DÚVIDAS

Trump dá tiros no pé e revela fragilidade em sua plataforma

Republicanos celebram, mas tema da "volta ao passado" pode prejudicar campanha

Beijos.A ex-primeira dama Melania não participou do beijo, que Trump também deu em um capacete.Créditos: Reprodução X
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Num discurso de mais de uma hora e meia no encerramento da Convenção Nacional Republicana em Wisconsin, o ex-presidente Donald Trump triunfou na forma, mas deu alguns tiros no próprio pé no conteúdo, quando se trata do eleitorado que vai julgá-lo em novembro.

O evento deixou claro que Trump assumiu totalmente o controle do Partido Republicano, deixando de fora da Convenção lideranças importantes -- 40 das 44 pessoas escolhidas por Trump para formar seu governo entre 2016 e 2020 não apoiam a reeleição do líder do MAGA, na contagem dos democratas.

Mesmo a imagem mais bizarra da noite, a de Trump beijando o capacete do ex-bombeiro Corey Comperatore, que foi morto pelo atirador no ataque que feriu o candidato, sábado passado, faz sentido quando se trata de estimular a própria base.

Como o voto não é obrigatório nos EUA, uma das principais tarefas de um candidato é mobilizar os eleitores para atuarem como cabos eleitorais.

TIROS NO PÉ

Os tiros no pé de Trump são, basicamente, as muitas mentiras que contou no discurso, que poderão facilmente ser desmentidas.

A crença da base trumpista em tudo o que diz o candidato não significa que os independentes, que decidirão a eleição, são tão fáceis de conquistar.

O republicano disse, por exemplo, que sua primeira decisão no governo será acabar com algo que não existe: a obrigatoriedade de produzir e comprar automóveis elétricos. Trata-se apenas de meta proposta por Biden: que as vendas de carros elétricos representem 50% do total de novos veículos em 2030.

Trump também mentiu quando disse que as taxas de criminalidade estão em queda em todo o mundo, dando como exemplo a Venezuela e El Salvador, mas só aumentam nos EUA.

Da mesma forma, não é verdade que o mundo estava em paz quando Trump governava os Estados Unidos -- basta citar a guerra na Síria -- e se tornou um inferno sob Joe Biden.

"FRAUDE" DO CLIMA

Em outro ponto chave do discurso, Trump voltou a dizer que permitirá exploração petrolífera em qualquer lugar do pais -- chamou o Green New Deal de "fraude":

Temos, de longe, mais ouro líquido sob nossos pés do que qualquer outro país. Somos uma nação que tem a oportunidade de fazer fortuna absoluta com sua energia. Nós temos isso e a China não.

Embora isso seja de agrado da indústria petrolífera, que apoia Trump de maneira maciça, dificilmente será um ativo com os eleitores indecisos, uma boa fatia dos quais testemunha pessoalmente as mudanças climáticas nos EUA.

O Projeto 2025, da Fundação Heritage, prevê o desmantelamento das agências do governo dos EUA que monitoram as tempestades, alegando que elas prejudicam o país ao promover uma -- na visão dos republicanos -- inexistente crise do clima.

O discurso de Trump vai reforçar o argumento dos democratas de que a verdadeira plataforma de Trump é o Projeto 2025.

O republicano ofereceu aos democratas a palavra de ordem de que ele representa a volta ao passado.

Trump não mencionou uma única vez a palavra aborto no discurso.

Trata-se da maior vulnerabilidade eleitoral dos republicanos, uma vez que as mulheres votarão majoritariamente nos democratas depois da decisão que anulou a histórica decisão Roe vs. Wade, que garantia o direito ao aborto, tomada por uma Suprema Corte para a qual Trump indicou três juizes.

Resta saber se os democratas terão um candidato suficientemente rápido de raciocínio para expor as fragilidades da plataforma do MAGA.