TERCEIRA GUERRA?

Clima tenso no Conselho de Segurança da ONU em reunião sobre ataque do Irã contra Israel

Israel pede sanções contra o Irã, que defende direito a autodefesa; EUA tentam desescalar tensão, mas anuncia que vai propor medidas contra Teerã; Moscou acusa Paris, Londres e Washington de hipocrisia

Créditos: ONU Fotos - Conselho de Segurança da ONU, em Nova York (EUA), realiza reunião de emergência a pedido de Israel
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O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) realiza neste domingo (14) uma reunião de emergência a pedido de Israel, horas após o lançamento de projéteis ao país a partir do Irã.

O colegiado é um dos poucos lugares onde adversários em guerra entre si se encontram cara a cara na mesma sala. Os representantes do Irã e de Israel já fizeram suas falas, uma depois da outra.

Nas primeiras declarações feitas na reunião, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que o Oriente Médio está à beira de um conflito. 

Guterres ressaltou que as partes envolvidas têm a responsabilidade de atuar em favor da paz. Ele lembra ainda a responsabilidade internacional de evitar uma nova escalada e implicação na região.

Desarmar e baixar a escalada 

O líder das Nações Unidas disse que as populações da região enfrentam um perigo real de uma arrasadora situação de guerra total, ao enfatizar que é hora de desarmar e diminuir a escalada. Guterres declarou que este é o momento de exercer máxima moderação.

Guterres citou a solicitação da reunião feita pelo embaixador israelense apontando para “um ataque direto contra seu território” com mais de 200 veículos aéreos não tripulados, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos contra Israel, em clara violação da Carta das Nações Unidas.

O representante iraniano também escreveu ao presidente do Conselho de Segurança, afirmando que nas últimas horas de 13 de abril, se país “realizou uma série de ataques militares contra objetivos militares israelenses.”

Ao defender que a região não se deve permitir a uma guerra, Guterres destacou que as partes interessadas têm a responsabilidade de atuar em favor da paz.

Confrontos militares em múltiplas frentes 

Para o chefe da ONU, este é o momento de se recuar do abismo e que isso é “essencial para evitar qualquer ação que possa levar a grandes confrontos militares em múltiplas frentes no Oriente Médio.”

Para Guterres, os civis já estão suportando o peso e pagando o preço mais alto pela atual situação. 

Ao apelar pela responsabilidade coletiva do Conselho, Guterres disse que é preciso envolver ativamente todas as partes para evitar nova escalada” tal como prevê a Declaração de Relações Amistosas de 1970. O documento proíbe atos de represália com o uso da força sob o direito internacional.

Cessar-fogo humanitário imediato

Guterres disse ainda que o Conselho tem a responsabilidade partilhada de garantir um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, a libertação incondicional de todos os reféns e a entrega desimpedida de ajuda humanitária.

O secretário-geral ressaltou que é vital o trabalho comum para acabar com a violência na Cisjordânia ocupada, evitar o agravamento da situação ao longo da Linha Azul e restabelecer a navegação segura no Mar Vermelho.

Israel pede sanção contra Irã

O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, que pediu a reunião de emergência do Conselho de Segurança, atacou o Irã e os seus representantes. Ele disse que o país persa ultrapassou todas as linhas vermelhas no seu ataque e que Israel se reservava o direito de retaliar.

Erdan apelou ao Conselho para que tomasse medidas severas contra o Irã, incluindo sanções e declarações de condenação. “O fato de a defesa aérea de Israel ter provado ser superior não muda a brutalidade do ataque do Irão”, afirmou.

Irã defende ataque como direito à autodefesa

Já o embaixador do Irã na ONU, Amir Saeid Iravani, defendeu as ações do seu país como o “direito inerente à autodefesa” em resposta ao ataque ao seu complexo diplomático na Síria há duas semanas.

Iravanai disse que o Irã “não procura escalada ou guerra na região” e “não tem intenção” de entrar em conflito com os Estados Unidos, mas alertou que responderia proporcionalmente se Israel ou os militares dos EUA atacassem o Irã ou os seus interesses.

EUA planejam medidas para responsabilizar o Irã

O embaixador dos EUA nas Nações Unidas, Robert Wood, disse que os Estados Unidos “não procuram uma escalada, as nossas ações têm sido de natureza defensiva”. Ele disse que o objetivo dos EUA era “desescalar” e voltar a garantir o fim do conflito em Gaza.

Wood também apelou ao Conselho para condenar inequivocamente as ações do Irã e disse que os Estados Unidos planejam novas medidas na ONU para responsabilizar o Irã.

Grã-Bretanha comprometida com a segurança de Israel

A embaixadora britânica nas Nações Unidas, Barbara Woodward, disse que as ações do Irã “não contribuem em nada para promover as perspectivas de paz em Israel e Gaza”, conforme exigido numa resolução aprovada pelo Conselho no mês passado, apelando a um cessar-fogo imediato.

Ela afirmou que a Grã-Bretanha continua comprometida em proteger a segurança de Israel, ao mesmo tempo que resolve garantir uma pausa nos combates em Gaza.

Rússia culpa EUA, França e Grã-Bretanha por hipocrisia

O embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, culpou os EUA, a Grã-Bretanha e a França pela “hipocrisia e padrões duplos”, por não condenarem o ataque ao complexo da embaixada do Irão na Síria este mês.

Ele disse ainda que a falta de ação do Conselho levou à escalada e à crise do Irã com a retaliação.

Nebenzya afirmou que Israel estava desrespeitando o Conselho ao violar uma resolução que pedia um cessar-fogo em Gaza e sugeriu que o Conselho deveria punir Israel com sanções.

Tom é de contenção

De um modo geral, diplomatas que discursaram na reunião do Conselho de Segurança afirmaram que é imperativo que ambos os lados exerçam contenção, com a região em risco de mergulhar numa guerra mais ampla com consequências devastadoras.

Os embaixadores da Eslovênia e da Serra Leoa apelaram ao regresso à diplomacia e às partes que se abstivessem de novas retaliações.

Pouco provável aprovar uma resolução

Para que o Conselho de Segurança emitia qualquer declaração condenando às ações do Irã, todos os seus 15 membros têm que  concordar. No entanto, essa é uma perspectiva improvável, afinal há uma marcante falta de consenso sobre a emissão de declarações de condenação aos ataques do Hamas em 7 de Outubro e ao ataque à Embaixada do Irã em complexo na Síria, que motivou os ataques do país persa.