"Praticar esportes é um direito humano básico. Sim, temos a honra de competir. Mas não podemos ignorar a dura realidade que todos os palestinos enfrentam todos os dias." Assim a nadadora Valerie Tarazi, de 24 anos, começou sua fala na despedida da delegação palestina que deixou a Cisjordânia ocupada rumo a Paris, neste domingo (14), para a disputa dos Jogos Olímpicos.
Com nacionalidades estadunidense e palestina, Tarazi foi criada em Illinois e nada pela Universidade de Auburn. Mas nunca deixou de exibir orgulho pela sua ascendência palestina, usando sua bandeira ou o tradicional xale com suas cores. Kamel Tarazi, avô da atleta, nasceu e foi criado em Gaza, e migrou da Palestina para os EUA com seus irmãos. Ainda há membros da família nos Territórios Palestinos Ocupados e os Tarazi têm uma casa em Rafah.
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Nos Jogos Árabes de 2023, a nadadora ganhou medalhas de ouro nos 50 metros peito e 100 costas, além de medalhas de prata nos 50 metros borboleta, 100 e 200 peito e 50 costas. Ela é dona de 11 recordes nacionais palestinos, nove dos quais em provas individuais.
"Estamos entre os palestinos mais sortudos do mundo, temos a oportunidade de competir, mas esse direito foi tirado de nossas crianças, elas não têm o direito de praticar esportes", disse ela na cerimônia realizada na Cisjordânia. "Assisto ao noticiário e vejo pessoas nadando para receber pacotes do mar. Eu nado para competir, eles nadam para sobreviver."
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Ela também postou uma mensagem no Instagram sobre sua ida à Palestina para se integrar à delegação. "Uma rápida viagem para casa antes de competir. Essa viagem encheu meu coração de muita felicidade. Isso me lembra o quanto estou orgulhosa de ser palestina e a honra que é competir com a bandeira no meu boné", disse ela. "Para as pessoas mais graciosas, determinadas e obstinadas que conheço. Às pessoas que faleceram nestes tempos difíceis. Nossa presença nas Olimpíadas será pacífica e profunda. Estamos aqui para praticar esporte e levantar a bandeira. Eu te amo, Palestina. Vocês têm meu coração."
Dois palestinos na natação olímpica
No total, serão oito atletas representando a bandeira palestina em Paris 2024. Na natação, além de Tarazi, Yazan Al Bawwab vai disputar sua segunda edição de Jogos Olímpicos após ter ido também a Tóquio 2020.
"Ele é um refugiado. Sua família tinha uma propriedade onde ficava o Aeroporto de Tel Aviv", contou a nadadora sobre o colega em uma entrevista. "Eles foram expulsos para que pudessem construir o aeroporto. O pai dele foi para a Itália, e ele nasceu na Arábia Saudita, tem cidadania italiana, cidadania palestina e mora em Dubai."
Para o atleta, também de 24 anos, competir nas Olimpíadas não era apenas um motivo de orgulho pessoal, mas sua "maneira de usar o esporte como uma ferramenta" para "provar ao mundo que também somos humanos".
"Símbolos de resistência"
Os atletas palestinos vãos às Olimpíadas em um "momento muito sombrio da nossa história", segundo disse o ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, Varsen Aghabekian Shahin, na cerimônia de despedida da delegação.
"Vocês não são apenas atletas, vocês também são... símbolos da resistência palestina", acrescentou. "Queremos que essa participação seja uma mensagem dos palestinos para o mundo de que é hora de eles serem livres em sua terra natal."
Conforme dados da Autoridade Palestina, 400 atletas, treinadores e dirigentes esportivos em Gaza foram mortos ou feridos desde o início dos ataques israelenses em outubro do ano passado.
Uma das vítimas foi o corredor de longa distância Majed Abu Maraheel, o primeiro palestino a competir em uma edição de Jogos Olímpicos ao participar de Atlanta 1996. Ele morreu de insuficiência renal depois de não poder ser tratado em Gaza e não ter conseguido ir para o Egito.