Nunca, na História eleitoral dos Estados Unidos, dois políticos debateram antes mesmo de serem indicados oficialmente como candidatos de seus partidos à Casa Branca.
O fato de que os assessores de Joe Biden e Donald Trump aceitaram o confronto do próximo dia 27, organizado pela rede CNN, significa que ambos esperam alterar a rota da campanha de 2024 de maneira significativa.
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Presidentes de um mandato só são uma raridade nos Estados Unidos.
Antes de Donald Trump, em tempos modernos isso só aconteceu com George Bush pai e Jimmy Carter, ambos abalados por uma derrocada econômica.
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Biden, no entanto, tem o que mostrar ao eleitorado do ponto-de-vista da economia. O desemprego no país está em 4% e a renda das famílias cresceu 4,1% nos últimos 12 meses, acima da inflação de 3,4%
Ainda assim, sua pré-campanha de reeleição não decola devido às dúvidas do eleitorado sobre a saúde mental do ocupante da Casa Branca.
Na reunião do G7, na Itália, e em seguida em uma jantar de arrecadação de campanha, na Califórnia, imagens sugerem que Biden "congelou" por alguns segundos, sendo resgatado respectivamente pela primeira dama Jill e pelo ex-presidente Barack Obama.
As imagens de Biden "no vazio", supostamente enxergando fantasmas, tem viralizado.
A Convenção Nacional Republicana, que deve indicar Trump candidato, só acontece de 15 a 18 de julho. Biden, por sua vez, só se tornará candidato à reeleição oficialmente no dia 22 de agosto.
TORRANDO DINHEIRO
Raramente uma campanha gastou tanto dinheiro tão cedo quanto a de Biden: 50 milhões de dólares em anúncios em junho nos chamados estados pêndulo, o mais recente deles acusando Trump de ser um criminoso condenado.
As pesquisas mais recentes pintam um quadro assombroso para Biden: em Iowa, segundo levantamento bancado pelo principal diário local, o Des Moines Register, Trump tem 50% a 32%.
O desgosto de uma fatia do eleitorado com os dois candidatos abre espaço para outras opções, que aparecem com 15% (Robert F. Kennedy Jr. com 9%).
Além de perder votos dos jovens por causa de sua política em Gaza, Biden também vai mal com os eleitores negros.
Uma pesquisa entre eleitores negros em dois estados-chave, Pensilvânia e Michigan, indica que eles estão abandonando Biden mas não em direção a Trump: escolhem o ativista negro Cornel West e Kennedy Jr. como alternativas (ambos somam de 15% a 16% das preferências nos dois estados).
Isso é uma péssima notícia para Biden, que teve 92% dos votos dos eleitores negros na Pensilvânia e em Michigan em 2020, de acordo com pesquisas de boca-de-urna.
Em resumo, o atual ocupante da Casa Branca tem dificuldades para manter a coalizão que o levou a derrotar Trump, composta pelo voto feminino, dos jovens, negros e hispânicos.
Por isso, crescem as especulações de que o debate com Trump será um teste para a acuidade mental de Biden.
KAMALA NÃO É ALTERNATIVA
Não há chance de o atual presidente ser afastado da nomeação, a não ser que desista de concorrer.
Neste caso, a vice-presidente Kamala Harris não teria nenhuma vantagem na Convenção Democrata, a quem caberia indicar um novo candidato.
Harris, aliás, na pesquisa com eleitores negros da Pensilvânia e de Michigan apareceu com menos aprovação que o próprio Biden.
O presidente tem recorrido crescentemente ao poder de convencimento que Barack Obama mantém junto ao eleitorado.
Além de aconselhar seu antigo vice, Obama tem uma notável capacidade de arrecadar dinheiro de campanha.
O jovem governador da Califórnia, Gavin Newson, encabeça todas as listas de possíveis substitutos de Biden.
Porém, até agora isso está no campo da especulação.
A não ser que, no dia 27, Biden tenha uma aparição desastrosa diante de Trump, como a que Richard Nixon teve diante de John Kennedy em 1960.
Naquela ocasião, a maquiagem de Nixon derreteu diante dos refletores, deixando o candidato com aparência sombria.
Desta feita, um lapso mental grave de Biden poderá cristalizar na opinião pública a ideia de que ele não tem condições físicas de governar por mais quatro anos.
Numa pesquisa feita de 5 a 7 de junho e divulgada pela rede CBS, 65% dos eleitores registrados disseram que Biden não tem capacidade mental e cognitiva para governar. 50% disseram o mesmo sobre Trump.
Chama atenção que 29% dos eleitores democratas concordaram com a afirmação.