Aos 40 anos, o jornalista palestino Mohammed Omer passou pelo Brasil ao longo do mês de agosto, quando deu uma série de palestras sobre a sua obra, que retrata o cotidiano da Palestina, especialmente da Faixa de Gaza, sob a ocupação colonial e os ataques militares advindos do Estado de Israel. Seu livro traduzido para o português e lançado no Brasil, Em Estado de Choque – Sobrevivendo em Gaza sob ataque israelense (Autonomia Literária, 2016), narra uma série de histórias de moradores de Gaza durante os bombardeios de 2014. Seus nomes, histórias, paixões e tragédias são o ponto do alto da obra, por terem a capacidade de transportar o leitor para um lugar mais próximo daquela realidade cruel, recobrando humanidade às almas que se perderiam nas estatísticas.
Ao longo da entrevista que segue, Mohammed refletiu sobre sua vida e obra, explicou uma série de pormenores acerca da questão palestina que pela distância muitas vezes fogem da nossa atenção, e fez questão de relembrar que a experiência palestina também é demarcada por paixões, prazeres e complexas relações humanas e culturais. Esse será o tema do seu próximo livro, Sobre os Prazeres de Viver em Gaza.
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“A destruição de Gaza, como de grande parte da Palestina, é emblemática do projeto colonial mais amplo que buscou deslocar e apagar nossa identidade palestina. Crescendo como palestino, você está ciente dos esforços persistentes para nos negar nossa terra, nossos direitos e nossa própria existência. A realidade do colonialismo nos ensina desde cedo sobre a importância da memória, da História e das histórias que nos ligam à nossa terra e uns aos outros. As histórias são importantes e devem ser passadas de uma geração para a outra — como você verá no meu próximo livro ‘Sobre os Prazeres de Viver em Gaza’, que é o oposto total de ‘Em Estado de Choque’. No meu novo livro, aprende-se a resiliência — não apenas como uma necessidade para a sobrevivência, mas como uma forma de resistência. Você aprende a importância da dignidade, de manter sua identidade e de entender que, apesar das tentativas de fragmentar nossas comunidades, estamos unidos por uma história compartilhada e um futuro coletivo”, diz Omer.
O jornalista também refletiu sobre o tratamento que os palestinos recebem do regime sionista que, na sua avaliação, pode ser caracterizado como uma forma sistemática de opressão que combina elementos de genocídio, apartheid e massacre. “Não há outra maneira de explicar. Colonos sob a proteção do exército israelense que queimam vilas palestinas com pessoas dentro não podem ser explicados”, pontua. Para ele, cada um desses termos captura diferentes aspectos da brutal realidade imposta aos palestinos.
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“Quando o presidente Lula descreveu as ações de Israel como genocídio, ele destacou a destruição deliberada e sistemática de vidas, cultura e meios de sobrevivência palestinos. Os bombardeios repetidos em Gaza, juntamente com o bloqueio desumano, têm como objetivo quebrar o espírito de um povo inteiro, o que ecoa a intenção de genocídio. O termo apartheid também é adequado. Israel impõe um sistema legal duplo, onde os israelenses judeus gozam de privilégios enquanto os palestinos são submetidos à ocupação militar e discriminação. Esta segregação racial institucionalizada é a própria essência do apartheid. Quanto ao massacre, as campanhas militares repetidas contra Gaza, onde armamentos avançados são usados contra uma população indefesa, resultam em massacres de civis e na destruição de casas e infraestrutura — hoje falamos de mais de 50 mil palestinos em 11 meses que foram mortos e mais de 100 mil feridos — cada casa tem uma agonia e o mundo está assistindo. Isso não é apenas uma exibição de força desproporcional, mas um claro ato de punição coletiva. Em cada história de perda, há também uma história de resiliência, e é essa dualidade que molda a experiência palestina”.
Leia a entrevista na íntegra a seguir
Revista Fórum – Em seu primeiro livro lançado no Brasil, “Em Estado de Choque – Sobrevivendo em Gaza sob ataque israelense (Autonomia Literária, 2016)”, você descreve uma série de bombardeios e ataques a Gaza (2014) de uma maneira que coloca o leitor dentro daquela comunidade, ao mostrar os nomes e as histórias das pessoas, suas casas e rotinas interrompidas. Gostaria de começar perguntando como foi sua infância em Gaza, crescer em um lugar completamente destruído por uma potência colonial e estrangeira. Que tipo de coisas você aprendeu enfrentando essa realidade?
