JOGO ELEITORAL

EUA ameaçam China com sanções por causa da Rússia

China deu recepção gelada a Blinken

Gelado.Xi Jinping estava carrancudo no encontro com Blinken.Créditos: Reprodução
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Ao se despedir de seu giro pela China, o secretário de Estado Antony Blinken enfatizou que se a China não fizer nada em relação as demandas de Washington sobre o fornecimento de material de duplo uso para a Rússia, "nós faremos".

Foi a mais clara ameaça a Beijing sobre as vendas de máquinas-ferramentas, nitrato de potássio, microeletrônicos e outros materiais a Moscou que, segundo a Casa Branca, consistem em ajuda militar indireta ao parque industrial militar de Vladimir Putin.

Os maiores fornecedores de armas para a Rússia na guerra contra a Ucrânia são a Coreia do Norte e o Irã.

Blinken teve uma recepção gelada por parte de autoridades da China. Foi recebido sem o tradicional tapete vermelho, teve um encontro gélido com Xi Jinping e, na despedida, nenhuma liderança chinesa foi ao aeroporto.

Jinping, pouco antes do encontro, perguntou a um assessor -- certamente sabendo que estava sendo gravado: "Quando é que ele vai embora?"

IRMÃOS SIAMESES

Estados Unidos e China são os irmãos siameses da globalização. Os EUA são o maior mercado do planeta para produtos chineses e o comércio entre os dois países é o terceiro maior para Washington, depois de Canadá e México.

Oficialmente, o governo Biden não defende o chamado "decoupling", ou separação, o que é pregado pela maioria dos think tanks de Washington.

Na prática, no entanto, isso está acontecendo aos poucos: Beijing está reduzindo sua exposição a títulos de Tesouro estadunidense e os EUA desenvolvem política industrial para favorecer o Made in USA.

Em 2023, os EUA compraram quase 15% de todas as exportações chinesas e a Rússia pouco mais de 3%.

O comércio também beneficia estadunidenses: há forte investimento privado dos EUA na China e a importação de produtos baratos ajuda no controle da inflação.

Depois que a Rússia foi submetida a sanções do Ocidente por invadir a Ucrânia, passou a ser o maior fornecedor de petróleo para a China e o comércio entre os dois países saltou 26% desde 2022, chegando a U$ 240 bilhões.

Em 2023, o comércio EUA-China foi o dobro disso, com um déficit para os EUA de quase U$ 280 bi.

COMPETIÇÃO COMERCIAL

Esta é a segunda reclamação de Washington, repetida por Blinken em sua fala de despedida.

Ele afirmou que a China é responsável por 1/3 de toda a produção mundial, mas consome apenas 1/10.

Neste campo, os EUA ameaçam Beijing com tarifas.

Porém, no momento a urgência do governo Biden é evitar que a Rússia vença a guerra na Ucrânia, o que foi demonstrado no recente pacote de ajuda a Kiev, de mais de U$ 60 bi.

Uma derrota seria desastrosa para a campanha eleitoral de Joe Biden.

A curto prazo, Washington joga duro com a China com o duplo objetivo de dar a Joe Biden a imagem de durão e arrancar dos chineses alguma concessão que ele possa apresentar como ganho aos eleitores na campanha de reeleição de 2024.