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Trump 2.0 vai consagrar o nepotismo nos EUA

Rei Trump agora traz os dois filhos para a vanguarda da luta política

Tudo em família.Lara discursa, enquanto Trump tem atrás dele Kimberly, Don Jr. e Eric.Créditos: Reprodução de vídeo
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A Convenção Nacional Republicana demonstra que Donald Trump não está apenas sendo coroado rei de um partido que tomou de assalto.

Deixa entrever como um eventual segundo mandato será marcado pelo nepotismo.

Num vídeo gravado pelo filho Eric, nos bastidores do evento, Trump pergunta se o senador que escolheu para ser seu vice, JD Vance, está se saindo bem no X, mas especialmente em sua própria rede, a Truth Social.

A resposta é sim e os presentes, inclusive os familiares de Trump, se comportam como adoradores.

Os principais defensores da escolha de Vance -- Donald Trump Jr., Tucker Carlson e Steve Bannon -- argumentavam que o senador eleito por Ohio seria um homem leal ao movimento político da família, o Make America Great Again.

Fidelidade é o ativo mais importante no MAGA: Vance já afirmou que, se fosse o vice de Trump em 2020, não teria certificado a vitória do democrata Joe Biden, como fez Mike Pence, que pelo fato de ser vice acumulava a presidência do Senado.

Pence até hoje é considerado traidor por ter certificado a vitória de Biden. No dia do ataque ao Capitólio, uma forca foi exposta em praça pública para deixar isso claro.

PODER VISUAL

Quando Trump instalou a nora Lara, esposa do filho Eric, como co-presidente do Comitê Nacional Republicano, assumiu de fato o controle do partido. Foi ela quem cuidou da organização do evento que está acontecendo em Wisconsin.

Por isso a distribuição dos assentos ao lado de Trump é um claro sinal de quem tem poder nos círculos republicanos.

Lara Trump reservou para si mesma o principal discurso da noite de terça-feira, de 20 minutos, levando comentaristas a especular que ela pode compor futura chapa dos republicanos.

Além disso, ela e o marido tem aparecido na Convenção sentados logo atrás de Donald Trump, assim como Donald Trump Jr. e a noiva Kimberly Guilfoyle, a ex-primeira dama de São Francisco -- foi casada com o hoje governador democrata Gavin Newson.

Todos atuam na campanha do pai e sogro.

CONFLITO DE INTERESSES

Em seu primeiro mandato, Donald Trump deu grande poder à filha Ivanka e ao marido dela, Jared, dentro da Casa Branca.

Apesar da inexperiência, eles ficaram com portfólios importantes do governo, batalhando sempre contra a burocracia estatal com o argumento de que estava repleta de traidores.

Jared, filho de judeus ortodoxos, foi uma das vozes mais importantes na costura da aproximação entre Arábia Saudita e Israel, que só não resultou em reatamento das relações diplomáticas por conta do ataque do Hamas.

As viagens de Jared ao Oriente Médio proporcionaram a ele -- e à família Trump -- contatos políticos e diplomáticos que eventualmente podem resultar em bons negócios.

De acordo com a ONG Cidadãos por Responsabilidade e Ética em Washington (CREW), com base na análise de declarações públicas de imposto de renda, as empresas de Donald Trump faturaram U$ 160 milhões no Exterior enquanto ele cumpria o mandato:

A presidência de Trump foi marcada por conflitos de interesses sem precedentes, decorrentes da sua decisão de não desinvestir da Organização Trump, com os seus conflitos mais flagrantes envolvendo empresas em países estrangeiros com interesses na política externa dos EUA.

Enquanto o pai governava os EUA em Washington, os filhos Donald Jr. e Eric tocavam os negócios em Nova York.

Jared foi um dos líderes da fracassada campanha de reeleição. 

FILHOS EM PRIMEIRO PLANO

Ivanka e Jared não foram vistos até agora em Wisconsin, mas devem participar, assim como a ex-primeira dama Melania, na noite de quinta-feira, 18.

Agora são os filhos Donald Jr. e Eric que assumem o protagonismo, com suas parceiras.

Ambos ganharam espaço para discursar na Convenção.

O primogênito, que conseguiu emplacar o vice de sua preferência na chapa do pai, já disse, numa entrevista ao New York Post, que vai atuar na transição, se Donald Trump for eleito:

Farei isso para evitar que ratos do pântano, criaturas do pântano [de Washington] se enfiem no governo.

Desde que venceu a corrida entre republicanos para se tornar o candidato do partido e ganhou de forma inesperada a disputa pela Casa Branca, em 2016, Donald Trump fez centenas de inimigos poderosos no establishment político, mas até agora foi bem sucedido ao esmagá-los.

As lideranças que restam, como as do governador da Flórida Ron de Santis e da ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, se renderam ao poder do movimento MAGA e à capacidade de arrecadar dinheiro de Trump, bem como aos seus métodos vingativos.

Se Donald for bem sucedido em novembro os EUA vão experimentar um nepotismo turbinado, mesmo que a família Trump opte por não ocupar formalmente cargos no governo.