"ALICE FÜR DEUTSCHLAND"

VÍDEO: Slogan nazista proibido na Alemanha é adaptado para aclamar candidata de extrema direita

Congresso do AfD, legenda aparece em segundo lugar nas pesquisas para as eleições alemãs, contou com outras referências nazistas

Alice Weidel, candidata do AfD, pattido de extrema direita, ao cargo de chanceler da Alemanha.Créditos: Matthias Rietschel/Reuters/Folhapres
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De BERLIM | O Alternativa Para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), partido de extrema direita em franca ascensão na maior economia da Europa, realizou neste sábado (11) em Liesa, no leste do país, um congresso que definiu, por aclamação, a deputada Alice Weidel como a candidata da legenda a chanceler federal nas eleições antecipadas de 23 de fevereiro. 

Na Alemanha, o cargo de chanceler federal, atualmente ocupado por Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), corresponde ao chefe de governo, enquanto o presidente exerce funções mais limitadas. O governo de Scholz ruiu após o rompimento com os partidos da coalizão, resultando na dissolução do parlamento e na convocação de eleições antecipadas.

Scholz será, mais uma vez, o candidato do SPD, que figura em terceiro lugar nas pesquisas de intenções de voto. O primeiro lugar, por hora, é de Friedrich Merz, da União Democrata-Cristã (CDU), partido da ex-chanceler Angela Merkel. Já Alice Weidel com o AfD aparece em segundo lugar. 

Durante o Congresso do AfD que confirmou sua candidatura, Alice Weidel expôs o programa de governo de seu partido, que será fundamentalmente baseado na "remigração", uma política perversa que prevê a deportação forçada de todos os imigrantes ilegais e requerentes de asilo do país

Comprovadamente ligado a grupos neonazistas e com propostas que remetem ao regime de Adolf Hitler, o AfD vem sendo o principal beneficiado da crise econômica e política que assola a Alemanha. Em discurso, Alice Weidel  prometeu o "fechamento total das fronteiras alemãs e a devolução de todos que viajam sem documentos". Além disso, prevê "abandonar o sistema de asilo da UE" e "proceder com expulsões em grande escala".

Slogan nazista 

As referências nazistas não se limitaram às propostas no congresso do AfD. Ao final do evento, extremistas aclamaram a candidata da legenda aos gritos de "Alice für Deutschland" – em português, "Alice pela Alemanha".

A frase parece inofensiva, mas na Alemanha não é. Trata-se de uma adaptação do slogan nazista "Alles für Deutschland" – em português, "Tudo pela Alemanha". O uso de frases, símbolos e outros materiais ligados ao regime nazista é estritamente proibido pelo Código Penal da Alemanha, que pune a exibição ou disseminação de propaganda nazista, com raras exceções em contextos educacionais ou históricos.

Veja vídeo: 

Björn Höcke, um outro líder do AfD, inclusive, chegou a ser denunciado pelo Ministério Público alemão em 2023 por utilizar justamente o slogan nazista "Alles für Deutschland" durante um discurso, além de empregar uma retórica que invocava a ideia de "eliminação do povo alemão" ao criticar a política migratória do país. O episódio gerou indignação e reforçou as ligações entre Höcke e ideologias extremistas.

Crescimento do AfD

A crise política na Alemanha é um prato cheio para a extrema direita, representada pelo AfD, partido com claras aspirações neonazistas e que possui ligações comprovadas com grupos extremistas. 

Fundada em 2013, a legenda conseguiu uma cadeira no parlamento alemão, pela primeira vez, em 2017 - hoje, já são 77 deputados. 

Trata-se de uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas da Alemanha. O AfD defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. A principal plataforma política da sigla são os projetos anti-imigração, permeada de retóricas ultranacionalistas que remetem ao nazismo. Diversos membros do partido, inclusive, já tiveram comprovadamente relações com grupos neonazistas e fizeram falas com tal teor. 

Desde 2021, o AfD é monitorado pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentativa de enfraquecer a constituição democrática do país.

Este ano, o partido foi o mais votado na eleição regional da Turíngia – a primeira vez que uma legenda de extrema direita vence um pleito estadual desde o regime nazista – e garantiu a segunda maior bancada no parlamento da Saxônia. Situação parecida se deu em Brandemburgo, onde o AfD também ficou em segundo lugar e, por pouco, não vence o pleito. 

O crescimento do AfD está intimamente ligado à atual crise política que abala o governo de Olaf Scholz. Com uma série de impasses internos e a falta de consenso entre os partidos da coalizão, temas como economia, inflação e política migratória vêm gerando insatisfação entre os eleitores, que enxergam na legenda extremista uma resposta à instabilidade governamental.

A postura crítica do AfD em relação à União Europeia e ao euro também ganha força em meio às dificuldades econômicas que impactam a população alemã. Enquanto o governo de Scholz enfrenta dificuldades para avançar com reformas, o AfD se aproveita do descontentamento generalizado, apresentando-se como alternativa para eleitores que veem no partido uma maneira de protestar contra o status quo e a paralisia do governo.

Crise política na Alemanha: entenda

No dia 16 de dezembro, o chanceler Olaf Scholz foi derrotado na votação de uma moção de confiança no Bundestag – medida adotada após o colapso de seu governo, que perdeu maioria no parlamento – resultado de uma crise política que teve seu ápice em novembro, quando Scholz demitiu Christian Lindner, ministro das Finanças, acusando-o de quebra de confiança.

Lindner é membro do Partido Liberal Democrático (FDP), que fazia parte da coalizão de governo ao lado do SPD e dos Verdes (Die Grüne). Formada em 2021, a aliança "semáforo" – em referência às cores dos partidos: vermelho, amarelo e verde – governava a maior economia da Europa desde então. 

A demissão de Lindner ocorreu devido a divergências sobre a política econômica. Enquanto Scholz defende um orçamento robusto e maior intervenção estatal, Lindner segue princípios liberais, propondo cortes de gastos e redução do papel do Estado. Após sua saída, os demais ministros do FDP também renunciaram, resultando na perda da maioria parlamentar pelo governo.

Sem apoio suficiente, Scholz optou por se submeter ao voto de confiança. Com a derrota de Scholz, o presidente Frank-Walter Steinmeier, que tem poderes mais limitados, dissolveu o parlamento, iniciando o prazo de 60 dias para convocação de novas eleições. 

CDU lidera pesquisas

Pesquisas de opinião recentes apontam que, se as eleições gerais fossem hoje, o partido conservador CDU, liderado por Friedrich Merz, venceria com mais de 30%. Já o AfD vem disputando o posto de segunda maior força política do país com o SPD. Projeções dão conta de que a sigla de extrema direita somaria, em um eventual pleito antecipado, cerca de 20% dos votos, pouco à frente dos sociais-democratas, que têm 17%.

O CDU já sinalizou, em outras ocasiões, que não aceitaria formar um governo com o AfD. Na Alemanha, é preciso formar coalizões para governar, o que torna o jogo político ainda mais desafiador em um cenário de fragmentação. O fato é que a social-democracia e a esquerda na Alemanha vivem uma crise tão profunda que qualquer cenário aponta para o fortalecimento da direita e extrema direita.

Confira os números, segundo as pesquisas oficiais mais recentes:

  • CDU/CSU (Friedrich Merz): 31%
  • AfD (Alice Weidel): 20%
  • SPD (Olaf Scholz): 17%
  • Partido Verde (Annalena Baerbock): 11%
  • Aliança Sahra Wagenknecht (Sahra Wagenknecht): 8%
  • FDP (Christian Lindner): 5%
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