227.000 delas civis, e o deslocamento de 90% da população (cerca de 2,3 milhões de pessoas). Várias agora formam acampamentos improvisados ao longo da costa, onde sofrem com a falta generalizada de recursos. 

Como está estruturado o acordo

O documento em negociação conta com três fases, no formato definido pela administração de Biden e endossado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, revela a AP. 

A fase inicial do acordo envolve a libertação de 33 reféns sob controle do Hamas — entre eles, pelo menos cinco soldados israelenses —, que deve ocorrer ao longo de seis semanas, em troca da liberação de outras centenas de palestinos mantidos reféns por Israel.  

Cada um dos cinco soldados israelenses tidos como reféns pelo Hamas equivaleria à libertação de 50 reféns palestinos, diz o acordo — 30 deles já condenados à prisão perpétua e cativos em Israel. 

A primeira fase do acordo deve durar 42 dias, e envolve a retirada das forças armadas israelenses dos territórios palestinos no norte de Gaza, para onde a população deslocada poderia, aos poucos, retornar, com ajuda humanitária em até 600 caminhões por dia. 

No entanto, "o acordo não inclui garantias por escrito de que o cessar-fogo continuará [após a primeira fase]", informa o veículo; além disso, permitiria que Israel continuasse a ocupar o Corredor Filadélfia, faixa de terra na fronteira entre Gaza e Egito composta por túneis supostamente utilizados pelo Hamas para o abastecimento de seu arsenal militar, que o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse ter interesse em controlar a fim de "evitar outro ataque como o de 7 de outubro", coordenado pelo grupo. 

Israel deve se retirar, por outro lado, do Corredor Netzarim, um trecho de 6 km que divide o sul e o norte de Gaza, na região central, e tem sido ocupado por forças israelenses que monitoram os palestinos para "evitar que portem armas" na passagem à região norte do território. 

Essas duas zonas-tampão têm sido alvo de indefinições no estabelecimento de um cessar-fogo desde o ano passado, com a rejeição, por parte do grupo palestino, da presença militar continuada de Israel na região.

 "Os detalhes da segunda fase [do acordo] devem ser negociados durante a primeira", diz a AP. Apesar disso, os mediadores têm prometido verbalmente ao Hamas que devem pressionar por um acordo efetivo e o encaminhamento da segunda e terceira fases. 

A segunda fase é composta pela liberação de todos os reféns restantes, "especialmente soldados do sexo masculino", em troca de uma retirada completa das forças israelenses

O acordo também prevê a formação de um governo alternativo para Gaza, que dispense o controle do Hamas — uma condição para que Israel não volte a atacar a região, prometeu Benjamin Netanyahu em 2024, quando disse que seu objetivo era eliminar, de uma vez por todas, as lideranças e a capacidade militar do grupo. 

De acordo com o Al Mayadeen, ainda há incertezas sobre "quem deve governar Gaza", mas discussões em curso entre Israel, os Emirados Árabes Unidos e os EUA  querem o estabelecimento de uma "administração temporária" na região até que uma "Autoridade Palestina reestruturada possa assumir o controle". A comunidade internacional reforça, entretanto, que Gaza deve ser governada por palestinos.

Na terceira fase do acordo, a liberação dos corpos de reféns mortos durante o conflito seria feita em troca de um plano de três anos para a reconstrução de Gaza, com supervisão internacional. 

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa'ar, disse, durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira (13), que as negociações para encerrar a guerra e libertar os reféns israelenses em território palestino (cerca de 100) estavam progredindo. 

Ataques frequentes e esperança de cessar-fogo

Nas últimas 24 horas, o Ministério da Saúde em Gaza anunciou a morte de pelo menos 19 pessoas em novas investidas de Israel — o número total de mortos no conflito está estimado em 46.584, com mais de 100 mil feridos, desde 7 de outubro de 2023. 

Ataques aéreos também foram registrados no leste e no sul do Líbano no último domingo (12), que tinham como alvo o Hezbollah, de acordo com as forças israelenses, além de "rotas de contrabando" na fronteira com a Síria. Esses ataques ocorrem após a trégua de cessar-fogo adotada entre Israel e Hezbollah em 27 de novembro de 2024. 

Agora, o Exército de Israel tem até o dia 26 de janeiro para se retirar completamente do Líbano, de acordo com acordo travado com o Hezbollah, que deve, por sua vez, recuar do sul do país e alocar-se ao norte do rio Litani (a 30 km da fronteira entre Líbano e Israel). 

Residentes de Gaza têm esperado ansiosamente pelo acordo, enfatiza o Al Jazeera. Em entrevista ao veículo, um garoto de Deir el-Balah, cidade 19 km ao sul de Gaza, disse que espera "se reunir com a família, voltar para casa e ir para a escola". 

 As crianças de Gaza já não vão à escola há 12 meses. São pelo menos 625 mil estudantes sem acesso a qualquer tipo de educação, de acordo com a ONU, e 85% dos prédios escolares foram destruídos pelos bombardeios. 

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