O bilionário Elon Musk e o saudita Taleb Al-Abdulmohsen, autor do ataque terrorista que matou 5 pessoas e deixou centenas de feridos em um mercado de Natal em Magdeburg, na Alemanha, nesta sexta-feira (20), possuem um ponto em comum: ambos são apoiadores do Alternativa Para a Alemanha (AfD), partido de extrema direita alemão conhecido por suas ligações com ideias e grupos neonazistas.
Horas antes do ataque, Elon Musk havia manifestado, através de sua rede social X, apoio ao AfD. Segundo o bilionário, a legenda seria a única capaz de "salvar a Alemanha".
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O autor do ataque terrorista em Magdeburg foi identificado como Taleb Al-Abdulmohsen, de 50 anos. Nascido na Arábia Saudita, ele vive legalmente na Alemanha desde 2006 e trabalha como médico em uma penitenciária em Bernburg, a 50 km de Magdeburg.
Nos últimos anos, Al-Abdulmohsen publicou diversas mensagens anti-islâmicas nas redes sociais, acusando o governo alemão de liderar um suposto plano para "islamificar" a Europa. Ele se autodenomina "o maior crítico do Islam da história".
Em 2019, o saudita concedeu uma entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, na qual afirmou que "não existe o bom Islã".
Nas redes, além de mensagens islamofóbicas, ele demonstrava apoio ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), conhecido por suas ligações com ideias e grupos neonazistas. Há, inclusive, publicações de Al-Abdulmohsen nas redes sociais quase idênticas à postagem de Musk, dizendo que somente o AfD poderia "salvar" a Alemanha. Além disso, o saudita se mostrava um fã do bilionário.
Peter Neumann, especialista alemão em terrorismo, declarou à imprensa local que o contexto do ataque foi surpreendente.
"Depois de 25 anos neste 'negócio', achava que nada mais poderia surpreender. Mas um saudita ex-muçulmano de 50 anos que vive na Alemanha, adora o AfD e quer castigar a Alemanha pela sua tolerância para com os islamitas – isso não estava no meu radar", afirmou.
AfD, o partido de extrema direita apoiado pelo terrorista e por Elon Musk
A Alemanha tem observado o crescimento alarmante da extrema direita, representada pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD). Fundado em 2013, a legenda conseguiu uma cadeira no parlamento pela primeira vez em 2017 e atualmente conta com 77 deputados, sendo a quarta maior força política do país.
Trata-se de uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas da Alemanha. O AfD defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. A principal plataforma política são projetos antimigração, permeada de retóricas ultranacionalistas que remetem ao nazismo. Diversos membros do partido, inclusive, já tiveram comprovadamente relações com grupos neonazistas e já fizeram falas com tal teor.
Desde 2021, o partido está sob vigilância do serviço de inteligência interno da Alemanha, o BfV, por tentar enfraquecer a constituição democrática.
Recentemente, o AfD foi o partido mais votado na eleição regional da Turíngia, tornando-se a primeira legenda de extrema direita a vencer um pleito estadual desde o regime nazista. Também garantiu a segunda maior bancada na Saxônia e em Brandemburgo.
O crescimento do AfD está diretamente relacionado à crise política enfrentada pelo governo de Olaf Scholz, que recentemente perdeu uma moção de confiança no parlamento, culminando na antecipação das eleições gerais para fevereiro de 2025. A postura crítica do AfD em relação à União Europeia e ao euro ganha força em meio às dificuldades econômicas que impactam a população alemã. Enquanto o governo de Scholz enfrenta dificuldades para avançar com reformas, o AfD se aproveita do descontentamento generalizado, apresentando-se como alternativa para eleitores que veem no partido uma maneira de protestar contra o status quo e a paralisia do governo.
Pesquisas recentes apontam que, se as eleições gerais fossem hoje, o partido conservador CDU, liderado por Friedrich Merz, venceria com mais de 30% dos votos, enquanto o AfD surgiria como a segunda maior força política, com cerca de 20%.