O presidente Joe Biden assinou na manhã desta quarta-feira, 24, o pacote aprovado pelo Senado que oferece ajuda equivalente a R$ 500 bilhões para Ucrânia, Israel e Taiwan.
Quase ao mesmo tempo, o secretário de Estado Antony Blinken desembarcou na China e foi recebido sem o tradicional tapete vermelho.
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Ele logo gravou um vídeo enfatizando que trataria com os chineses do bloqueio às exportações de fentanil, a droga farmacêutica que causa centenas de mortes de viciados nos Estados Unidos. Disse que tratará de maneira franca das divergências.
Antes da chegada, Washington bateu o bumbo nas questões em que pressiona o governo de Xi Jinping: ajuda militar indireta à Rússia, suposta "superprodução" industrial que prejudica parceiros comerciais e o que classifica como "genocídio dos uigures", muçulmanos que vivem na região de Xinjiang.
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É corriqueiro que em negociações diplomáticas os dois lados troquem farpas antes de algum tipo de acomodação.
Blinken nem tinha colocado os pés em solo chinês e a diplomacia local já tinha disparado petardos em direção às posições de Washington.
Um porta-voz detonou:
Os Estados Unidos continuam fazendo acusações sem base sobre as relações de comércio e econômicas [da China com a Rússia] enquanto aprovam um grande pacote de ajuda à Ucrânia. Insuflar as chamas enquanto jogam a culpa nos outros é hipócrita e altamente irresponsável.
Num comunicado oficial sobre a visita, disseminado pela agência Xinhua, a questão de Taiwan é tratada assim:
A questão de Taiwan é a primeira linha vermelha que não deve ser ultrapassada na relação China-EUA. Taiwan faz parte da China. A questão de Taiwan é um assunto interno da China. A paz através do Estreito de Taiwan e a “independência de Taiwan” são tão inconciliáveis como o fogo e a água.
Além aprovar U$ 8 bi para questões relativas a Taiwan, no pacote assinado hoje por Biden, os EUA estão atuando no entorno da China para fortalecer um bloco de oposição a Beijing, que tem como pilares o Japão, a Austrália e as Filipinas.
Sobre isso, os chineses escreveram:
China e os EUA estabeleceram mecanismos de consulta sobre assuntos marítimos e assuntos da Ásia-Pacífico, através dos quais o diálogo pode ser realizado entre os dois lados. Dito isto, os EUA não são parte na questão do Mar do Sul da China. Não deveriam interferir, muito menos provocar problemas.
WASHINGTON QUER CONCESSÃO ELEITORAL
Em tese, a visita de Blinken dá continuidade à cúpula entre Joe Biden e Xi Jinping que aconteceu na Califórnia.
Washington geralmente usa de uma série de subterfúgios para obter vantagens econômicas, especialmente em um ano eleitoral em que o presidente de turno precisa mostrar resultados aos eleitores.
Beijing já acomodou o ex-presidente Trump, quando ele tornou a China seu principal alvo de ataques políticos, anunciando compras de produtos agrícolas estadunidenses.
É possível que a China ceda de novo, mas pelo texto do comunicado, não será fácil:
O chamado “excesso de capacidade” é uma narrativa enganosa promovida pelos EUA. A verdadeira intenção é prejudicar o desenvolvimento industrial da China e colocar os EUA numa posição mais vantajosa. É outro exemplo de coerção econômica e intimidação. O crescimento das exportações chinesas de veículos eléctricos, baterias de lítio e produtos fotovoltaicos é resultado da divisão internacional do trabalho e da procura do mercado, e é propício ao desenvolvimento verde em todo o mundo.
Enquanto tenta baixar o calor da catástrofe em Gaza, Biden não quer outra frente de contenciosos com a China.
Está atrás de alguma "ajuda eleitoral".
A assinatura que ele apôs hoje cedo ao projeto aprovado pelo Congresso visa, acima de tudo, a Rússia.
A prioridade dos Estados Unidos é evitar que uma ofensiva de Moscou provoque o colapso defensivo da Ucrânia, o que seria explorado por Donald Trump durante a campanha como sinal de incompetência e fraqueza.
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Trump, em sua nova versão "pacifista", aposta em concentrar o fogo nos imigrantes morenos da América Central, um alvo mais indefeso e que se encaixa na teoria de conspiração segundo a qual a imigração é planejada para tirar poder político dos estadunidenses brancos de olhos azuis.