RICOS E SEM NOÇÃO

Nazistas perdem pudor e entoam slogan de Hitler em festa de ricaços na Alemanha

Vídeo com pessoas cantando frases usadas pelo Nazismo causa indignação no país, onde esse tipo de expressão da extrema direita é proibida; chanceler federal Olaf Scholz classifica cenas como 'inaceitáveis'

Créditos: Picture Alliance (Carsten Rehder) - Restaurante e casa noturna Pony, na ilha de Sylt: gerente prometeu "denunciar esse comportamento abominável" e banir os envolvidos
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Um vídeo de apenas 15 segundos de duração sacudiu e gerou fortes reações no ambiente político alemão. A imagem mostra jovens ricos no terraço de uma casa noturna de alto padrão na ilha de Sylt, no Mar do Norte, no que parece ser um fim de tarde quente de verão, com o brilho do pôr-do-sol ao fundo.

Os jovens vestem roupas de marcas caras. Eles cantam e dançam aos gritos de "Alemanha para os alemães" – slogan da era nazista – e "fora, estrangeiros". Ao menos um deles parece fazer a saudação nazista, enquanto coloca dois dedos entre o lábio superior e o nariz, imitando o bigode de Adolf Hitler.

O slogan “Alemanha para os alemães – estrangeiros fora” é um canto que se originou no século 19 e foi usado pelo líder nazista Adolf Hitler e também foi utilizado como slogan eleitoral pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Tanto o slogan quanto a saudação são ilegais na Alemanha.

Reação de Berlim

Nesta sexta-feira (24), a notícia do vídeo chegou a Berlim e gerou uma onda de indignação que atingiu os altos escalões do governo federal. "Esse slogans são repugnantes", disse o chanceler federal, Olaf Scholz, a jornalistas. "São inaceitáveis", afirmou garantindo que não haverá omissão sobre o caso.

A ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, disse que "qualquer pessoa utilize lemas nazistas como 'Alemanha para os alemães; fora, estrangeiros' envergonha a Alemanha." Em entrevista ao grupo de mídia Funke, ela questionou se "lidamos com pessoas que vivem em uma sociedade paralela negligenciada pela riqueza [quando jovens crescem sem imposição de limites devido à riqueza familiar] que pisoteiam os valores de nossa Constituição".

Bijan Djir-Sarai, secretário-geral do Partido Liberal Democrático (FDP) – que integra a coalizão de governo ao lado do Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz e Faeser e dos Verdes – afirmou ser "chocante ver algo desse tipo", particularmente em meio à atual discussão sobre a necessidade de reforçar a proteção da democracia na Alemanha. 

"Há muita coisa errada em nosso país quando slogans da extrema direita e mesmo atos criminosos como a saudação a Hitler viram 'cultura pop'", afirmou Johannes Wagner, deputado pelos Verdes.

Nazistas banidos da ilha

Na quinta-feira (23), os responsáveis pela discoteca Pony na cidade de Kampen em Sylt, balneário queridinho da high society alemã, condenaram o vídeo e reconheceram que a gravação foi feita no local. "Estamos profundamente chocados", afirmou Tim Becker, gerente do Pony, em postagem nas redes sociais.

"Todos os clientes são bem-vindos aqui, não importa sua etnia. Temos orgulho da diversidade. Se tivéssemos tomado conhecimento desse incidente, teríamos, obviamente, expulsado os envolvidos. Não há lugar para o racismo", afirmou.

"Vamos denunciar esse comportamento abominável e usar todas as opções dentro da lei", assegurou. Mais tarde, ele prometeu proibir os jovens de frequentarem o bar. "A todos os que se veem cantando nesse vídeo: Vocês estão banidos!"

O gerente do Pony teme que o incidente possa trazer consequências à casa noturna e à ilha como um todo. Becker diz que os clientes serão motivados a relatarem atos racistas aos seguranças. Ele conta que os moradores de Sylt estão abalados. "Todos estão tristes com o que ocorreu".

Segundo diz, as cinco pessoas envolvidas não serão apenas banidas de seu estabelecimento pelo resto de suas vidas. "Eles nem devem mais aparecer em Sylt. Temos muitos amigos na gastronomia local."

Caso de polícia

A polícia da cidade de Flensburg, na fronteira entre Alemanha e Dinamarca, que tem jurisdição sobre a ilha de Sylt, tomou conhecimento do vídeo – gravado há cerca de uma semana – na noite desta quinta-feira.

A porta-voz da polícia de Flensburg, Arne Hennig, disse à DW que "os crimes praticados são incitação ao ódio e utilização de símbolos de organizações anticonstitucionais", em referência à pessoa que é vista na gravação com o braço direito erguido em uma aparente saudação nazista. "As investigações já estão a todo vapor."

Xenofobia nas classes mais altas?

A comoção é grande também em razão dos bares e casas noturnas de Sylt serem pontos de encontros dos ricos desde os anos 1960. Vários empresários, políticos, estrelas de cinema e da televisão têm casas na ilha.

Os jovens que aparecem no vídeo vêm de famílias abastadas. Poderia isso significar que as classes mais altas também têm problemas envolvendo atitudes xenófobas e da extrema direita?

Esse é um questionamento feito por alguns políticos do estado de Schleswig-Holstein ao comentarem o vídeo. A secretária da Educação, Karin Prien, também falou em um sinal de uma "negligência da riqueza".

A secretária da Integração, Aminata Touré, também condenou a atitude dos jovens. "Isso não é uma 'pegadinha' boba e infantil, mas sim o pior tipo de slogan nazista por parte de pessoas adultas um palco aberto. Abominável e repugnante. Eles devem estar com vergonha de si mesmos. As investigações criminais devem prosseguir já."

Distorcendo uma canção popular

O filme mostra o grupo bebendo e dançando juntos ao som da música de 2001 L’amour Toujours, do músico italiano Gigi D’Agostino. Os participantes parecem estar segurando copos de Aperol, rosé e espumante.

O filme parece ter sido feito durante o recente fim de semana prolongado de Pentecostes por uma jovem que está cantando para a câmera.

Tim Becker, co-proprietário do Pony, disse ao diário TAZ que imagens das câmeras de segurança recém-instaladas fora do clube foram comparadas com o vídeo online de 15 segundos e o mesmo grupo foi identificado.

O som do vídeo mostrou que apenas cerca de cinco convidados estavam cantando a versão anti-estrangeiros, enquanto os outros estavam cantando a versão original, disse ele.

Ele disse que nem ele nem os DJs do clube sabiam que o sucesso de D’Agostino, que ele disse ser popular em toda a Europa, havia sido efetivamente sequestrado pela extrema direita.

“Muitas vezes é tocado brevemente, para animar o clima. Não sabíamos que a música era usada pela extrema direita... Nunca mais tocaremos essa música”, disse ele.

Os frequentadores de festas no Pony, situado na Whisky Mile da ilha na cidade de Kampen, teriam pago 150 euros (cerca de 795 reais) para entrar na festa de abertura da temporada de verão onde o incidente ocorreu. Segundo o Pony, cerca de 500 pessoas compareceram.

Assista

A emissora bávara BR relatou recentemente que a versão nazista de L’amour Toujours se tornou popular em reuniões públicas e discotecas em toda a Alemanha, incluindo em uma discoteca em Greding em janeiro que ocorreu após uma conferência do partido de extrema direita AfD.

A discoteca foi frequentada por deputados e membros do partido extremista, bem como membros da ala jovem da AfD, que supostamente se juntaram a cantar a versão nazista.

Com informações do The Guardian e DW