HORROR COM OS DIAS CONTADOS

Acordo de cessar-fogo põe fim ao massacre em Gaza

Trump, Hamas, assessor de Netanyahu e agência Reuters confirmam, mas anúncio oficial ocorrerá dentro de algumas horas, no Catar. Israel assassinou pelo menos 57 mil pessoas, mais de 70% civis

Créditos: UNICEF/Eyad El Baba
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De LISBOA | Finalmente, 466 dias após o início de um morticínio que parecia não ter fim, o acordo de cessar-fogo que colocará um ponto final ao massacre empreendido por Israel na Faixa de Gaza será anunciado esta noite (15), em Doha, no Catar. Desde 7 de outubro de 2023, quando o grupo Hamas lançou um sangrento e hediondo ataque ao território israelense, deixando mais de 1.200 mortos entre civis e militares, o governo do primeiro-ministro de extrema direita Benjamin Netanyahu pôs em marcha uma carnificina, amplamente considerada um genocídio pela comunidade internacional, que já deixou mais de 57 mil palestinos mortos, sendo mais de 70% deles mulheres, crianças e idosos.

O anúncio oficial, no entanto, só virá dentro de algumas horas, quando o premiê do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, dará uma entrevista coletiva para confirmar o acordo alcançado, reportam a agência de notícias estatal do Catar (QNA) e o jornal catari Al-Araby Al-Jadeed. A notícia, porém, já foi confirmada por atores centrais ligados ao conflito.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, foi o primeiro a confirmar publicamente o cessar-fogo. Ele, que assumirá a Casa Branca novamente dentro de cinco dias, vinha ameaçando “abrir as portas do inferno” caso o conflito não tivesse um fim antes de sua posse. “Nós temos um acordo para os reféns no Oriente Médio. Eles serão libertados em breve”, escreveu Trump em seu perfil na rede Truth Social, dando importância apenas às vítimas israelenses do conflito.

Quem também confirmou o acordo foi o grupo Hamas, que em contato com a rede de televisão catari Al Jazeera admitiu ter assinado o documento, que preveria a devolução de vários de seus integrantes que estão presos em Israel sob a acusação de terrorismo.

Um assessor do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que não se identificou, confirmou ao jornal Times of Israel que o acordo está pronto e devidamente assinado, precisando apenas passar por uma leitura nas próximas horas no Gabinete de Guerra do governo israelense. A agência Reuters também confirmou a finalização do acordo e o ‘ok’ dos dois lados envolvidos.

Os termos do acordo

O acordo de cessar-fogo que está pronto para ser anunciado entre Israel e o Hamas, conforme inúmeras fontes de imprensa do mundo árabe, como a Al Jazeera e o Al-Araby Al-Jadeed, e israelenses, em inglês e hebraico, como o Times of Israel e o Haaretz, traz como principais termos a troca dos reféns capturados no 7 de outubro pelo grupo radical por prisioneiros palestinos detidos em Gaza nos primeiros dias seguidos aos ataques em solo de Israel.

Telavive devolverá mil homens presos em suas penitenciárias, aproximadamente 25% deles acusados formalmente de serem terroristas, ainda que nenhum ligado diretamente à execução dos ataques de 7 de outubro. Do outro lado, o Hamas devolveria os 61 reféns ainda vivos que mantém nos túneis do território palestino, embora o grupo afirme serem 94, número que o próprio serviço de inteligência de Israel refuta ao informar que 33 deles, na verdade, já estariam mortos.

Entretanto, essa troca aconteceria de maneira gradual e altamente controlado por ambos os lados. Na chamada “primeira fase” do cessar-fogo, nos primeiros 42 dias, 33 reféns israelenses seriam devolvidos, respeitando a seguinte escala de prioridade: mulheres civis, seguidas por mulheres militares, depois homens com mais de 50 anos e, por último, homens enfermos. Os três primeiros reféns devem ser devolvidos nas primeiras 24 horas de vigência do acordo. Os mil palestinos prisioneiros devem ser devolvidos a Gaza também nesse período e de forma escalonada. A partir do 22° dia, os moradores evacuados do Norte da Faixa de Gaza, que segue ocupada e esvaziada, poderão retornar para lá.

Quando o 16° dia da primeira fase chegar, os dois lados envolvidos darão início à fase final do cessar-fogo, que terá caráter permanente. Ainda não há detalhes a respeito desta etapa, mas nela estaria prevista a liberação dos demais reféns israelenses mantidos pelo Hamas no território palestino devastado.

A imprensa do Estado judeu já apresentou esta noite (15) fotos do presidente de Israel, Isaac Herzog, reunido com o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Mirjana Spoljaric, para discutir os preparativos para um acordo de libertação de reféns. Uriel Busso, o ministro da Saúde israelense, foi ao X (antigo Twitter) e confirmou o acordo, informando que o sistema de saúde nacional está pronto para acolher os reféns que retornarem para casa.

No Egito, a imprensa reporta que já há intensa movimentação na passagem de Rafah, que faz fronteira com a Faixa de Gaza. Os termos do acordo preveem um aumento expressivo nos comboios com ajuda humanitária que entram no território palestino, em que pese um impasse sobre o chamado “Corredor Filadélfia”, que fica naquela zona, que acabou ficando de fora nas negociações por uma intransigência da parte de Israel.

Fotos e vídeos das agências Reuters e AFP (France Presse) que circulam em vários portais de notícias mostram também a euforia dos moradores de Gaza assistindo aparelhos de televisão em áreas públicas, sintonizados na rede Al Jazeera, comemorando o tão esperado cessar-fogo. Sobre os escombros e em situação flagrantemente precária, esses palestinos festejam o primeiro sinal real de que o massacre estaria chegando ao fim.

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