O gabinete de guerra de Israel "rachou" publicamente, depois que o ex-líder da oposição Benny Gantz pediu eleições antecipadas para setembro deste ano.
Nas pesquisas, ele aparece como o maior beneficiário da baixa popularidade do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, cujo partido Likud teria dificuldades para formar nova maioria com os partidos de direita religiosa.
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Gantz está longe de ser um pacificador: ex-general, ele serviu no Ministério da Defesa. Na mesma fala, assinalou que a luta de Israel com o Hamas vai durar muitos anos.
Isso atende aos eleitores linha dura, mas ao mesmo tempo permite a Gantz culpar Netanyahu por prometer vitória total contra o Hamas a curto prazo, o que não conseguiu depois de seis meses de ataques a Gaza.
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UNIDADE ATÉ SETEMBRO
Gantz se juntou ao gabinete de guerra de Netanyahu depois dos ataques de 7 de Outubro, numa demonstração de unidade nacional diante do surpreendente ataque terrorista do Hamas.
Agora, cautelosamente, ele se afasta de Netanyahu, num momento em que Israel enfrenta isolamento internacional mesmo de seus mais tradicionais aliados.
Para Netanyahu, que se tornou refém dos partidos religiosos e dos colonizadores ilegais de terras palestinas, resta prolongar e ampliar a guerra, talvez contra o Hezbollah e o Irã.
O primeiro-ministro é alvo de críticas das famílias dos reféns por colocá-los em segundo plano; à esquerda, dos que o criticam por solapar a democracia em Israel; à direita, dos que culpam Netanyahu por não ter evitado o ataque do Hamas.
Por conta disso, houve quatro dias consecutivos de manifestações em Israel, as maiores desde o ataque do Hamas, pedindo que se dê prioridade aos reféns e a antecipação das eleições.
Em eventual eleição, os partidos religiosos correm o risco de perder apoio por terem insistido na manutenção da lei que impede a convocação dos ortodoxos para servir ao Exército.
A ironia é notada em Israel: os maiores apoiadores da guerra e da colonização ficam em casa estudando teologia enquanto os filhos e filhas de israelenses seculares morrem na frente de combate.
O QUE ESTÁ EM JOGO
O Hamas, acompanhando o termômetro da opinião pública, descartou fazer qualquer acordo com Israel que não resulte na retirada das Forças de Defesa de Israel de Gaza.
Benjamin Netanyahu moderou sua retórica, mas jamais recuou da promessa de atacar Rafah, onde estão mais de um milhão de refugiados palestinos, depois do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos que termina em 9 de abril.
Pelo calendário de Gantz, o governo Netanyahu teria tempo para concluir a ofensiva.
Porém, há indícios de que o primeiro-ministro, com apoio dos partidos religiosos de direita, planeja uma longa ocupação de Gaza, talvez até mesmo com a volta de assentamentos de colonos -- o que na prática acabaria com os planos internacionais de reconhecer um estado palestino.
Gantz se coloca como uma alternativa, que teria a simpatia de Washington. O governo Joe Biden concorda integralmente com os planos militares de Israel de eliminar o Hamas, com discordâncias pontuais.
Porém, está articulando com uma Autoridade Palestina "renovada" o controle de Gaza, com subsequente reconstrução e reconhecimento internacional inclusive de países árabes aliados de Washington -- notadamente Marrocos, Jordânia, Egito, Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos.
A Autoridade Palestina disputa com Netanyahu uma competição pela maior taxa de rejeição da população que governa. É vista como um instrumento que, às custas de vultosas doações dos Estados Unidos e da União Europeia, se tornou o "guarda da esquina" de Israel nos territórios palestinos ocupados da Cisjordânia.