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Assassinato de Haniyeh no Irã: Israel quer "obrigar" EUA a intervir, diz especialista

Ação de Israel na posse do presidente do Irã busca barrar negociações de paz conduzidas pela China, convulsionar a região para atrair os EUA e garantir dinheiro para os planos sionistas contra palestinos, diz Renatho Costa

Ismail Haniyeh e o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian.Créditos: Agência Irna
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Autor dos livros “Os Aiatolás e o Receio da República Islâmica do Irã” e "Intrigas no Reino de Allah", este último em parceria com o sheik Rodrigo Jalloul, Renatho Costa, professor de  relações internacionais da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) afirma que o assassinato do chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque do governo sionista de Israel em Teerã, capital do irã, tem como objetivo "obrigar" os EUA a intervirem nos conflitos na região.

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Segundo o especialista, a "análise mais evidente" do ataque ocorrido durante a posse do novo presidente iraniano Masoud Pezeshkian é que o premiê israelense Benjamin Netanyahu não tem qualquer interesse em interromper os planos de dizimar os palestinos na região.

"Evidentemente que isso já vem sendo expresso verbalmente por diversas autoridades israelenses, mas um ato como esse, ratifica que a intenção dos israelenses é destruir a possibilidade de coexistências com os palestinos", afirmou à Fórum.

Costa, no entanto, afirma que como pano de fundo há a resistência dos sionistas nas negociações conduzidas pela China para acabar com os conflitos na região, colocando em xeque os planos expansionistas de Netanyahu sobre o território palestino e outros países do Oriente Médio.

"Ao assassinarem Hanniyeh no Irã pretendem, ao mesmo tempo, forçar os iranianos a revidarem ao ato e minarem as negociações que ocorreram na China, com os representantes palestinos. Ou seja, o governo chinês estava conseguindo se tornar o grande mediador da questão, o que faria com que o primeiro-ministro, Netanyahu, ficasse ainda mais marcado como o líder do genocídio que está ocorrendo em Gaza. Por outro lado, colocaria os Estados Unidos numa posição muito constrangedora, pois historicamente, quem 'patrocinava' esses processos de paz sempre foram os presidentes estadunidenses", explica.

Além da questão diplomática, Netanyahu precisa dos EUA para financiar os planos dos sionistas. Com a proximidade da eleição à Casa Branca e a crescente falta de credibilidade de Israel, que vem sendo cada dia mais condenado no cenário internacional pelo massacre em Gaza, o governo israelense tenta, então, tragar os estadunidenses para o conflito. 

"Claro que não se trata apenas de quem vai ser o avalista da proposta de paz, mas sim, quem vai viabilizá-la, e a China tem interesse em tirar a tensão da região, o que não é do interesse de Netanyahu, que pretende abrir diversas frentes de combate no Oriente Médio para que possa conseguir concluir o genocídio em Gaza, anexar o território e, na sequência, partir para a anexação da Cisjordânia. Mas para conseguir concluir seus planos, precisa de ajuda dos EUA, e, apoiar o genocídio palestino está ficando cada vez mais difícil para o presidente estadunidense, até mesmo para o que vier a ser eleito. Então, a saída para Netanyahu é fazer com que a região do Oriente Médio entre em convulsão e os EUA 'se sinta obrigado' a intervir", diz Costa.

"Com isso, Netanyahu continuará recebendo os recursos do Ocidente para a limpeza étnica e ainda poderá impor alguma derrota, ou enfraquecimento, aos seus adversários na região, como o Hezbollah e o Irã", emenda o professor da Unipampa.

Diante desse cenário, o novo governo iraniano, sob a presidência de Pezeshkian - que assumiu após a morte de Ebrahim Raisi em acidente de helicóptero em maio -, deve ponderar a resposta a Israel, embora a ação em meio à posse seja considerada inadmissível. Assim como o Hezbollah.

"Netanyahu está fazendo tudo para atrair o Hezbollah para a guerra – haja vista os ataques recentes aos subúrbios de Beirute – e agora esse assassinato de Hanniyeh em pleno Irã. Muito provavelmente o Hezbollah tomará alguma atitude, assim como os iranianos, mas não entendo que a reação será como o Estado de Israel espera. Ou seja, entendo que não tenhamos uma guerra generalizada na região, pois se os Estados Unidos resolverem entrar num conflito como esse, que decorre do genocídio em Gaza, muito provavelmente haverá apoio direito ou indireto de China e Rússia aos libaneses e iranianos, e, nesse cenário, as possibilidades de perder o controle da região é muito maior para os Estados Unidos que para os adversários", afirma Costa.

Para ele, o fim dos conflitos na região passam, necessariamente, pela saída de Netanyahu do poder em Israel, o que é improvável.

"A saída para evitar o acirramento da crise será a deposição de Netanyahu, mas não é algo que se apresenta nesse momento próximo, então, é provável que Irã e Hezbollah faça alguma ação muito pontual para revidar o assassinato de Hanniyeh", conclui.