TRANSIÇÃO GLOBAL

Lula alfineta Musk, pede taxação de bilionários e prega nova governança global em discurso histórico

Ovacionado no Fórum Inaugural da Coalizão Global para a Justiça Social em Genebra, Lula se emocionou e mostrou indignação com as 3 mil pessoas que detêm 15 trilhões de dólares no mundo. Assista

Lula no Fórum Inaugural da Coalizão Global para a Justiça Social em Genebra.Créditos: Youtube / Reprodução
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Ovacionado em discurso histórico como orador principal Fórum Inaugural da Coalizão Global para a Justiça Social em Genebra, na Suíça, nesta quinta-feira (13), Luiz Inácio Lula da Silva alfinetou o bilionário Elon Musk ao defender a taxação das grandes fortunas e a mudança no sistema de governança global.

Copresidida por Lula e pelo diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Gilbert Houngbo, a Coalizão é uma iniciativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que busca coordenar esforços para o enfrentamento das desigualdades sociais.

Logo no início do discurso, de quase meia hora, o presidente brasileiro se emocionou, dando o tom do que viria.

“Retorno à OIT com esperança renovada na atuação conjunta de governos, trabalhadores e empregadores para superar tempos adversos. Não foram poucas as vezes em que o mundo voltou seus olhos para a OIT em busca de soluções ao longo de seus 100 anos de história”, afirmou.

Em seguida, Lula afirmou que só retornou à Presidência por causa da democracia que, segundo ele, está em risco diante do crescimento da extrema-direita no mundo.

“A democracia e a participação social são essenciais para a conquista de direitos trabalhistas. Sem a democracia, um torneiro mecânico jamais teria chegado à Presidência da República de um país como o Brasil. Ataques à democracia historicamente implicaram a perda de direitos”, afirmou.

“O extremismo político ataca e silencia minorias, negligencia os mais vulneráveis e vende muita ilusão. A negação da política deixa um vácuo a ser preenchido por aventureiros que espalham mentiras e ódio. A contestação da ordem vigente não pode ser privilégio da extrema direita. A bandeira anti-hegemônica precisa ser recuperada pelos setores populares, progressistas e democráticos. Recuperar o papel do Estado como planejador do desenvolvimento é uma tareja urgente”.

Em seguida, Lula inicia uma série de críticas à “mão invisível do mercado” e à acumulação de renda diante da luta contra as desigualdades e divulgou a iniciativa brasileira para a taxação das grandes fortunas.

“Nossa iniciativa prioritária, a aliança global contra a fome e a pobreza, busca acelerar os esforços para eliminar essa chaga. O Brasil está impulsionando a proposta de taxação dos super-ricos no debate do G-20”, afirmou.

O presidente brasileiro então citou o aumento do fosso da desigualdade, com 3 mil bilionários que detêm quase 15 trilhões de dólares, e alfinetou o dono da Rede X, Elon Musk, que está no topo da lista.

“Vou repetir: estou falando de 3 mil pessoas que têm fortuna de 15 trilhões de dólares. Isso representa a soma do PIB do Japão, da Alemanha, da Índia e do Reino Unido. É mais do que se estima ser necessário para os países em desenvolvimento lidarem com as mudanças climáticas”, afirmou.

Lula, então, disparou contra Musk, que por meio da SpaceX, tem um projeto para buscar vida fora do planeta Terra.

“A concentração de renda é tão absurda que alguns indivíduos possuem seus próprios programas espaciais. Certamente tentando encontrar um planeta melhor do que a Terra para não ficar no meio dos trabalhadores, que são responsáveis pela riqueza deles”, afirmou Lula, arrancando aplausos efusivos da plateia.

“Não precisamos buscar saída em Marte. É a Terra que precisa de nosso cuidado. Ela é a nossa casa, ela é o nosso mundo”, emendou, lembrando das tragédias climáticas, citando as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia.

Lula ainda defendeu uma nova governança global com a participação de países periféricos nas decisões centrais sobre o planeta.

“A coalizão global que estamos lançando hoje será uma ferramenta central para construir uma transição com justiça social, trabalho decente e erradicação da pobreza. E isso será particularmente importante no contexto de transição para uma ordem multipolar, que exigirá mudanças profundas nas instituições”, afirmou.

“Por isso, o Brasil vai trabalhar pela ratificação da emenda de 1986 na Constituição da OIT, que propõe eliminar os assentos dos países mais industrializados no Conselho da organização”, emendou Lula, sendo novamente ovacionado.

Assista ao discurso na íntegra.