Mohammed Omer - Eu nasci e cresci em Gaza, onde passei minha infância e juventude, em uma família refugiada que foi forçada a fugir de Yibna, hoje ocupada por colonos israelenses que surgem todos os dias, mas não pelos palestinos. Onde quer que eu vá no mundo, essa conexão profunda com a experiência palestina, incluindo as tragédias que acometeram Gaza, viaja comigo. Meu entendimento e defesa da causa palestina estão enraizados em uma consciência histórica e cultural mais ampla, formada pelo sofrimento coletivo e resiliência do meu povo.
A destruição de Gaza, como de grande parte da Palestina, é emblemática do projeto colonial mais amplo que buscou deslocar e apagar nossa identidade palestina. Crescendo como palestino, você está ciente dos esforços persistentes para nos negar nossa terra, nossos direitos e nossa própria existência. A realidade do colonialismo nos ensina desde cedo sobre a importância da memória, da História e das histórias que nos ligam à nossa terra e uns aos outros. As histórias são importantes e devem ser passadas de uma geração para a outra — como você verá no meu próximo livro "Sobre os Prazeres de Viver em Gaza", que é o oposto total de "Em Estado de Choque".
No meu novo livro, aprende-se a resiliência — não apenas como uma necessidade para a sobrevivência, mas como uma forma de resistência. Você aprende a importância da dignidade, de manter sua identidade e de entender que, apesar das tentativas de fragmentar nossas comunidades, estamos unidos por uma história compartilhada e um futuro coletivo.
Para aqueles que sobrevivem aos bombardeios e aos constantes cercos contra Gaza, a experiência não é apenas de sobrevivência física, mas de manter uma identidade cultural e histórica diante de uma cumplicidade avassaladora. As histórias das pessoas — de famílias, de crianças, de bairros inteiros — não são apenas contos de sofrimento, mas de uma firmeza que se recusa a deixar que as forças do colonialismo ditem nosso destino.
Em cada história de perda, há também uma história de resiliência, e é essa dualidade que molda a experiência palestina. Aprendemos a resistir, não apenas com armas ou palavras, mas com o próprio ato de existir, de lembrar e de nos recusar a ser apagados. Esta, talvez, seja a lição mais profunda que se aprende ao enfrentar a realidade da vida sob ocupação.
Revista Fórum – Falando sobre os últimos 11 meses e essa nova série de ataques após 7 de outubro, como você passou por esses tempos? O que aconteceu com a sua vida?
Mohammed Omer - Os últimos 11 meses foram um período de angústia profunda e reflexão para todos que carregam a Palestina em seus corações. Embora eu não esteja fisicamente em Gaza ou na Cisjordânia, a dor do meu povo reverbera profundamente em mim, assim como em todos os palestinos na diáspora. Os eventos que se desenrolaram desde 7 de outubro representam mais um capítulo na longa e trágica história de nossa luta — uma luta contra a ocupação, a desapropriação e o ataque contínuo à nossa dignidade e humanidade.
Para mim, esses meses foram um tempo de tristeza intensa pela perda de entes queridos e familiares, mas também de renovado compromisso. É impossível separar minha vida do destino do meu povo; o sofrimento deles é meu sofrimento, a resiliência deles é minha resiliência. Em tempos como estes, o impacto emocional é incalculável. As imagens de destruição, as histórias de vidas destruídas e o conhecimento de que isso faz parte de uma tentativa deliberada e contínua de apagar nossa presença pesam muito em meu coração.
Mas esses tempos também reforçam a importância do meu trabalho e da minha voz. A causa palestina sempre foi mais do que uma luta nacional; é uma causa moral e ética, uma luta por justiça que ressoa com povos oprimidos em todos os lugares. Nestes momentos de escuridão, minha vida é consumida pela necessidade de articular a verdade da nossa situação, de combater as narrativas dominantes que buscam nos desumanizar e de advogar pelo reconhecimento de nossos direitos no cenário global.
Meu papel, e o papel de todos que apoiam a Palestina, é garantir que o mundo não se afaste — que a realidade do nosso sofrimento e a justiça da nossa causa não sejam ofuscadas pelas distorções e justificativas daqueles que nos oprimem. É um tempo de luto, mas também de ação. Cada palavra escrita, cada voz levantada em solidariedade, cada ato de resistência faz parte da luta maior para reivindicar nossa terra, nossos direitos e nosso futuro.
