Desde 7 de outubro, Israel matou 30 mil palestinos na Faixa de Gaza. Pelo menos 8 mil mulheres. Milhares de meninas hoje correm em busca de pão órfãs de pai e mãe. Outras 60 estão presas em cadeias israelenses, boa parte sem acusação. Desde 1967, mais de 17 mil palestinas foram presas pelo regime sionista.
E, no Dia Internacional da Mulher, cinco meses depois do início do conflito militar, Israel segue sua operação genocida dentro da Faixa de Gaza.
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Conversamos com duas ativistas políticas palestinas no Brasil: Fatima Ali, palestina em diáspora no Brasil, vice-presidenta da Fepal (Federação Árabe Palestina no Brasil) e Rawa Alsagheer, palestina nascida na Síria, cineasta e ativista do Samidoun (Rede de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos nas Prisões da Ocupação Israelense), do movimento de mulheres Alkaramah e do Caminho Palestino Revolucionário Alternativo.
Um genocídio feminista?
Não é incomum encontrar nas redes sociais vídeos de soldadas israelenses dançando uniformizadas com equipamentos militares de alto nível. Israel se vende como “paraíso da liberdade” no Oriente Médio, com uma suposta cultura LGBTQIA+ e feminista, mas a realidade é um pouco diferente.
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Desde fevereiro, a ONU tem denunciado que diversas mulheres palestinas foram sujeitas a diferentes formas de assédio sexual em prisões israelenses por soldados do IDF.
Pelo menos duas mulheres presas afirmam ter sido estupradas e outras foram ameaçadas com o estupro como arma de guerra. Segundo o relatório, fotos de mulheres palestinas nuas circulam entre os soldados de Israel.
“Essa data está chegando, infelizmente, em um momento bem sensível, que está acontecendo com as prisioneiras palestinas. Há tortura que está acontecendo dentro das prisões, há estupro dos israelenses para as mulheres palestinas dentro das prisões da ocupação israelense”, denuncia Rawa Alsagheer.
Para ela, o problema é fundamental do próprio regime sionista. Não há, na visão de Rawa, como um movimento que propõe a colonização e limpeza étnica de uma região ser “libertadora”.
“O feminismo é um movimento de libertação, de direitos, de igualdade, de justiça, e sionismo é nazismo, é fascista, então são dois opostos. O feminismo tem que ser combatente do sionismo, porque não tem como ser, por exemplo, sionista de esquerda. Não existe nazista de esquerda, não tem como ser nazista feminista, porque não existe, não tem como ser sionista feminista, porque não existe nazista feminista”, completa.
Em Gaza, não há acesso a absorventes e mulheres em trabalho de parto tem que limpar seu sangue com panos sujos. Não há medicina ou hospitais capazes de absorver as demandas básicas.
“O regime sionista é o responsável pelo processo de limpeza étnica, pelos massacres, pelo sistema de apartheid e colonial, além dos horrores que o mundo acompanha: O genocídio. Tudo isto são práticas patriarcais, crimes contra a humanidade”, completa Fatima Ali.
São elas as protagonistas
Apesar da opressão israelense, as mulheres tiveram sempre uma participação importante na luta pela libertação palestina.
“Elas são as maiores vítimas. Poderia citar milhares de nomes de mulheres que são, foram e serão fundamentais para que hoje possamos reverenciar a Resistência do qual o povo Palestino é protagonista há mais de 76 anos”, afirma Fatima.
Recentemente, um dos símbolos dessa luta foi a de Ahed Tamimi, ativista palestina presa em 2017, aos 16 anos, por se manifestar contra o regime sionista na Cisjordânia. Ela foi libertada em 2018, mas presa em 2023 após a guerra por "incitação ao terrorismo". Recebeu liberdade após a troca de reféns entre Hamas e Israel em dezembro do ano passado.
“Nós palestinos sempre enxergamos o dia 8 de março como o dia da nossa terra também, porque o nosso símbolo da terra é uma mulher palestina”, completa Rawa. “Infelizmente, com tudo o que está acontecendo na faixa de Gaza, com esse genocídio que está sendo emitido pela força sionista israelense nazista, que está atacando nossas mulheres, crianças, idosos e homens palestinos”, completa.
Por um feminismo diverso
O debate sobre orientalismo se tornou cada vez mais ávido nos círculos feministas nos últimos anos. A retratação das mulheres islâmicas e do mundo árabe como vítimas de um sistema opressor que deveria ser libertado pelo modo de vida ocidental foi uma das tônicas de um feminismo ocidental dos EUA e da Europa durante o período da Guerra ao Terror.
E a realidade é diferente: “A participação das mulheres no campo político é fundamental, especialmente porque delas deriva a boa formação cultural, a educação transformadora tanto para o movimento nacional de libertação da Palestina quanto para construção de um mundo melhor”, afirma Fatima.
Em contraponto, a Israel erguida sobre um genocídio se vende como o paraíso para as mulheres. A narrativa é clara e será replicada inclusive neste 8 de março.
Para Fatima e Rawa, é necessária combatê-la, inclusive dentro do próprio movimento feminista. “Não há como falarmos em luta pela libertação das mulheres sem o engajamento necessário a libertação do povo palestino e o papel de destaque que cumprem as mulheres Palestinas na Resistência e na história da luta das mulheres”, diz Fatima.
“O feminismo ocidental é orientalista”, diz Rawa. “Infelizmente, a maioria dos movimentos feministas ocidentais não entende muito bem a luta das mulheres árabes em geral, porque quando a gente está falando sobre situação, ambiente, população, cultura, religião, tudo é diferente”, completa.
A vice-presidenta da Fepal anseia também solidariedade dos movimentos feministas brasileiros com a Palestina. "Sou uma mulher palestina em diáspora no Brasil, falo a partir do país que está entre os cinco com maiores taxas de feminicídio e que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. A luta feminista é antipatriarcal, os massacres, o genocídio, o Apartheid, o processo de colonização sionista, a limpeza étnica, a necropolítica são crimes contra a humanidade. Enquanto mulher desejo que a luta da mulheres palestinas sirvam de inspiração às feministas do mundo", afirma.
Nesse 8 de março, o convite de Fatima e Rawa é que pensem nas mulheres palestinas. “Tenho a certeza que a luta contra a colonização e a memória preservada no Movimento Nacional Palestino, pelas mulheres palestinas, são inspiração às feministas do mundo”, afirma Fatima.
“Isso é muito importante: a gente olhar para essas mulheres palestinas. Elas criaram esses combatentes, guerreiros e guerreiras palestinas que estão confrontando e combatendo os sionistas nazistas que estão sequestrando nossa terra há 76 anos”, completa Rawa.