Num depoimento que parece ter surpreendido os jurados, que não têm intimidade com os bastidores da mídia, o ex-editor do National Enquirer, David Pecker, confessou nesta terça (23) num tribunal de Nova York que "pescou e matou" reportagens que tinham o potencial de danificar a campanha bem-sucedida de Donald Trump à Casa Branca em 2015.
O tablóide multicolorido, fundado em 1926, vende apenas 250 mil cópias semanais nos Estados Unidos, mas tem grande repercussão porque fica exposto em caixas de supermercados, bodegas e outros lugares públicos, com manchetes que capturam centenas de milhões de olhares.
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Pecker, muito amigo de Trump, depôs no julgamento em que o pré-candidato republicano à Casa Branca responde pela falsificação de documentos para encobrir pagamentos que teria feito para calar testemunhas.
Ele confirmou que, em 2015, colocou o National Enquirer a serviço de Trump, não só para livrar o candidato de reportagens embaraçosas mas para atacar adversários republicanos e a democrata Hillary Clinton.
É comum que publicações do gênero comprem depoimentos, mas para publicá-los.
ACORDO COM PORTEIRO
Pecker, no entanto, fez um acordo perpétuo com um porteiro da Trump Tower, Dino Sajudin, para que ele jamais falasse sobre um filho que Donald teria tido fora do casamento, história que o ex-editor diz ter descoberto ser falsa.
Sajudin, o porteiro, recebeu U$ 30 mil.
Karen McDougal, uma mulher que alega ter tido um caso com Trump, recebeu U$ 150 mil.
Ela chegou a ser entrevistada, mas o tabloide nunca publicou o depoimento. Pecker diz que fez o pagamento por conta própria.
O terceiro caso, sobre o qual não se falou hoje, envolve a atriz Stormy Daniels, que teria recebido U$ 130 mil, mas não através do National Enquirer.
A alegação da promotoria é de que o advogado de Trump, Michael Cohen, organizava os pagamentos de "cala-a-boca" e depois falsificava documentos para disfarçá-los.
Cohen se voltou contra Trump, forneceu documentos comprometedores e vai ser testemunha de acusação.
Trump nega que tenha cometido adultério, diz que não fez nem mandou fazer pagamentos e alega que o processo da promotoria de Nova York é politicamente motivado.
Dentre as manchetes mais famosas publicadas pelo tabloide para ajudar Trump foi quando ele disputava a indicação do Partido Republicano com o senador Ted Cruz, do Texas.
De acordo com a fantasiosa "reportagem", o pai de Ted Cruz teria tido envolvimento no assassinato do presidente John Kennedy.