É A ECONOMIA...

Kamala Harris é "socialista". Mas só na Pensilvânia; entenda

Desafiando os cânones do capitalismo que os EUA vendem

Jogada.Biden com o boné da UAW e "o aço é nosso": tudo pelos votos da Pensilvânia.Créditos: Campanha Biden e US Steel
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Na pesquisa mais recente da Fox News, 41% dos entrevistados disseram que a economia é o tema mais importante para a decisão do voto em novembro, nos Estados Unidos.

Muito acima de imigração (14%) e aborto (13%), temas que as campanhas de Donald Trump e Kamala Harris enfatizam, respectivamente.

A grande reclamação do eleitorado tem relação com a subida dos preços, especialmente dos alimentos.

Quando Biden assumiu, o preço médio do litro de gasolina regular nos EUA era equivalente a R$ 3,57, segundo a agência de Informações sobre Energia (EIA); em 26 de agosto passado, estava em R$ 4,94.

Por isso, Kamala é vulnerável, apesar de ter unificado boa parte da base democrata.

"SOCIALISTA" DE OCASIÃO

A democrata tenta esconder Joe Biden em sua campanha.

Menos onde interessa.

A dupla fez uma recente aparição na Pensilvânia, por exemplo, estado tido como o decisivo em novembro.

Por que Kamala "tirou Biden do armário"?

Por causa do apelido Union Joe. O presidente tem ligações próximas com muitos sindicatos.

Foi o primeiro da História a comparecer a um piquete grevista, em 2023, no estado de Michigan, vestindo boné e agasalho da United Auto Workers, o poderoso sindicato que fazia greve contra a Ford, GM e Stellantis.

Em 2020, na Pensilvânia, de um total de 6.915.283 votos, Biden venceu por apenas 82.166.

Foi um mar de vermelho na zona rural do estado, pró Trump, contra uma onda azul nas duas maiores cidades, Filadélfia e Pittsburgh.

Pittsburgh, que viveu decadência industrial relativa nas últimas décadas, foi justamente onde Harris apareceu em comício com Biden. A cidade é sede de mais de 500 sindicatos.

O mapa eleitoral diz tudo: Kamala depende do voto urbano e sindicalizado na Pensilvânia

CONTRA O LIVRE MERCADO

Além disso, a cidade é sede da US Steel, a icônica e decadente fabricante de aço fundada por Andrew Carnegie, J.P. Morgan e Charles Schwab.

Em dezembro passado, a japonesa Nippon Steel fez uma oferta de U$ 14 bilhões pela US Steel. Curiosamente, Donald Trump e Joe Biden se opuseram ao negócio.

No evento em Pittsburgh, a "socialista" Harris se juntou a ambos, dizendo que a empresa "deve continuar a ser de posse e gerenciamento" de estadunidenses.

Isso praticamente enterra o negócio.

A própria US Steel defende enfaticamente a venda, assim como várias lideranças do empresariado:

A Nippon Steel prometeu que nenhum emprego será perdido como resultado da transação, manterá o icônico nome e marca US Steel e manterá a sede em Pittsburgh.

O negócio, que teria tudo para prosperar se fosse baseado nas regras do capitalismo, tem de ser aprovado pelo Departamento de Justiça (em tese para evitar monopólio) e pelo Comitê sobre Investimento Estrangeiro nos Estados Unido (questões de segurança nacional).

Trata-se, assim, de submeter os cânones do sistema de livre mercado que os EUA vendem ao mundo a interesses políticos domésticos de curto prazo.