Foi anunciado nesta quarta-feira (15) um acordo de cessar-fogo que promete o fim do massacre das tropas israelenses na Faixa de Gaza e permite o acesso de alimentos e outras ajudas humanitárias à população local.
Desde 7 de outubro de 2023, quando o grupo Hamas lançou um ataque ao território israelense deixando mais de 1.200 mortos entre civis e militares, o governo de Israel empreendeu uma ofensiva militar que, nestes 15 meses, deixou pelo menos 46.707 pessoas mortas, o que inclui cerca de 18 mil crianças. O total de vítimas, que analistas e grupos de direitos humanos consideram subestimado, significa que uma em cada 50 pessoas foi morta em Gaza.
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Autoridades de Israel, do Hamas e do Qatar, um dos mediadores do cessar-fogo, disseram que foi celebrado um acordo de três etapas. Na primeira fase de seis semanas, cerca de 1.650 palestinos serão libertados das prisões israelenses, enquanto 33 dos cerca de 95 reféns serão soltos pelo Hamas e outros grupos como a Jihad Islâmica Palestina.
Os termos também estabelecem que as forças israelenses se retirarão dos centros populacionais e os palestinos terão permissão para começar a retornar para suas casas no norte de Gaza. Haverá ainda um aumento na ajuda humanitária, com cerca de 600 caminhões entrando a cada dia.
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Já na segunda fase, o Hamas se comprometeu a libertar os cativos vivos restantes, a maioria deles soldados homens, em troca da libertação de mais palestinos e da “retirada completa” das forças israelenses de Gaza. Na terceira fase, os corpos dos reféns restantes seriam devolvidos em troca de um plano de reconstrução de três a cinco anos na região sob supervisão internacional.
Por que Netanyahu mudou de ideia?
A proposta de três estágios já havia sido apresentada em maio de 2024 e em setembro, um dos principais negociadores de Israel, o chefe do Mossad, David Barnea, esteve próximo de aceitar uma resolução, mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu quis impor novas condições, frustrando o acordo.
"Não está claro por que Netanyahu parece ter decidido aceitar um cessar-fogo. Alguns relatórios citam uma reunião com Steve Witkoff , o enviado do novo presidente dos EUA, Donald Trump", aponta o especialista em conflitos no Oriente Médio da University College Dublin Scott Lucas, ao The Conversation.
Ele pontua que Netanyahu tem estado sob pressão por meses, contestado por ex-membros de seu gabinete de guerra, como Benny Gantz, e do agora demitido ministro da Defesa, Yoav Gallant, bem como de partidos de oposição e de setores da sociedade israelense, notavelmente muitas famílias dos reféns.
"Netanyahu resistiu por muito tempo a essa pressão, preferindo a guerra 'sem fim' com a busca de 'destruir absolutamente' o Hamas. Ele pode agora calcular que seu acordo para parar, com o Hamas longe de ser destruído, não parece uma capitulação para o Hamas, para o governo Biden ou para seus inimigos internos. Ele pode apresentar o acordo como uma medida pragmática, dada a mudança de poder nos EUA com um novo presidente que o elogiará", diz o especialista.
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Segundo Lucas, uma possibilidade é que a nova administração Trump tenha sinalizado que aceitará uma expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada. Isso reforçaria a posição tomada por Trump em seu primeiro mandato, e os ministros israelenses de extrema direita Ben Gvir e Smotrich, que já anunciaram sua insatisfação com o cessar-fogo, poderiam mudar seu posicionamento em troca de uma garantia do apoio de Washington.
A paz está garantida?
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al-Ansari, disse à Al Jazeera que tanto Israel quanto o Hamas concordaram que o acordo de cessar-fogo entraria em vigor no domingo (19) .
“Ambas as partes concordaram com o cronograma de acordo com muitos detalhes para a preparação do cessar-fogo”, disse al-Ansari, afirmando que muitas das divergências haviam sido resolvidas durante as negociações e que o acordo incluía procedimentos de monitoramento para garantir sua eficácia. “Estamos esperançosos de que o acordo se mantenha.”
De acordo com a Al Jazeera, a mídia israelense diz que Netanyahu não se dirigirá ao público até que a votação [sobre o acordo de cessar-fogo] seja concluída e todos os procedimentos estejam concluídos.
Está marcada para esta quinta-feira (16) uma discussão no gabinete de segurança do primeiro-ministro israelense. Embora o acordo estabeleça uma pausa nos combates, pode haver uma retomada da guerra no final da primeira fase, e é isso que os ministros de extrema direita estariam esperando.
"Se o gabinete de Netanyahu votar para aceitar o acordo, o primeiro-ministro israelense deve ser capaz de superar a oposição imediata dos direitistas. Líderes da oposição já apoiaram o acordo, e grande parte da população israelense está cansada da campanha militar e só quer que a violência acabe", analisa Scott Lucas.