O poliovírus, causador da poliomielite, foi encontrado em amostras de esgoto de Gaza de acordo com testes realizados pelo Ministério da Saúde local em coordenação com a Unicef. Segundo o comunicado que divulgou a informação, a detecção "representa uma nova crise sanitária".
"A presença do poliovírus nas águas residuais que se acumulam e fluem entre as tendas dos campos de deslocados e nas áreas habitadas devido à destruição da infraestrutura marca um novo desastre de saúde", disse o Ministério de Gaza.
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O vírus também foi detectado em testes realizados pelo Ministério da Saúde israelense, que diz estar "monitorando e considerando as medidas necessárias para prevenir o risco de propagação de doenças em Israel". O governo planeja vacinar seus soldados contra a poliomielite, no entanto, nenhuma informação foi dada sobre os planos de fornecer vacinas aos palestinos em Gaza, segundo o Middle East Monitor.
O vírus causador da poliomelite coloca milhares de pessoas que vivem em campos de deslocados superlotados em risco de contrair uma doença altamente infecciosa que pode causar deformidades e paralisia.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a poliomielite afeta principalmente crianças com menos de cinco anos de idade. Uma em cada 200 infecções pelo vírus leva à paralisia irreversível, geralmente das pernas e, entre os acometidos, 5% a 10% morrem por paralisia dos músculos respiratórios.
Ressurgimento da poliomelite
Na cidade central de Gaza, Deir el-Balah, estações de tratamento de águas residuais foram fechadas por falta de combustível. Segundo autoridades locais, as estradas "serão inundadas por águas residuais" e 700 mil civis, a maioria deles pessoas que tiveram que sair de suas residências, correm o risco de contrair doenças transmitidas por esgoto.
A escalada de ataques do exército israelense a “poços de água, saneamento e tratamento de resíduos de água” e a obstrução da chegada de “suprimentos essenciais de higiene” para o local criaram um “ambiente adequado para a disseminação de diferentes doenças”, diz o jornalista Tareq Abu Azzoum, da Al Jazeera.
Também em entrevista ao veículo do Catar, a médica de terapia intensiva pediátrica Tanya Haj-Hassan afirmou que a presença do vírus no esgoto era uma “bomba-relógio”. “Normalmente, se você tem um caso de poliomielite, você vai isolá-los, vai garantir que eles usem um banheiro que ninguém mais usa, vai garantir que não estejam próximos de outras pessoas, [mas] isso é impossível”, ela disse.
“Todo mundo está aglomerado em campos de refugiados no momento, sem vacinas há pelo menos nove meses, incluindo crianças que, de outra forma, teriam sido vacinadas contra a poliomielite e adultos que, no cenário de um surto, deveriam receber um reforço, incluindo profissionais de saúde”, diz a médica.
O Ministério da Saúde de Gaza pediu a interrupção da ofensiva israelense para que água potável possa ser trazida e o tratamento de esgoto possa ser reiniciado.
A poliomielite é hoje a única emergência em saúde pública de importância internacional mantida pela OMS. Suas agências fazem campanha há quatro décadas para erradicar a doença, mesmo assim, houve um ressurgimento da poliomelite nos últimos anos no Afeganistão e no Paquistão, além de casos isolados na Nigéria. Em 2022, a doença foi confirmada em Moçambique e, no fim de 2021, também no Malawi.