O vice-presidente Geraldo Alckmin tem enfrentado críticas, principalmente de bolsonaristas e opositores do governo Lula, após ser visto ao lado do chefe político do Hamas, que foi morto em um ataque aéreo israelense no Irã na madrugada desta quarta-feira (31).
Alckmin compareceu, juntamente com autoridades de diversos países, à cerimônia de posse do novo presidente iraniano Masoud Pezeshkian, em Teerã. O evento ocorreu às 16h, horário local. Poucas horas depois, na madrugada, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, foi assassinado em um ataque aéreo contra uma residência de veteranos de guerra no norte da cidade.
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O fato de Alckmin estar no mesmo evento que uma liderança do Hamas no Irã foi usado por bolsonaristas para alegar que o governo Lula simpatiza com ditaduras, seria "amigo de terroristas" e até mesmo uma "vergonha internacional". No entanto, o evento reuniu autoridades de diversos países.
Segundo a mídia iraniana, o evento contou com a presença de 88 delegações estrangeiras e representantes de 22 países do Oriente Médio, Ásia, África, Europa e América Latina. Entre os presentes estavam Enrique Mora, chefe da diplomacia da União Europeia, e Manuel Marrero Cruz, primeiro-ministro de Cuba. Autoridades do Japão, Coreia do Sul e Índia também compareceram.
A viagem de Alckmin para a posse do novo presidente do Irã foi definida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 15 de julho, durante recepção ao presidente da Itália, Sergio Mattarella, no Palácio Itamaraty. O novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, que assumiu após a morte de Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero, é considerado moderado e reformista.
Relações Comerciais
Além da cerimônia de posse, Geraldo Alckmin viajou ao Irã para fortalecer os laços comerciais com o país. O Irã é um dos principais parceiros comerciais do Brasil no Oriente Médio, sendo o maior destino das exportações brasileiras na região. Em 2022, as exportações brasileiras para o Irã somaram cerca de US$ 2,5 bilhões, com destaque para produtos como milho, soja, carne bovina e açúcar.
Alckmin, além de vice-presidente, é ministro da Indústria, Comércio e Serviços. Em sua agenda no Irã, estão programadas reuniões com o Presidente da Câmara de Comércio, Indústrias, Minas e Agricultura do Irã, Samad Hassanzadeh, encontros com empresários locais e uma reunião com o presidente Masoud Pezeshkian.
No entanto, há expectativa de que essas agendas possam ser canceladas após o ataque israelense em Teerã. O governo brasileiro ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto.
O ataque
Ismail Haniyeh, chefe do grupo islâmico-palestino Hamas, foi assassinado no Irã na madrugada desta quarta-feira (30). Segundo o Hamas e a Guarda Revolucionária Iraniana, Haniyeh morreu em um ataque aéreo deflagrado por Israel em Teerã.
O líder do Hamas estava na capital iraniana para participar da cerimônia de posse do presidente do país, Masoud Pezeshkian. Haniyeh estava em uma residência de veteranos de guerra no norte de Teerã quando foi alvo do ataque. Além dele, um de seus guarda-costas também faleceu.
"A residência de Ismail Haniyeh, chefe do escritório político da Resistência Islâmica do Hamas, foi atingida em Teerã, resultando na morte dele e de um de seus guarda-costas", informou a Guarda Revolucionária do Irã em comunicado.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, prometeu retaliação ao ataque aéreo, que atribuiu a Israel. "O Irã defenderá sua integridade territorial, dignidade, honra e orgulho, e fará com que os ocupantes terroristas se arrependam de seu ato covarde", declarou Pezeshkian à imprensa local.
Musa Abu Marzuk, líder do escritório político do Hamas, afirmou que o grupo também reagirá ao ataque. "O assassinato do líder Ismail Haniyeh é um ato de covardia e não ficará impune", declarou.
Até o momento, o governo de Israel, que desde os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 prometeu capturar e matar Haniyeh, não se pronunciou sobre o ocorrido.
Quem era Ismail Haniyeh
Ismail Haniyeh era considerado a principal liderança do Hamas, chefiando o escritório político do grupo desde 2017, quando substituiu Khaled Meshaal. Ele foi primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina de 2006 a 2007, após a vitória do Hamas nas eleições parlamentares de 2006.
O Hamas é tanto uma organização política quanto um grupo armado, e Haniyeh era conhecido por sua liderança em ambas as esferas. Como chefe do escritório político, desempenhou um papel crucial na orientação das estratégias políticas e diplomáticas do grupo, especialmente em relação a Israel e a comunidade internacional.
Haniyeh foi uma figura controversa devido ao papel do Hamas em conflitos com Israel, incluindo operações militares e lançamentos de foguetes, além de sua rejeição ao reconhecimento de Israel como Estado. Ele também participou de negociações indiretas com Israel e outros países para buscar cessar-fogos e acordos de paz temporários.