Depois de uma dura mensagem de fim de ano, em que disse que os venezuelanos não temem os britânicos, o presidente da Venezuela Nicolas Maduro acusou seu homólogo da Guiana, Irfaan Ali, de "zombar" do presidente Lula, do Mercado Comum e Comunidade do Caribe (Caricom) e da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Maduro se referia ao fato de a Guiana ter aceito receber em suas águas territoriais o navio britânico Sua Majestade Trent, para participar de manobras com forças locais. O Trent é um navio patrulha de 90 metros, duas toneladas, armado com um canhão e algumas metralhadoras.
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Embora não tenha grande poder ofensivo, o envio de uma navio britânico a uma ex-colônia faz lembrar a guerra das Malvinas, em 1982, quando o Reino Unido despachou uma armada para desalojar tropas argentinas que haviam invadido as ilhas que britânicos chamam de Falklands e Georgia do Sul.
Estamos passando por um momento de turbulência. Porque a Guiana não age como a República Cooperativa da Guiana, a Guiana age como a “Guiana Britânica”, aceitando que um navio de guerra se dirija às suas costas e a partir das suas costas ameace a Venezuela.
No dia 14 de dezembro, Maduro e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, se encontraram em São Vicente e Granadinas, no Caribe, em reunião que a diplomacia brasileira ajudou a organizar. O assessor especial do presidente Lula, Celso Amorim, esteve presente.
Apesar do gesto diplomático, a Guiana manteve sua posição de que a questão da Guiana Essequibo será decidida pela Corte Internacional de Justiça. A Venezuela remete o caso ao Acordo de Genebra, de 1966, ano em que a independência da Guiana foi formalizada. Pelo acordo, os dois vizinhos chegariam a um acordo negociando diretamente.
O PODER DA EXXON MOBIL
A Guiana Essequibo tem um território pouco maior que o do Acre e uma população de 120 mil pessoas. Corresponde a dois terços da Guiana.
Em 2 de dezembro, na Venezuela, 95% dos eleitores concordaram em incorporá-la como um estado venezuelano, garantindo cidadania aos seus moradores.
A oposição a Nicolas Maduro, que vai tentar afastá-lo do poder em eleições previstas para 2024, concorda com a reivindicação histórica sobre o território.
A região de Essequibo é rica em minério, especialmente ouro.
Mas o que desatou de vez a disputa foram as descobertas de petróleo e gás feitas pela multinacional Exxon Mobil num bloco de exploração de nome Stabroek, que avança sobre mar territorial em disputa.
A Guiana, de apenas 800 mil habitantes, é vista como uma futura Dubai na América do Sul.
A Exxon Mobil informa em seu site que começou a atuar na Guiana em 2008, que fez as primeiras descobertas em 2015 e que começou a exploração em 2019.
A previsão é de que o país produza 1,2 milhão de barris diários até 2028.
De acordo com um relatório da British Petroleum, a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo provadas do planeta, cerca de 300 bilhões de barris.
Porém, boa parte é de petróleo pesado da chamada faixa do Orinoco, mais caro para refinar.
Além disso, a província petrolífera da Venezuela no Orinoco avança e chega ao mar territorial em disputa com a Guiana.
As reservas guianeses são especialmente importantes para os Estados Unidos.
Washington está tentando deslocar sua dependência do petróleo do Oriente Médio, que custa muito caro por conta do investimento militar, para regiões mais pacíficas, como a África e a América do Sul.
O pré-sal brasileiro, maior descoberta dos últimos 50 anos, já foi dominado: 60% de todas as exportações de petróleo cru do Brasil são feitas por empresas transnacionais, especialmente a anglo-britânica Shell.
Com o governo Biden envolvido em negociações com a Venezuela, submetido a quase mil sanções distintas do Ocidente, a presunção é de que o Reino Unido esteja agindo por procuração, para não comprometer Washington.
Além de apoiar a oposição venezuelana nas eleições deste ano, o governo Biden conta com o petróleo da PDVSA para aliviar a redução da energia da Rússia no mercado.
Na mesma entrevista, Nicolas Maduro disse que espera que a Venezuela complete sua adesão aos BRICs na próxima reunião de cúpula do grupo, em Moscou.
Ele atacou abertamente o presidente da Argentina, Javier Milei, que desistiu de aderir ao grupo, o que havia sido negociado pelo Brasil.
O passo de Javier Milei é para levar a Argentina ao século 19. O projeto Milei é uma construção [do Ocidente] para colocar suas garras na Argentina, tirá-la do mundo multipolar, transformá-la em vassalo do mundo imperial unipolar, e transformá-la numa nova colônia da América do Sul, destruir o Estado, destruir a sua economia, destruir a sua identidade; e o passo que ele deu para tirar a Argentina dessa enormidade que é o BRICs é uma das coisas mais imbecis que Milei fez contra a Argentina.
Veja detalhes da fala de Maduro e das repercussões militares no programa Fórum Global desta terça-feira, 2 de dezembro: