Na sexta-feira, 12, enquanto Joe Biden era apresentado no ginásio de uma escola de Michigan como sendo o preferido de Detroit, do lado de fora manifestantes usavam outro epíteto para definir o presidente dos EUA: "Genocide Joe", ou o Zé do Genocídio.
Durante o comício, um manifestante pró-Gaza foi arrastado para fora do evento, mas a TV não mostrou.
A campanha de Biden controla a geração de imagens e a câmera ficou focada no rosto do presidente.
Do lado de fora, manifestantes pela causa palestina denunciaram o democrata, mas só a rede árabe Al Jazeera registrou: "Biden, por que você se livra enquanto seu chefe Bibi bombardeia tendas?", estava escrito em um cartaz.
Dearborn, sede da Ford em Michigan, é proporcionalmente a maior cidade árabe dos Estados Unidos.
O prefeito democrata, Abdullah Hammoud, participou do movimento que pretendia mandar uma mensagem ao ocupante da Casa Branca sobre o genocídio em Gaza.
Nas primárias do Partido Democrata, Biden teve 623.642 votos em Michigan, mas o "sem compromisso" ficou em segundo lugar, com 101.457 votos, mais de 13%.
A campanha obteve 48.162 votos "não instruídos" em Wisconsin (mais de 8% do total) e 45.914 votos "sem compromisso" em Minnesota (mais de 18%).
O movimento contabiliza mais de 700 mil votos nas primárias e elegeu mais de 30 delegados para a Convenção Nacional em Chicago, para a qual planeja uma série de manifestações.
MEIAS VERDADES
Nas suas mais recentes aparições públicas, Biden disse que Hamas e Israel aceitaram o plano de paz proposto por ele, que as negociações estão em andamento e defendeu o cessar-fogo em Gaza.
Na entrevista coletiva que deu no encerramento da cúpula da OTAN em Washington, afirmou:
Não estou fornecendo [a Israel] as bombas de 900 quilos. Não podem ser usados em Gaza ou em qualquer área povoada sem causar grandes tragédias e danos humanos.
De acordo com a agência Reuters, no entanto, nos nove meses anteriores a junho passado os EUA forneceram a Israel 14 mil bombas de 900 quilos -- além de 6.500 bombas de 250 quilos, 2.600 bombas de 115 quilos, 3 mil mísseis Hellfire e 1.000 bombas para atacar instalações subterrâneas.
Por isso, "Genocídio Joe" é o principal motor por trás das candidaturas à Casa Branca do independente Cornell West e de Jill Stein, do Partido Verde.
Stein disse, num debate recente:
A censura é um problema crescente, e a pior censura hoje recai sobre os críticos da guerra genocida de Israel em Gaza – no governo, nas redes sociais, nos campi e nas escolas de todo o país, e nos estados que forçam os cidadãos dos EUA a fazerem juramentos de lealdade a Israel.
Ela se refere aos estados que adotaram uma definição ampliada de antissemitismo, que está sendo promovida por um lobby de Israel.
No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro já adotaram a definição, vista por críticos como tentativa de calar quem denuncia a ocupação de território palestino e o risco de colonização de Gaza pelo governo de extrema-direita de Bibi Netanyahu.
POUCOS VOTOS, MAS DECISIVOS
Stein e West aparecem com 1% cada em várias pesquisas nacionais feitas nos EUA. É pouco, mas pode ser decisivo numa disputa apertada.
Em 2020, Biden venceu Trump em Michigan por 155.188 votos. Não é muito mais que os 100 mil votos de protesto contra Biden registrados este ano no estado.
A expectativa é de margens apertadas em 2024, como aconteceu em 2020.
Naquele ano, embora Biden tenha tido mais de 7 milhões de vantagem sobre Trump na eleição nacional, venceu por pequena diferença nos estados que definiram o pleito: 10.457 no Arizona, 12.670 na Geórgia, 33.596 em Nevada, 81.660 na Pensilvânia e 20.682 em Wisconsin.