Numa mudança de 180 graus em relação a seus antecessores, o presidente da Argentina deslocou-se de Buenos Aires até uma base militar em Ushuaia, na Terra do Fogo, para encontrar-se pela segunda vez em menos de três dias com a general Laura Richardson, do Comando Sul dos Estados Unidos.
Milei estava fardado, acusou governos anteriores de não defender verdadeiramente a costa da Argentina e disse estar em completa sintonia com os Estados Unidos.
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"Os argentinos como povo temos uma afinidade natural com os Estados Unidos. Ambos pertencemos a uma tradição ocidental, com uma cultura política e uma forma de viver em sociedade compartilhada em boa parte. Uma tradição que tem em sua base a ideia da liberdade, a defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada, que foram as bandeiras dos pais fundadores de ambas nações", afirmou.
Milei disse que governa para reverter 100 anos de decadência argentina:
Vejo com preocupação que o Ocidente corre risco. Corre perigo. Em parte por dar as costas a essas ideias. Por isso, hoje mais que nunca é importante reforçar os laços de amizade entre os que sustentam estes valores. Hoje estamos aqui para ratificar o esforço no desenvolvimento de nossa base naval integrada. Trata-se de um grande centro logístico que constituirá o porto mais próximo da Antártida e converterá nossos países na porta de entrada do continente branco.
Milei lembrou que a Argentina foi o primeiro país a fincar bandeira na Antártida, o que tem mais bases no continente e cidadãos vivendo há mais de um século no que ele definiu como "fim do mundo".
Disse também que, na ausência de uma base argentina, o Chile tirou proveito comercial de sua proximidade com a Antártida. Acusou os governos anteriores de não combaterem o narcotráfico e o terrorismo islâmico.
O discurso soou como música para a general Richardson, uma vez que Milei defendeu a aproximação com Washington contra "aqueles que querem limitar nossas liberdades. Por isso, hoje, a melhor forma de defender nossa soberania é precisamente reforçar nossa aliança estratégica com os Estados Unidos".
Milei identificou o que seriam os inimigos em comum: autocratas, fanáticos religiosos e comunistas -- em outras palavras, Vladimir Putin, o Irã e a China.
FMI E CAÇAS F-16
Um dia antes da viagem inesperada de Milei a Ushuaia, uma diretora do Fundo Monetário Internacional rasgou elogios a seu governo:
O progresso até agora tem sido impressionante. Janeiro e fevereiro registraram um superávit fiscal pela primeira vez em mais de uma década, as reservas internacionais estão sendo reconstituídas, a inflação está caindo mais rapidamente do que o previsto e os indicadores de mercado, como a variação cambial e o spread (custo do endividamento externo) continuam melhorando.
Com o fim do apoio da China para evitar um calote da Argentina, o FMI assumiu este papel.
O governo Milei vem tomando uma série de medidas para se desfazer de laços que fizeram o país chegar a ser chamado de Argenchina.
Um dos mais importantes foi a compra de 24 caças F-16 de segunda mão da Dinamarca, negócio que só foi fechado com autorização dos Estados Unidos.
DISPUTA LOCAL
O governador da Terra do Fogo, Gustavo Melilla, denunciou a visita da general Richardson, a quem considerou Persona Non Grata.
Lembrou que os Estados Unidos deram apoio ao Reino Unido na guerra das Malvinas.
Cesar Biondino, secretário-geral da Frente Patriota Federal, reagiu no X:
Por culpa de Milei, a Argentina abandonou sua neutralidade histórica, perdeu a soberania política e começou a se envolver abertamente nas guerras dos EUA e da OTAN. Esta noite, a cena foi clara, marcou um compromisso militar entre o regime libertário e Washington, e nos colocou em uma agenda perigosa. Richardson e Stanley potencializaram suas carreiras, acabando de conquistar um enclave para dominar a Patagônia, o Atlântico Sul e a Antártida.
Marc Stanley é o embaixador dos EUA na Argentina.
O governador Melilla, da Terra do Fogo, chegou a assinar um memorando com a empresa estatal chinesa Shaanxi Chemical para construir um porto em Rio Grande, projeto que não foi adiante.
Apesar de falar em defender a verdadeira soberania da Argentina, Milei se encontrou com o chanceler britânico David Cameron em Davos. Um mês depois, Cameron desembarcou nas Malvinas e disse que esperava que as ilhas fizessem parte do Reino Unido para sempre.
Os britânicos avançam no projeto para construir um porto de águas profundas, explorar petróleo e reclamar mar territorial na região estratégica reivindicada pela Argentina.
Em outras palavras, a Organização do Tratado do Atlântico Norte agora também vai assumir o controle do Atlântico Sul.