Revista Fórum – Muitas pessoas em países ocidentais acreditam que o Hamas seja uma organização terrorista, e essa visão também se espalha pelo Brasil. Acredito que essa não seja a melhor forma de descrever o Hamas, que vejo mais como um partido político do que como uma organização clandestina. O que é o Hamas na realidade? O que aconteceu na Palestina, especialmente em Gaza, onde Fatah e outras organizações aparentemente perderam influência?
Mohammed Omer - A maneira como o Hamas é percebido, especialmente no Ocidente, é frequentemente influenciada pelas narrativas políticas e midiáticas que dominam essas regiões. No entanto, para entender o Hamas, é necessário considerar o contexto mais amplo da resistência palestina e as circunstâncias históricas que deram origem à organização.
O Hamas, ou Movimento de Resistência Islâmica, foi fundado em 1987 durante a Primeira Intifada, uma revolta popular contra a ocupação israelense. Ele surgiu não apenas como um grupo de resistência armada, mas também como um movimento social e político. O Hamas tem uma base de apoio significativa dentro de Gaza e dos territórios palestinos mais amplos, em grande parte porque começou fornecendo serviços sociais essenciais, educação e saúde em áreas onde essa infraestrutura muitas vezes falta devido à ocupação em andamento.
A ideologia política do Hamas está enraizada em uma forma de nacionalismo islâmico, que o distingue de movimentos puramente religiosos. Embora o Hamas compartilhe alguns valores religiosos, é principalmente impulsionado pela luta de libertação nacional contra a ocupação israelense, em vez de uma agenda mais ampla de propagação de qualquer outra doutrina. Os objetivos do Hamas estão mais alinhados com a libertação da terra palestina e o estabelecimento de um estado palestino, em vez de uma agenda islâmica global.
O declínio da influência do Fatah e de outras organizações em Gaza pode ser atribuído a vários fatores. O Fatah, historicamente a força dominante na política palestina, enfrentou críticas por corrupção, ineficácia percebida [em melhorar a condição de vida dos palestinos] e sua condução das negociações de paz com Israel. Os Acordos de Oslo, que o Fatah apoiou, não levaram ao cumprimento das aspirações palestinas de um estado desde 1993, o que causou frustração entre os palestinos. Em contraste, o Hamas se posicionou como uma força mais intransigente contra a ocupação israelense, o que lhe rendeu um apoio significativo, especialmente em Gaza.
É importante entender que a política palestina é complexa e que a situação em Gaza reflete as dinâmicas mais amplas de ocupação, resistência e luta pela autodeterminação. Embora as táticas do Hamas, particularmente seu uso da violência, sejam controversas e condenadas por muitos, inclusive dentro da comunidade palestina, sua ascensão ao poder em Gaza reflete frustrações profundas com o status quo e a ocupação contínua.
O Hamas é tanto uma organização política quanto militar, e seu papel na luta palestina não pode ser reduzido a um rótulo simples. Compreender o Hamas requer entender o contexto histórico e político mais amplo em que opera, incluindo o fracasso de outras vias para alcançar as aspirações nacionais palestinas.
Revista Fórum – O que explica a "Tempestade de Al-Aqsa"? O Hamas estava tentando obter uma troca de prisioneiros com Israel?
Mohammed Omer - A "Tempestade de Al-Aqsa" foi uma operação militar de grande escala lançada pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 — embora esta data não marque o início de nada, apenas mais uma etapa da longa história de opressão e ocupação. As motivações por trás de tal operação são complexas e multifacetadas. É importante entender que o Hamas, como parte do movimento de resistência palestina mais amplo, muitas vezes age em resposta a provocações e injustiças contínuas enfrentadas pelos palestinos sob ocupação israelense, particularmente em relação a locais sensíveis como a Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.
Uma possível explicação para a operação pode estar relacionada ao aumento das tensões na Mesquita de Al-Aqsa e ao assédio aos prisioneiros palestinos, que vinham crescendo nas últimas semanas de setembro e ainda mais na primeira semana de outubro, quando as ações israelenses — como restrições aos fiéis palestinos e visitas de colonos israelenses — aumentaram a raiva e frustração entre os palestinos. Al-Aqsa é um símbolo da identidade nacional e religiosa palestina, e qualquer ameaça percebida a ela muitas vezes desencadeia resistência generalizada.
