"Se fosse na China, a mídia ocidental estaria gritando autoritarismo e clamando por sanções ou intervenção militar. Mas não é na China. É na Universidade de Columbia", escreveu um internauta ao descrever a intervenção massiva da polícia de Nova York no campus que era o centro dos protestos estudantis contra as ações de Israel em Gaza.
A hashtag "Estados Unidos de Israel" bombou nas redes depois da maior repressão policial contra o movimento estudantil desde 1968.
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Eric Adams, um ex-policial que agora é prefeito democrata da cidade, autorizou a entrada da polícia, que parecia armada para a guerra.
O chamado Hamilton Hall, que estava sob ocupação estudantil e foi "rebatizado" de Hind Hall, em homenagem à menina palestina que morreu em circunstâncias dramáticas em Gaza, foi invadido por dezenas de policiais através de uma janela.
O acampamento do lado de fora foi desfeito e centenas de estudantes foram presos. A presidente da universidade, Nemat Shafik, disse que pediu apoio da polícia por não ter outra alternativa.
Ela estava sob intensa pressão, que veio desde o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, até o líder dos republicanos na Câmara, Mike Jonhson, além de rabinos e doadores da universidade.
O argumento deles é de que as manifestações são antissemitas, mas horas antes da invasão um grupo significativo de judeus esteve na Columbia em apoio ao acampamento.
Com dinheiro de filantropos, a Columbia maneja investimentos bilionários. Uma das exigências dos estudantes era a retirada do dinheiro de empresas ligadas ao genocídio em Gaza.
CALIFÓRNIA
Numa ação aparentemente coordenada, dirigentes universitários pediram a intervenção da polícia em vários campus nas últimas horas, inclusive na Universidade da Califórnia.
Mais de 1.300 estudantes já foram presos, segundo um monitor do diário Washington Post.
O New York Times publicou um gráfico de onde aconteceram as detenções:
O movimento estudantil se espalhou para outras universidades, inclusive na França, onde houve forte repressão policial na Sorbonne e na SciencesPo.
BIDEN EM CIMA DO MURO
O presidente Joe Biden ficou em cima do muro sobre os protestos, mas escalou o senador Bernie Sanders, muito popular entre os jovens, para bater duro em Benjamin Netanyahu e fazer o que na política estadunidense é chamado de "damage control".
De acordo com um levantamento, 81% dos eleitores de menos de 35 anos de idade desaprovam a forma como Biden lida com a crise em Gaza.
62% dos eleitores entre 18 e 34 anos de idade estão insatisfeitos com as escolhas que terão nas eleições deste ano.
Em eleições decididas por pequena margem -- na Georgia, em 2020, Biden venceu Trump por 12.760 votos --, nas quais o comparecimento não é obrigatório, o democrata depende de um apoio significativo de jovens para vencer.
A candidata verde Jill Stein, que é médica, deve ser a principal beneficiária em termos eleitorais.
Ela foi presa durante um protesto em defesa de Gaza na Universidade de Washington, em Saint Louis, Missouri.
Desde então, vem dando entrevistas e defendendo o movimento estudantil.
Numa postagem recente, ela escreveu:
A geração mais jovem corre muito risco, não só devido a guerras imprudentes e irresponsáveis, mas também à dívida estudantil, à falta de empregos dignos e à falta de habitação. Este é um problema do capitalismo em fase final.
É um discurso que cala fundo nos jovens.
O problema é que o nome de Stein até agora só garantiu presença na cédula do pleito presidencial no estado de Idaho e o do Partido Verde em 18 estados e no Distrito de Columbia.
Isso ainda pode mudar, dependendo de mobilização popular e do cumprimento de regras que dificultam a ascensão de partidos que desafiam a dobradinha republicano-democrata.