HIPOCRISIA

Musk afinou com a ditadura da Arábia Saudita. Saiba o motivo

Nem uma palavra em defesa do tuiteiro que o reino condenou à morte.

Em verdinhas.Um príncipe saudita já derramou um caminhão de dinheiro nos negócios de Musk.Créditos: Reprodução Wikipedia
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Pelo padrões ocidentais que pretende defender, como campeão da "liberdade de expressão" e do suposto combate à censura, o bilionário Elon Musk parece ter amolecido com o governo da Arábia Saudita.

Trata-se de uma monarquia absolutista cujas eleições mais recentes, em 2014, a nível municipal, foram as primeiras em que mulheres puderam votar e ser votadas.

O pleito de 2019, para os mesmos conselhos locais, foi adiado.

Em agosto de 2023, meses depois de ter assumido o controle do Twitter, que rebatizou de X, Musk fez uma promessa na rede social de sua propriedade.

"Se você foi injustamente tratado por seu empregador por fazer alguma postagem ou dar um like nesta plataforma, pagaremos a conta de seu advogado. Sem limites."

Recebeu mais de 800 mil likes.

SAUDITA CONDENADO À MORTE

Porém, Musk logo começou a ser cobrado pelo seu silêncio sobre o caso de um tuiteiro da Arábia Saudita condenado à morte por supostas mensagens ofensivas às autoridades locais.

O diário britânico Independent destacou:

Em 10 de julho de 2023, um tribunal de contraterrorismo condenou Muhammad al-Ghamdi por criticar autoridades no Twitter e no YouTube, disse a Human Rights Watch. Preso em 11 de junho do ano passado, o professor aposentado de 54 anos foi mantido em confinamento solitário durante quatro meses antes de ser considerado culpado por “descrever o rei ou o príncipe herdeiro de uma forma que mina a religião ou a Justiça”.

A inação de Musk na Arábia Saudita logo foi explicada por Sarah Leah Whitson, diretora de uma ONG fundada pelo jornalista Jamal Khashoggi, assassinado por agentes sauditas num consulado do país na Turquia:

Ele [Musk] é dono de uma plataforma onde o segundo maior investidor é um país que literalmente mata e mutila os corpos de jornalistas, não devemos ficar exatamente chocados.

O PRÍNCIPE

Sarah se referia ao fato de o príncipe saudita Alwaleed Bin Talal Bin Abdulaziz Al Saud, financiado com dinheiro público, ter investido U$ 1,89 bilhão no Twitter logo depois de a empresa ter sido comprada por Musk.

Em 2024, o mesmo príncipe, através da Kingdom Holding Company, colocou bilhões de dólares na xAI, a companhia de Elon Musk que desenvolve projetos de Inteligência Artificial.

Musk jamais transformou a Arábia Saudita num exemplo para sua suposta campanha pela "liberdade de expressão" ou contra a "censura" no planeta.

Não fez de Mohammad al-Ghamdi um herói dos tuiteiros.

A Anistia Internacional, sem apoio de Musk, faz campanha para que a pena de morte do saudita seja revogada.

Philip Luther, que trabalha na divisão da entidade para o Oriente Médio e o Norte da África, registrou:

A sentença de morte contra Mohammad bin Nasser al-Ghamdi, que tem um total de apenas 10 seguidores em ambas as suas contas anônimas no Twitter -- e é acusado de nada mais do que expressar opiniões nas redes sociais -- é ridícula. É uma escalada acentuada na repressão do reino a qualquer forma de dissidência.