Autor de convicções extremistas, conhecido por fazer comentários racistas e discordar da direção do governo eslovaco, ele foi identificado como o responsável pelo ataque que quase tirou a vida de Robert Fico, o primeiro-ministro da Eslováquia. Juraj Cintula foi preso após disparar cinco tiros contra Fico nesta quarta-feira (16), de acordo com investigadores e relatos da mídia local.
Um dos sites de notícias do país eslovaco, Dennik N, caracterizou o homem de 71 anos como um membro da Associação de Escritores Eslovacos. A associação, por sua vez, condenou o ataque e prometeu expulsar o homem, caso sua identidade seja confirmada e sua culpa seja comprovada. Ele é conhecido por frequentar uma biblioteca e um clube literário em Levice, uma cidade com uma população de 33 mil habitantes.
Te podría interesar
Cintula, que tem em seu currículo a publicação de três antologias poéticas e dois romances, fez ataques aos ciganos e alegou que a comunidade cigana “explora o sistema de assistência social” e que “nunca presenciou tantos ciganos sem olhos na Europa como no presente momento”. Uma bibliotecária da associação relatou que ele utilizou a biblioteca para lançar ua obra poética e o descreveu como alguém que era “rebelde na juventude, mas não agressivo”. O clube literário ainda não se pronunciou sobre a declaração.
Em 2016, Robert Fico declarou que apenas “imigrantes cristãos” seriam aceitos no país e prometeu monitorar de perto cada muçulmano em seu território. Na mesma época, a Eslováquia, juntamente com vários outros países europeus, se opunha à acolhida de centenas de milhares de refugiados, a maioria proveniente da Síria e da Líbia.
Paralelamente, um homem se alinhava a um grupo extremista pró-Rússia, associado ao Kremlin. Ele afirmou em uma publicação no Facebook que “centenas de milhares de imigrantes” estavam chegando ao continente e que os militantes agiriam como “patriotas” para proteger o país dessa “influência estrangeira”.
Um vizinho do homem, em entrevista ao site eslovaco Aktuality, expressou choque diante dos eventos recentes. Ele revelou que o suspeito havia sofrido uma agressão no Exército, mas não associou o incidente ao ataque ocorrido na quarta-feira. “Eu não quis acreditar, mesmo diante das imagens, fiquei chocado com o que aconteceu hoje [quarta-feira]. Não quero julgá-lo. Ele nunca se expressou assim, às vezes falava sobre o que não gostava no governo, mas isso é um choque”, disse o vizinho.
O homem, que trabalhou como segurança de um centro comercial em Levice, foi agredido por um jovem sob efeito de drogas em 2016, mas o caso não foi grave na época. Não há registros de incidentes violentos relacionados a ele no passado. Na década passada, ele tentou reunir assinaturas para fundar um partido chamado “Movimento Contra a Violência”. A última postagem do partido no Facebook, em abril de 2022, criticava a invasão da Ucrânia pela Rússia. “Foi um partido que fundamos contra a violência, depois do caso em que um filipino foi espancado até a morte”, acrescentou o vizinho.
Fico foi levado para um hospital de Bratislava de helicóptero e segundo fontes do governo eslovaco passou por uma extensa e complexa cirurgia, que inclusive o teria deixado por várias horas em situação crítica e sob risco de morte. Nas últimas horas a assessoria do gabinete do primeiro-ministro informou que ele está em situação estável e que já foi transferido para uma ala de monitoramento.
Na manhã de quinta-feira (16), a polícia acusou Cintula de homicídio premeditado por vingança contra uma pessoa protegida em julgamento, conforme relatado pela Markíza TV. Agora, o escritor enfrentará uma sentença de prisão perpétua de 25 anos e segue detido na cela da Agência Criminal Nacional em Nitra.