DEFESA HISTÓRICA

O dia em que Lula peitou os EUA e defendeu Assange na ONU, em pleno solo americano

Presidente brasileiro é um dos poucos chefes de Estado do mundo que sempre se posicionou publicamente em favor do jornalista fundador do WikiLeaks

Lula já pediu liberdade de Assange na Assembleia da ONU em Nova York.Créditos: Ricardo Stuckert/Wikileaks
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou nesta terça-feira (25), em publicação nas redes sociais, a liberdade de Julian Assange, jornalista fundador do WikiLeaks, que deixou a prisão em Londres, no Reino Unido, após 1.901 dias preso. A libertação do homem que expôs crimes de guerra dos Estados Unidos foi possível graças a um acordo com a Justiça norte-americana.

"O mundo está um pouco melhor e menos injusto hoje. Julian Assange está livre depois de 1.901 dias preso. Sua libertação e retorno para casa, ainda que tardiamente, representam uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa", escreveu o presidente.

Esta não é a primeira vez que Lula se pronuncia publicamente em defesa de Julian Assange. O presidente brasileiro é um dos poucos chefes de Estado do mundo que historicamente apoia a causa do fundador do WikiLeaks de forma pública e já se reuniu com o pai de Assange em mais de uma ocasião.

Em setembro de 2023, por exemplo, Lula desafiou os Estados Unidos, país que condenou Assange à prisão, ao utilizar seu discurso na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, para pedir a liberdade do jornalista. Ao abordar o tema, foi aplaudido pelas delegações presentes no evento.

"É fundamental preservar a liberdade de imprensa. Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima", declarou à época.

Na ocasião do discurso de Lula na ONU, Assange estava preso no Reino Unido após a Suprema Corte do país ter negado o direito de apelar da decisão que aprovava sua extradição aos EUA.

Em entrevista à Fórum, Giorgio Romano Schutte, especialista em Relações Internacionais que compõe o Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil da Universidade Federal do ABC (OPEB/UFABC), avaliou que a parte mais ousada do discurso de Lula na ONU foi justamente a menção a Assange, em pleno território do país que reivindicava a prisão do jornalista.

"Talvez a coisa mais ousada, que também ganhou aplausos, foi quando ele [Lula], nos Estados Unidos, estando em Nova York na ONU, mas no território dos Estados Unidos, falou da liberdade de imprensa e mencionou especificamente Assange. Ele já tinha feito isso, a defesa do Assange, em Londres. Talvez seja forte, porque é uma ferida dos Estados Unidos", analisou Giorgio Romano.

À época, a página oficial do WikiLeaks, organização fundada por Assange, celebrou o fato de Lula ter defendido o jornalista e divulgou nas redes sociais o trecho da fala do presidente brasileiro.

Defesa de Assange também no Reino Unido 

Em maio de 2023, Lula já havia defendido Julian Assange em outro território "hostil": o Reino Unido, onde o jornalista estava preso. O presidente brasileiro estava no país para a coroação do Rei Charles III e, em coletiva de imprensa, disse que é “uma vergonha” a manutenção da prisão do fundador do WikiLeaks. 

“É uma vergonha que um jornalista que denunciou as falcatruas de um Estado contra os outros esteja preso, condenado a morrer na cadeia, e a gente não fazer nada para libertar”, disse

“Eu já mandei carta pro Assange, já escrevi artigos, mas eu acho que é preciso um movimento da imprensa mundial na defesa dele, não na defesa dele enquanto pessoa, mas na defesa da liberdade de denunciar”, acrescentou. 

Quem é Julian Assange 

Julian Assange é um jornalista investigativo australiano e ganhou fama mundial ao fundar, em 2006, o grupo de ativistas WikiLeaks. A organização se destacou pela divulgação de aproximadamente 700 mil documentos confidenciais e militares dos Estados Unidos, com o objetivo de promover a transparência e responsabilizar o governo norte-americano por atos violentos e violações dos direitos humanos.

O WikiLeaks atingiu seu ápice em 2010, quando publicou uma série de documentos confidenciais vazados pela analista de inteligência Chelsea Manning. Entre os documentos divulgados estavam telegramas diplomáticos, registros de guerra e vídeos revelando atrocidades militares. Essas revelações causaram um grande impacto mundial. 

A repercussão global das divulgações colocou Assange sob intensa pressão e várias acusações, incluindo espionagem e conspiração. Em 2012, buscando evitar a extradição para os Estados Unidos após uma ordem de prisão emitida pela justiça norte-americana, Assange se refugiou na embaixada do Equador em Londres, onde permaneceu por sete anos. Em 2019, após o Equador revogar seu asilo, Assange foi preso pelas autoridades britânicas.

Ao longo dos anos em que Assange ficou preso, surgiram uma série de denúncias de que o jornalista estaria sofrendo tortura e correndo risco de vida.