Embora o Hamas tenha usado ataques anteriormente para alcançar objetivos específicos, como negociar trocas de prisioneiros, é provável que a Tempestade de Al-Aqsa tenha tido objetivos mais amplos. Esses poderiam incluir desafiar a dominância militar israelense, enviar uma mensagem de desafio e afirmar o papel do Hamas como um jogador-chave na resistência palestina. Trocas de prisioneiros poderiam ter sido um resultado potencial, mas a escala da operação sugere que também se tratava de demonstrar capacidade militar e resiliência.
Revista Fórum – O que acontece agora após a morte de Haniyeh no Irã?
Mohammed Omer - Haniyeh foi uma figura central no Hamas e uma voz moderada de razão — se você observar quem vem depois dele na linha de liderança, especialmente após as divisões internas do movimento entre as facções de Gaza e da Cisjordânia. Seu assassinato leva a um período de instabilidade, onde uma nova liderança foi identificada como alguém que passou 24 anos em uma prisão israelense e é conhecido por ser linha-dura — isso é provavelmente o que Israel quer — eles não queriam Haniyeh, que estava se aproximando de aceitar uma solução de dois estados. Eu não prevejo nenhuma guerra regional como resultado deste assassinato. Afinal, Haniyeh é apenas mais um entre muitos ao longo da história do Fatah, Hamas e PFLP [Frente Popular para a Libertação da Palestina, na sigla em inglês] que foram assassinados, mas a história nunca termina aí.
Revista Fórum – Meses atrás, o presidente Lula qualificou os ataques de Israel a Gaza como genocídio. Reginaldo Nasser, um especialista brasileiro em Oriente Médio, costuma comparar a ocupação ao Apartheid, e as imagens nos mostram o que é um verdadeiro massacre. F-15s, bombas, soldados da IDF, fome, sede, falta de energia, assassinatos, chacinas, morte. Como você descreve o regime sionista e a rotina que ele impõe aos palestinos?
Mohammed Omer - O tratamento dos palestinos pelo regime sionista pode ser caracterizado como uma forma sistemática de opressão que combina elementos de genocídio, apartheid e massacre — não há outra maneira de explicar — colonos sob a proteção do exército israelense que queimam vilas palestinas com pessoas dentro não podem ser explicados. Cada termo captura diferentes aspectos da brutal realidade imposta aos palestinos.
Quando o presidente Lula descreveu as ações de Israel como genocídio, ele destacou a destruição deliberada e sistemática de vidas, cultura e meios de sobrevivência palestinos. Os bombardeios repetidos em Gaza, juntamente com o bloqueio desumano, têm como objetivo quebrar o espírito de um povo inteiro, o que ecoa a intenção de genocídio.
O termo apartheid também é adequado. Israel impõe um sistema legal duplo, onde os israelenses judeus gozam de privilégios enquanto os palestinos são submetidos à ocupação militar e discriminação. Esta segregação racial institucionalizada é a própria essência do apartheid.
Quanto ao massacre, as campanhas militares repetidas contra Gaza, onde armamentos avançados são usados contra uma população indefesa, resultam em massacres de civis e na destruição de casas e infraestrutura — hoje falamos de mais de 50 mil palestinos em 11 meses que foram mortos e mais de 100 mil feridos — cada casa tem uma agonia e o mundo está assistindo. Isso não é apenas uma exibição de força desproporcional, mas um claro ato de punição coletiva.
A rotina imposta pelo regime sionista aos palestinos é uma de desumanização implacável. É um projeto colonial que busca apagar a presença e a identidade palestina, impondo uma realidade diária de sobrevivência contra todas as probabilidades. Este é um sistema que deve ser reconhecido pelo que é — uma injustiça profunda que precisa ser desafiada e desmantelada em prol tanto dos palestinos quanto da região mais ampla.
Revista Fórum – Te surpreende saber que Israel também mata famílias e crianças na América Latina, especialmente nas favelas brasileiras, vendendo seus fuzis de guerra e metralhadoras para nossa Polícia Militar, que os usará em áreas pobres com alta densidade demográfica?
Mohammed Omer - É profundamente perturbador, embora não inteiramente surpreendente, saber que as armas israelenses, projetadas para a guerra contra os palestinos, também estão sendo usadas em países da América Latina, incluindo o Brasil, particularmente em favelas onde vivem comunidades marginalizadas. O comércio global de armas, no qual Israel é um jogador significativo, muitas vezes exporta não apenas armas, mas também as estratégias de opressão e controle que foram aperfeiçoadas no contexto do conflito israelense-palestino.
