A morte do presidente do Irã Ebrahin Raisi, aos 63 anos, foi anunciada na madrugada desta segunda-feira (20) de forma oficial pelo governo do país. Ele e toda a comitiva que estavam em um helicóptero, incluindo o ministro das Relações Exteriores Hossein Amir-Abdollahian, não resistiram à queda da aeronave em uma região montanhosa na província iraniana do Azerbaijão Oriental, neste domingo (20).
Integrante da linha dura da política iraniana, adepto a valores conservadores e com fortes ligações com a elite religiosa e judicial, Raisi era tido como um dos principais nomes apontados para suceder o guia supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, hoje com 85 anos.
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Aos 15 anos, começou a estudar no renomado seminário religioso de Qom e, aos 19, juntou-se aos protestos em massa de 1979 contra o monarca Shah, apoiado pelo Ocidente, mobilização que iria desembocar na Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini. Prosseguiu seus estudos na Universidade Shahid Motahari, em Teerã, conseguindo o doutoramento em Jurisprudência e Direito Islâmico.
Organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram que ele seria um dos quatro juízes do chamado Comitê da Morte, um tribunal secreto criado em 1988 responsável pelo julgamento e execução de milhares de prisioneiros, muitos deles membros do grupo Mujahedeen, antes aliados dos promotores da Revolução Islâmica e depois perseguidos pelo governo iraniano.
O prestígio obtido na função teria lhe assegurado o posto de procurador-chefe de Teerã, após a morte do primeiro líder supremo do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini.
O caminho da presidência de Raisi
Em 2017, Raisi concorreu e perdeu a disputa pela presidência do irã para Hassan Rouhani, candidato à reeleição. Rouhani avalizou o acordo nuclear do Irã de 2015, o Plano de Ação Conjunto Global, firmado entre o país, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha.
Junto à linha dura da política iraniana, ele criticou a realização do acordo, cujo objetivo era garantir que o programa nuclear do país fosse exclusivamente pacífico, sem o desenvolvimento de armas nucleares. Em 2018, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada unilateral dos EUA e o Irã passou a reduzir gradualmente o cumprimento dos termos acertados.
Em sua campanha vitoriosa de 2021, Raisi alegava que o tratado não havia trazido benefícios econômicos com o alívio das sanções comerciais e não teria levado em conta os interesses nacionais do Irã. Também buscou se apresentar como um político anticorrupção e solucionador de problemas. Nas eleições daquele ano, obteve 62% dos votos em um processo eleitoral marcado por uma baixa participação (48,8%), com vários políticos moderados sendo impedidos de concorrer.
O governo Raisi
Eleito, Raisi assumiu em meio à pandemia da covid-19 e teve que lidar com a taxa de inflação em alta. Sua primeira proposta de orçamento atribuiu um aumento significativo no financiamento ao sistema de defesa do país, mantendo a austeridade fiscal nas despesas internas.
O presidente enfrentou uma onda de protestos em 2022 após a morte sob custódia da jovem Mahsa Amini, presa por alegadamente violar o código de vestimenta que as mulheres devem seguir no país. O governo reprimiu as manifestações com violência.
No âmbito da política externa, Raisi administrou o reatamento das relações diplomáticas com a Arábia Saudita em 2023, sete anos após o rompimento de laços após manifestantes iranianos terem invadido sedes diplomáticas sauditas para protestar contra a execução de um líder muçulmano xiita.
Após as forças israelenses assassinarem oficiais superiores da Força Quds, do governo iraniano, em Damasco, na Síria, o Irã respondeu em abril disparando drones e mísseis contra o espaço aéreo de Israel, o primeiro ataque na história dos dois países.