A revista britânica The Economist, uma das bíblias do liberalismo, traz como destaque na capa da edição desta semana uma foto icônica que remete ao isolamento político de Israel no que diz respeito ao massacre em curso contra o povo palestino na Faixa de Gaza.
De acordo com o semanário ainda existe um caminho, embora estreito, para sair do cenário infernal de Gaza.
Te podría interesar
"Um cessar-fogo temporário e a libertação de reféns poderiam causar uma mudança no governo de Israel; o grupo remanescente de combatentes do Hamas no sul de Gaza poderia ser contido ou desaparecer; e, a partir dos escombros, poderiam começar conversas sobre uma solução de dois estados, respaldadas pelos Estados Unidos e seus aliados do Golfo", escreve.
Mas o texto do veículo britânico avalia que é muito provável que as negociações de cessar-fogo fracassem.
Te podría interesar
Nesse cenário sombrio para o governo de extrema direita e sionista liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a The Economist antecipa tempos difíceis para Tel Aviv.
"Isso poderia deixar Israel preso na trajetória mais sombria de seus 75 anos de existência, caracterizada por uma ocupação interminável, políticas de extrema direita e isolamento", analisa a revista.
O semanário ressalta ainda que atualmente muitos israelenses estão em negação sobre um desfecho desfavorável, mas pondera que um acerto político virá eventualmente. Isso, diz o texto, determinará não apenas o destino dos palestinos, mas também se Israel prosperará nos próximos 75 anos.
A Economist faz até um alerta que serve como um choque de realidade para os sionistas - muito ativos no Brasil:
"Se você é amigo de Israel, este é um momento profundamente desconfortável. Em outubro, lançou uma guerra justificada de autodefesa contra o Hamas, cujos terroristas cometeram atrocidades que ameaçam a ideia de Israel como um lugar onde os judeus estão seguros. Hoje, Israel destruiu talvez metade das forças do Hamas. Mas, de maneiras importantes, sua missão fracassou", destaca.
A revista prossegue na análise negativa para os defensores do sionismo de Israel. Afirma que o governo de Netanyahu, em sua relutância em ajudar a fornecer ou distribuir ajuda, levou a uma catástrofe humanitária evitável e onde o número de vítimas civis resultantes da guerra é superior a 20 mil e segue aumentando.
Além disso, o governo de extrema direita rejeitou os planos para que Gaza do pós-guerra fosse governada pela Autoridade Palestina ou por uma força internacional.
"O resultado mais provável é uma reocupação militar. Se somarmos a Cisjordânia, Israel poderá ter um domínio permanente sobre 4 milhões a 5 milhões de palestinos", prevê o veículo britânico.
Problemas domésticos
O texto de capa desta semana prossegue na análise sombria para os defensores do massacre das Forças de Defesa de Israel em curso contra o povo palestino e ressalta que o governo também falhou em casa.
"Os problemas são mais profundos do que a terrível liderança de Netanyahu. Um crescente movimento de colonos e uma população ultraortodoxa inclinaram a política para a direita e polarizaram a sociedade", pontua o semanário.
A revista prossegue que, antes do 7 de Outubro essa cisão na sociedade era visível na luta pela independência judicial. Mas a guerra aumentou os riscos e, embora os partidos de extrema direita da coligação estejam excluídos do gabinete de guerra, comprometeram o interesse nacional de Israel ao usarem uma retórica incendiária, alimentando a violência dos colonos e tentando sabotar a ajuda e o planeamento pós-guerra. O sistema de segurança de Israel é capaz e pragmático, mas já não está totalmente no comando.
Diplomacia desajeitada
O derrocada final de Israel é uma diplomacia desajeitada. A fúria na guerra era inevitável, especialmente no sul global, mas Israel fez um mau trabalho no seu combate. A “lawfare”, incluindo alegações espúrias de genocídio, tem prejudicado a sua reputação.
Os jovens estadunidenses, por exemplo, simpatizam menos com esse modo violento de fazer diplomacia do que seus pais. O presidente Joe Biden tentou restringir o governo de Netanyahu, abraçando-o publicamente, mas falhou.
Em 14 de Março, Chuck Schumer, o maior aliado de Israel no Senado, condenou as atrocidades do Hamas, mas disse que o líder de Israel estava “perdido”.
A imagem de Israel junto à opinião pública estadunidense já teve momentos de crise, constata a revista. No entanto, observa que os laços entre Tel Aviv e Washington seguem firmes. Observa que caso Donald Trump regresse à Casa Branca, poderá mais uma vez dar passe livre a Israel.
A revista desenha um quadro sombrio que nem sempre é reconhecido em Jerusalém ou Tel Aviv. Netanyahu fala em invadir Rafah, o último reduto do Hamas, enquanto a extrema direita fantasia sobre o reassentamento de Gaza. Muitos dos principais israelenses seguem iludidos. Eles acreditam que as ameaças únicas a Israel justificam a sua crueldade e que a guerra ajudou a restaurar a dissuasão.
No final das contas, concluiu a revista, essa história é um manifesto para o desastre. "Os danos à reputação de Israel poderão tornar mais difícil a continuação do combate em Gaza".