O Produto Interno Bruto (PIB) da Guiana é o que mais cresceu no mundo no ano de 2023, a uma taxa de 33% de crescimento em comparação a 2022, ano em que o país cresceu mais de 60%.
Em dois anos, a economia do país conseguiu dobrar de tamanho. É algo poucas vezes visto na história da humanidade. E o motor deste crescimento é o petróleo.
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A Guiana é um país pequeno que possui pouquíssima infraestrutura. É habitada por indígenas, alguns brancos descendentes dos colonos britânicos e uma grande quantidade de descendentes de indianos e paquistaneses vindos durante o período colonial para o país.
Um petroestado da Exxon
Com população pequeno, o país que mais cresce no mundo alcança dados surpreendentes na economia. Mas para onde está indo o dinheiro do petróleo da Guiana?
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Não é necessariamente para o estado, que recebe parcialmente apenas os royalties da extração. O dinheiro está nas mãos da Exxon, empresa de petróleo dos EUA.
A quantidade de ativos da Exxon (320 bi de dólares) é vinte vezes maior do que o da Guiana. E a empresa é praticamente a única exploradora do petróleo do país.
A Guiana tentará replicar o modelo de crescimento de Trinidad e Tobago, que conseguiu crescer, se industrializar e manter uma estabilidade política com os royalties do petróleo que a Shell começou a tirar de sua costa nos anos 1913.
A ideia é transformar o país em um petroestado, com desenvolvimento guiado pelos royalties do petróleo, assim como Catar, Arábia Saudita, Bahrein, Kuwait e Emirados Árabes Unidos. Mas quem verdadeiramente vai lucrar nesta historia são os empresários da Exxon.
Ao contrário dos petroestados árabes, a Guiana possui uma democracia relativamente qualitativa e o atual presidente, Irfaan Ali, está à esquerda no espectro político.
A Exxon, contudo, não carrega uma boa reputação no que se refere ao seu histórico de direitos humanos e meio ambiente. Resta saber se, na Guiana, a empresa irá respeitar as decisões do governo e não entrar na sanha de mudança de regimes, típica em países que não controlam sua própria produção petrolífera.
O que pesa contra a ExxonMobil?
A Exxon Mobil é acusada de violações dos direitos humanos no campo de gás de Aceh, Indonésia, no final da década de 1990 e início dos anos 2000.
A empresa contratou unidades militares indonésias para proteger seu campo de gás em Arun, e alega-se que essas unidades cometeram abusos, incluindo tortura, assassinato, estupro e genocídio contra os povos que habitavam a região.
Em 2001, onze moradores indonésios afetados por essa violência entraram com um processo contra a Exxon Mobil nos EUA, alegando que a empresa era responsável pelos abusos cometidos pelas forças de segurança que ela havia contratado.
Após mais de 20 anos de litígio, em julho de 2022, um tribunal distrital dos EUA negou as tentativas da ExxonMobil de encerrar o caso, permitindo que o processo fosse a julgamento, embora nenhuma data de julgamento tenha sido marcada.
Mas não acaba por aí: a empresa também possui acusações de violações aos direitos humanos no Equador, Peru e Colômbia, em especial por violência contra povos indígenas que eram contra a extração de recursos naturais em seus espaços de vivência.
Os povos indígenas do Alaska também já moveram ações contra a corporação pelos seus crimes contra o meio ambiente, notoriamente a etnia Kivalina.
A Exxon foi uma das grandes beneficiárias da Guerra do Iraque, em especial por avançar com suas produções de petróleo em Rumaila e em Qurna após a queda do governo de Saddam.
Mais de 1 milhão de civis morreram em decorrência da Guerra do Iraque e a Exxon foi uma das grandes beneficiadas pelas operações militares dos EUA no Oriente Médio.
Sinais negativos para o novo petroestado
Na Guiana, a ExxonMobil já tem um histórico de problemas. Primeiramente, o governo guianense já perdeu bilhões em isenções de imposto para beneficiar a Exxon em seus investimentos.
A empresa também é acusada de violar licenças ambientais na produção do campo de Payara, também na Guiana, e tem sido criticada pelos povos indígenas Arawak do país pelos riscos que a extração de petróleo podem causar ao país.
De acordo com o jornal guianense Kaieteur, o Relatório do Fundo de Recursos Naturais (NRF) do país mostra que, em 2022, o bloco Stabroek gerou US$ 9,8 bilhões de receita, no entanto, a Exxon deduziu US$ 7,4 bilhões, deixando a Guiana com apenas US$ 1,4 bilhão incluindo lucros e royalties durante o período. Ou seja: quem lucra de verdade com a extração de petróleo do país são os norte-americanos e seus acionistas, não os guianeses.