DE OLHO NA CHINA

Milei coloca Exército americano em hidrovia que tem origem no Brasil

Deputado denuncia entreguismo da soberania.

De olho no futuro.Quando estiver totalmente desenvolvida, a hidrovia vai ligar São Paulo ao rio da PrataCréditos: Reprodução
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O Corpo de Engenheiros dos Estados Unidos (USACE) é a maior agência pública de desenho, construção e gerenciamento de obras do mundo, com mais de 37 mil funcionários.

É subordinado ao Exército estadunidense.

Agora, terá um papel na maior hidrovia da América Latina, a Paraná-Paraguai, que quando concluída ligará Cáceres (Mato Grosso), São Paulo e Salto (Uruguai) ao porto marítimo de Nova Palmira, no rio da Prata.

O governo de Javier Milei, através da Autoridade Geral dos Portos, assinou um memorando de entendimento com a USACE que permitirá aos engenheiros militares dos Estados Unidos atuar no trecho argentino da hidrovia.

Diz o comunicado, intermediado pelo embaixador dos EUA em Buenos Aires:

O convênio permitirá aprofundar o intercâmbio de informações entre as entidades, com o objetivo de aumentar a eficiência e a concretização de novas capacidade na gestão de portos e vias navegáveis, manutenção da navegação e equilíbrio ambiental, bem como desenvolvimento de infraestrutura, entre outras áreas.

No passado, o governo da Argentina protestou quando o Paraguai fez acordo similar para desenvolver a hidrovia em seu território.

O USACE gerencia quase 20 mil quilômetros de hidrovias nos Estados Unidos, inclusive a do rio Mississipi. Jamais se pensou em privatizar esta atividade em solo estadunidense, por tratar-se de uma questão de soberania, que envolve a abertura e fechamento de comportas.

O deputado peronista Eduardo Toniolli, de Santa Fé, especialista em História Militar, denunciou o convênio por supostamente violar a lei:

Não foi solicitada autorização ao Congresso para o ingresso de tropas estrangeiras em nosso país, tal como estabeleceu a Lei 25.880.

De acordo com o parlamentar, Milei cogita privatizar a gestão da hidrovia, por onde transitam 80% das exportações da Argentina, como a soja.

Os Estados Unidos estariam interessados em evitar que a hidrovia seja administrada por uma empresa chinesa.

Hoje grandes transnacionais do agronegócio mantém armazenagem ao longo da hidrovia, como a Bunge, ADM, Cargill, Dreyfus e a estatal chinesa China Oil and Foodstuffs Corporation, a COFCO.

A Hidrovia Paraná-Paraguai obedece a regulamentos definidos pela Convenção de Santa Cruz de La Sierra de 1992 entre Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai.

É administrada pela secretaria-executiva do Comitê Intergovernamental da Hidrovia Paraguai-Paraná (CIH), baseado em Buenos Aires.

Os acordos não banem convênios de assessoria, como o assinado agora pela Argentina.

Porém, causam alarme político.

PORTA AVIÕES E GUARDA COSTEIRA

Desde que assumiu, Milei autorizou a vinda à Argentina do porta-aviões George Washington, prevista para maio.

Será a primeira visita do gênero em 13 anos.

Curiosamente, o George Washington não pertence à Quarta Frota, que patrulha o Hemisfério em nome dos Estados Unidos, mas fica baseado no Japão e certamente atuaria se houvesse ameaça da China a Taiwan.

Conter a presença chinesa no Hemisfério é uma das prioridades políticas de Washington, hoje.

O governo argentino também renovou um convênio com a Guarda Costeira dos Estados Unidos para troca de informações sobre o patrulhamento do mar territorial do país, que é alvo de frotas pesqueiras vindas da China, de Taiwan e da Espanha.

Os Estados Unidos sempre tiveram interesse em colocar uma base militar na região sul do continente, sem sucesso.

Washington alega que há risco de terrorismo na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai por causa da grande comunidade árabe.

Porém, sempre foram rechaçados, uma vez que a região guarda bens regionais estratégicos, como a represa e usina binacional de Itaipu, o aquífero Guarani e a própria hidrovia, a maior da América Latina, com quase 3.500 quilômetros navegáveis e por onde hoje transitam 100 bilhões de toneladas de mercadorias/ano.