FOI ARMADILHA?

Dono do Telegram paga R$ 30 mi de fiança e não pode sair da França

Pavel Durov tem quatro passaportes

Exibicionista.O perfil de Durov no Instagram traz um grande número de fotos em que ele exibe o torso sarado.Créditos: Instagram
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O dono do Telegram, Pavel Durov, pagou o equivalente a R$ 30 milhões de fiança mas não pode deixar a França enquanto durar o processo movido contra ele por promotores locais.

Acusações preliminares foram apresentadas hoje. Dizem respeito a abuso sexual contra menores e tráfico de drogas através da plataforma, crimes nos quais Durov seria cúmplice. Além disso, ele teria se negado a fornecer informações exigidas pelas leis locais.

Durov, de 39 anos, também é investigado por suposta agressão a um dos filhos, que vive com a mãe na Suiça.

Esta é a primeira vez que um bilionário dono de uma rede social pode ser condenado por crimes cometidos na plataforma.

Durov foi colocado em liberdade mas tem de se apresentar duas vezes por semana em um posto policial francês.

AMIZADE COM MACRON?

O diário francês Le Monde confirmou que o presidente Emmanuel Macron teve vários encontros com Durov antes dele obter cidadania francesa.

Durov, que deixou a Rússia e instalou o Telegram nos Emirados Árabes Unidos em 2014, obteve cidadania daquele país em fevereiro de 2021.

Em agosto do mesmo ano, tornou-se cidadão europeu através da França, que o classificou como "cidadão emérito", ou seja, que contribuiu para a influência do país no mundo.

Durov também é cidadão das ilhas de São Cristovão e Nevis, no Caribe, que vendem cidadania em troca de investimento. Ele colocou 250 mil dólares na produção de açúcar local e recebeu o passaporte em 2013.

Alegou que, assim, poderia entrar no Reino Unido e na União Europeia sem pedir visto.

Nevis é um refúgio fiscal que se promove oferecendo completa proteção patrimonial.

De acordo com o Le Monde, o pedido de cidadania francesa foi feito num almoço com Macron:

Durov perguntou ao chefe de Estado [Macron] se ele poderia se beneficiar da naturalização após um almoço em 2018 no Palácio do Eliseu, confirmou a assessoria de Macron. A existência deste almoço foi revelada pelo Wall Street Journal. Segundo o jornal estadunidense, durante o encontro também foi levantada a possibilidade de instalação da sede do Telegram na França.

VIAGENS À RÚSSIA E FRANÇA

De acordo com o Le Monde, Durov visitou a Rússia e a França dezenas de vezes sem qualquer problema. Cidadão russo, ele se mudou do país alegadamente para escapar de pedidos de Moscou para retirar do Telegram conteúdo relacionado a figuras e movimentos da oposição a Vladimir Putin.

O Telegram é responsável por 80% do tráfego de mensagens da Rússia. Também é popular na Ucrânia e em todos os países da antiga esfera da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

A informação do Le Monde abasteceu teorias de conspiração segundo as quais Macron teria atraído Durov para uma armadilha sinistra.

Segundo o diário sarcástico e investigativo Canard Enchaine, Durov teria dito à polícia, depois de ser preso, que tinha um jantar marcado com Macron.

O presidente francês disse em seu perfil no X que a França tem compromisso com a liberdade de expressão e que a ação que levou à prisão de Durov é de um judiciário independente.

Usuários russos do Telegram apagaram conteúdo do aplicativo de mensagens temendo que a França tenha acesso às chaves de criptografia do aplicativo.

Eles foram instados a isso por pessoas influentes na plataforma, como a editora-chefe do Russia Today, a rede de alcance mundial patrocinada pelo governo russo.