O que vemos aqui é um padrão preocupante: as tecnologias habilitadas por IA e as táticas desenvolvidas para manter uma ocupação militar e suprimir uma população estão sendo exportadas globalmente, onde são usadas em contextos semelhantes de desigualdade e opressão. No Brasil, como na Palestina, essas armas se tornam ferramentas de violência estatal contra os mais vulneráveis, perpetuando ciclos de pobreza, medo e desumanização.
Essa conexão entre o complexo militar-industrial israelense e a militarização das forças policiais na América Latina destaca a natureza global desses sistemas de violência. As mesmas ferramentas de opressão usadas contra os palestinos estão sendo reaproveitadas para controlar e reprimir comunidades pobres, muitas vezes racialmente marginalizadas, em países como o Brasil. Isso não deve apenas nos alarmar, mas também nos lembrar da interconexão das lutas por justiça e direitos humanos em todo o mundo.
O uso de armas israelenses em favelas é um lembrete claro de que a luta contra a militarização e a violência estatal não se limita a uma região. É uma questão global que exige uma resposta unificada. As vítimas, seja em Gaza ou no Rio de Janeiro, compartilham uma experiência comum de violência estatal patrocinada e desapropriação, e esse sofrimento compartilhado clama por solidariedade global na luta pela dignidade, justiça e direitos humanos.
Revista Fórum – Para encerrar, conte-nos mais sobre seu novo livro, como deveria ser a vida em Gaza sem esse massacre e a importância do Sul Global, especialmente do Brasil, em apoiar a Palestina. Muito obrigado.
Mohammed Omer - Obrigado pelas suas perguntas reflexivas. Ao refletir sobre meu trabalho e a luta contínua do povo palestino, percebo que minha escrita permanece profundamente conectada às experiências daqueles que vivem sob ocupação, particularmente em Gaza.
No meu novo livro, "Sobre os Prazeres de Viver em Gaza", busco transmitir as realidades cotidianas da vida em Gaza — não apenas o sofrimento, mas também a resiliência, a cultura e o profundo senso de comunidade que persiste apesar dos ataques contínuos. Gaza, como o resto da Palestina, não é apenas um lugar de tragédia; é um lugar de vida, de amor, de história e de um povo que se recusa a ser apagado e ignorado. Meu objetivo é humanizar a experiência palestina, mostrar ao mundo que por trás de cada estatística, há uma história, uma família e uma história que merece ser honrada e lembrada.
A vida em Gaza, sem a ameaça constante de massacre, poderia ser uma vida de criatividade extraordinária, produtividade e paz. O povo de Gaza, como todos os palestinos, tem o direito de viver com dignidade, de ter acesso à educação, saúde e oportunidades. Sem o cerco e os bombardeios, Gaza poderia florescer como um centro de cultura, inovação e resiliência palestina. O potencial do povo palestino foi sufocado por décadas de ocupação, mas permanece forte, esperando pelo dia em que possa ser plenamente realizado.
O papel do Sul Global, e particularmente do Brasil, é crucial nessa luta. Países como o Brasil, com suas próprias histórias de resistência e colonialismo, têm uma compreensão única da situação palestina — eu vi como os sindicatos são organizados na minha última turnê de palestras no Brasil — que nação grande e bela diversidade. A solidariedade demonstrada pelo Sul Global não é suficiente, mas as pequenas manchetes que recebemos nas redes sociais desafiam as narrativas dominantes que muitas vezes ignoram ou distorcem a experiência palestina. Ao apoiar a Palestina, essas nações não estão apenas apoiando uma causa justa, mas também afirmando sua própria agência em um sistema global que há muito tempo favorece os poderosos.
A voz do Brasil, como parte do Sul Global, é particularmente importante. Quando o Brasil e outras nações adotam uma posição de princípio contra a ocupação e pelos direitos palestinos, eles ajudam a mudar o discurso global, deixando claro que a luta pela justiça na Palestina é universal. Devemos lembrar que o apoio do Sul Global também é uma luta contra a opressão que não é limitada por fronteiras; é uma luta humana compartilhada.
Espero que meu livro e meu trabalho contribuam para essa conversa contínua e que ajudem a amplificar as vozes daqueles que continuam resistindo e sonhando com uma Palestina livre.