Estudantes da Universidade de Columbia acordaram toda uma região de Manhattan ao promover uma tradição anual da escola do lado de fora do prédio onde mora a presidente Minouche Shafik.
O "grito primordial" é dado anualmente pelos universitários antes das provas de encerramento do semestre. Eles se reúnem dentro do campus.
Te podría interesar
É uma forma de desabafar diante das dificuldades da vida escolar.
Tradição similar ao chamado Dia do Pendura no Brasil, em 11 de agosto, quando estudantes de Direito bebem sem pagar a conta.
Desta vez, no entanto, dezenas de estudantes da Columbia foram até o prédio onde mora Minouche Shafik, numa área chique de Manhattan, no Upper West Side, e gritaram durante quase 45 minutos, a partir da meia-noite desta sexta-feira.
Em um dos slogans, chamaram a presidente da escola de "fascista".
CHAMOU A POLÍCIA
Shafik cedeu a pressões de políticos e convocou a polícia de Nova York a desocupar um prédio e desmontar o acampamento pró-Gaza montado num dos gramados internos do campus.
O prefeito de Nova York, um ex-policial negro do Partido Democrata, Eric Adams, atendeu.
Mais de 100 estudantes foram presos na ação, que aconteceu distante das câmeras de fotógrafos e repórteres cinematográficos.
Desde o início dos acampamentos pró-Gaza, cerca de 1.300 universitários já foram presos em dezenas de campus dos Estados Unidos.
O movimento se espalhou, da França ao Japão.
O professor Rashid Khalidi, que ocupa a cadeira Edward Said de estudos árabes modernos, fez um dos discursos mais compartilhados até agora pelos estudantes nas redes sociais.
Ele disse que os professores e funcionários da Columbia apoiam os protestos e lembrou que, quando participou como estudante das manifestações contra a guerra do Vietnã, a partir de 1968, também havia acusações de que os universitários eram manipulados por gente de fora.
Khalidi afirmou que os alunos estão "do lado certo da História" e que eventualmente serão celebrados pela universidade, que hoje comemora os alunos que lutaram pelos Direitos Civis e contra a guerra do Vietnã nos anos 60.
Khalidi criticou a mídia, que majoritariamente tem contribuído com a criminalização do movimento estudantil, ao dar destaque a episódios isolados para caracterizar os universitários como antissemitas e radicais.
Alunos e professores judeus da Columbia já se manifestaram em apoio à causa palestina.
Nas redes sociais, o movimento estadunidense recebeu solidariedade de estudantes de Cuba e de alunos do ensino fundamental da Cisjordânia.
O LOBBY CONTRA-ATACA
O lobby de Israel promoveu uma ofensiva contra o movimento através de políticos eleitos com financiamento do AIPAC (American Israel Public Affairs Committee) e outros grupos.
É que os estudantes estão levando adiante o movimento BDS, que prega boicote, desinvestimento e sanções contra Israel, na mesma linha do que o mundo fez contra a África do Sul racista.
O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, fez mais um discurso incendiário, dizendo que agora sabe que o Hamas não se esconde apenas em Gaza, mas também em Harvard e na Columbia.
O lobby de Israel conseguiu uma vitória quando a Câmara estadunidense aprovou uma definição alargada de antissemitismo, que pode sujeitar a punição, por exemplo, quem repetir alegações do Novo Testamento de que Jesus Cristo foi vítima dos judeus.
A Aliança Internacional pela Lembança do Holocausto (IHRA) incluiu pontos controversos na sua definição:
"Uso de símbolos e imagens associados com o antissemitismo clássico (por exemplo, alegações de judeus matando Jesus ou de rituais de sangue praticados por judeus) para caracterizar Israel ou os israelenses; fazer comparações entre as políticas contemporâneas de Israel e as dos nazistas".
É uma tentativa de confundir antissemismo com antissionismo, dizem críticos. Os estudantes que se manifestam nos EUA alegam que o sionismo aplica o apartheid nos territórios ocupados com o objetivo de tomar a terra dos palestinos.
TARCÍSIO E CASTRO
No Brasil, o governador Tarcísio de Freitas já adotou oficialmente a definição da IHRA e seu colega do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, fará isso nesta sexta-feira, 3.
A definição alargada de "antissemitismo" poderia, em tese, ser usada em ações na Justiça para calar críticos das políticas de Israel, num momento em que o país enfrenta acusações de cometer genocídio no Tribunal Internacional de Justiça e no Tribunal Penal Internacional.
Um promotor ligado ao TPI ameaça pedir a emissão de mandados de prisão contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e outras lideranças de seu governo de extrema-direita.
Israel quer que os Estados Unidos retaliem contra o TPI se isso acontecer. É o mesmo tribunal que expediu mandado de prisão contra Vladimir Putin semanas depois da invasão russa da Ucrânia.