O governo brasileiro foi o único da região que teve um representante de alto nível em Caracas no dia das eleições presidenciais da Venezuela: o assessor especial da Presidência Celso Amorim. Ao contrário de líderes de outros países, a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de, sobretudo, respeitar a soberania do país vizinho e, ao lado de Colômbia e México, exercer o papel de mediador.
Segundo fontes diplomáticas, o Brasil pretende “liderar um espaço de mediação” entre chavismo e oposição e, para isso, prioriza manter canais de diálogo com os dois lados em disputa. “O Brasil busca mostrar-se como um interlocutor confiável em um eventual cenário de mediação”, disseram ainda. Já em relação à Argentina de Javier Milei, que ao lado do Peru rompeu relações diplomáticas com a Venezuela, o recado foi outro: “Somos o adulto na sala.”
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Ao longo da última semana, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que Edmundo González obteve a maioria dos votos. Além dos EUA, outros cinco países latino-americanos também contrariaram a posição de Nicolás Maduro. Nesta sexta-feira (2), Argentina, Uruguai, Costa Rica, Equador e Panamá decidiram seguir a posição norte-americana e contestar a vitória Maduro. Anteriormente, o Peru também já havia se manifestado em favor da oposição no país.
Nada de anormal
Lula, por sua vez, afirmou que não havia “nada de anormal” no processo eleitoral venezuelano, enquanto a assessoria internacional do presidente e o Ministério das Relações Exteriores passaram a ter várias conversas com quase todos os governos da região. O objetivo é, justamente, mediar a crise.
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“Então tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador, eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição. Teve uma pessoa que disse que tem 51%, tem outra pessoa que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não, entra na Justiça e a Justiça faz”, afirmou Lula.
Ao mesmo tempo, o presidente brasileiro ainda não respondeu o pedido de Nicolás Maduro, para uma conversa entre eles. O pedido foi feito no início da semana, após o Brasil cobrar a apresentação das atas eleitorais antes de reconhecer oficialmente a vitória de Maduro nas eleições venezuelanas.
Soberania
A postura de cautela do presidente Lula e do seu governo tem despertado críticas em petistas históricos, entre eles José Genoíno. O ex-presidente do PT declarou:
"Não cabe a um país questionar o resultado eleitoral se não há uma denúncia concreta e até agora não tem denúncia concreta. Eu acho que a cautela do governo brasileiro é exagerada. É uma ambiguidade desnecessária. Se o órgão nacional proclama, o governo tem que aceitar a proclamação."