193 PAÍSES

Depois de cessar-fogo, ministro de Israel acusa a ONU de ser "antissemita"

Ben-Gvir é o mais extremista em um governo de extremistas

Até tu?.Mesmo Donald Trump fez uma advertência a Israel, em entrevista publicada hoje.Créditos: Reprodução de vídeo
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"A decisão do Conselho de Segurança prova que as Nações Unidas são antissemitas e seu secretário-geral é antissemita e encoraja o Hamas".

A reação furiosa foi do ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, que compete com seu colega de ministério Bezalel Smotrich -- das Finanças -- pelo título de mais radical no gabinete de Benjamin Netanyahu.

Ambos reagiram à decisão do Conselho de Segurança da ONU que aprovou um cessar-fogo imediato em Gaza, com ajuda humanitária desimpedida aos palestinos e libertação de todos os reféns mantidos pelo Hamas.

Desta vez os Estados Unidos mandaram um recado ao aliado histórico e se abstiveram, permitindo que o texto apresentado por Moçambique fosse aprovado com 14 votos, inclusive Reino Unido, França, Rússia e China.

A declaração de Ben-Gvir implica que os 193 países que integram a ONU seriam quase todos antissemitas, uma vez que a Assembleia Geral frequentemente aprova textos condenando a ocupação israelense de territórios palestinos.

Em dezembro do ano passado a Assembleia Geral votou por um cessar-fogo por 153 votos a 10 -- além de Israel e Estados Unidos, votaram contra apenas Áustria, República Checa, Guatemala, Libéria, Micronésia, Nauru, Paraguai e Papua Nova Guiné.

Nas declarações de hoje, Ben-Gvir também se referiu à ONU como "terra inútil".

Atendendo a um pedido da África do Sul, a Corte Internacional de Justiça -- órgão judicial máximo da ONU -- já havia determinado que Israel evitasse ações genocidas em Gaza.

Naquela ocasião, Ben-Gvir disse:

 

A decisão do tribunal antissemita de Haia prova o que já se sabia: este tribunal não procura justiça, mas sim a perseguição do povo judeu. Eles ficaram em silêncio durante o Holocausto e hoje continuam a hipocrisia e dão mais um passo adiante.

A Corte Internacional de Justiça só foi criada no dia 26 de junho de 1945 -- portanto, depois do Holocausto promovido pelos nazistas que vitimou milhões de judeus, comunistas, gays e integrantes do povo roma.

Para não ficar atrás, Bezalel Smotrich disse hoje que Israel deve desconhecer a decisão do Conselho de Segurança, inclusive a abstenção dos Estados Unidos:

A nossa relação com os EUA sempre foi de parceiro, não de Estado patrão. Esta não é a primeira vez que um governo israelense é obrigado a tomar decisões contrárias à posição do governo dos EUA.

ATAQUES À ONU

A discórdia está centrada no fato de que Israel pretende atacar Rafah, onde mais de um milhão de palestinos se refugiam, mesmo contra toda a comunidade internacional, que teme o agravamento do desastre humanitário.

Numa entrevista ao diário conservador Israel Hayom, publicada hoje, o virtual candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, um forte apoiador de Tel Aviv, disse que a guerra tem de acabar logo:

Israel tem de ter muito cuidado, pois está perdendo apoio de boa parte do mundo. 

Os dois ministros acima citados são colonos em território palestino e representam a bancada religiosa sem a qual Benjamin Netanyahu não se manteria no poder.

Eles estão na linha de frente dos ataques às Nações Unidas, que acusam de ter permitido que o Hamas se organizasse em Gaza.

Os ataques não são apenas ao secretário-geral António Guterres, mas também aos líderes de agências como a Organização Mundial da Saúde e a Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA).

Alegando que um punhado de integrantes da UNRWA teriam participado do ataque do Hamas em 7 de Outubro, Israel liderou o boicote à agência que recebeu adesão de vários aliados ocidentais, que financiam a agência.

Muitos voltaram atrás, mas o principal financiador, os Estados Unidos, congelaram o orçamento da UNWRA para 2025.

A UNWRA joga um papel central nos territórios ocupados e na diáspora palestina, já que fornece serviços de saúde e educação, além de cuidar do registro dos palestinos que eventualmente teriam direito de retornar às terras das quais foram expulsos.

Sem UNRWA, sem direito de retorno.

Além disso, Israel tem planos para "reeducar" os palestinos de Gaza, o que implicaria em assumir o controle das escolas e dos currículos.

Com isso, poderia promover o que palestinos denunciam como "genocídio cultural".

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