BRASIL ISOLADO?

EUA detalham conversa de Lula e Blinken sobre Gaza; veja o que foi falado

Narrativa de parte da imprensa e bolsonaristas de que declaração de Lula sobre massacre de palestinos isola o país cai por terra

Lula e o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken.Créditos: Ricardo Stuckert
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Em comunicado oficial assinado pelo porta-voz Matthew Miller, o Departamento de Estado dos Estados Unidos, equivalente ao Ministério das Relações exteriores no país, detalhou a conversa entre o titular do órgão, Antony J. Blinken, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (21), no Palácio do Planalto, em Brasília (DF). 

O encontro ocorre três dias depois da fala de Lula denunciando o genocídio de palestinos perpetrado pelo governo de Israel na Faixa de Gaza. Parte da imprensa brasileira e bolsonaristas afirmam que a declaração do presidente, que comparou o que ocorre no território palestino à matança de judeus encampada pelo regime nazista de Adolf Hitler, causou o isolamento do Brasil no cenário global, e esperavam uma reprimenda dos EUA ao governo brasileiro, visto que o país é o principal patrocinador geopolítico de Israel. 

Isso, entretanto, não aconteceu. Pelo contrário. Ao final da reunião que durou mais de 2 horas, Antony Blinken teceu elogios a Lula, classificou o encontro como "ótimo" e agradeceu ao presidente brasileiro por ter dedicado tempo a recebê-lo. 

“Encontrei-me com o presidente Lula antes da Reunião de Ministros das Relações Exteriores do G20. O Brasil é um parceiro chave em muitas questões, incluindo o combate à crise climática e o avanço dos direitos humanos e trabalhistas. À medida que nos aproximamos dos 200 anos de relações entre os EUA e o Brasil, nossos laços estão mais fortes do que nunca”, escreveu Blinken no X, antigo Twitter.

Na pauta da reunião, estiveram presentes assuntos como combate à fome entre as prioridades do G20, bloco que o Brasil presidirá até novembro deste ano; crise climática; relações comerciais entre os dois países; e reforma dos mecanismos de governança global. 

Mas não parou por aí. O chefe da diplomacia dos EUA conversou com Lula sobre guerras pelo mundo, como a entre Rússia e Ucrânia, a tensão entre Venezuela e Guiana na disputa por Essequibo e, naturalmente, as intervenções militares de Israel em Gaza que vêm causando a morte de milhares de civis palestinos. 

Segundo comunicado do Departamento de Estado dos EUA, Blinken "elogiou o presidente Lula pelo papel do Brasil na redução das tensões entre a Guiana e a Venezuela na região de Essequibo" e "agradeceu ao presidente Lula pela participação do Brasil no processo da Fórmula da Paz da Ucrânia". 

Sobre a situação em Gaza, os EUA informaram que Blinken discutiu com Lula o envolvimento de seu país no conflito e que concordou com o presidente brasileiro sobre a necessidade de proteger os civis palestinos. 

"O Secretário discutiu o envolvimento dos EUA no conflito em Gaza, incluindo o trabalho urgente com parceiros para facilitar a libertação de todos os reféns e para aumentar a assistência humanitária e melhorar a proteção dos civis palestinianos", diz outro trecho do comunicado do Departamento de Estado. 

Já a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) do Brasil relatou que Blinken concordou com Lula sobre "a necessidade de criação de um Estado Palestino". 

Brasil lidera levante mundial contra o genocídio

Os EUA vetaram três propostas de cessar-fogo para Gaza no Conselho de Segurança da ONU, incluindo a brasileira. Agora, eles promovem a própria resolução, que garantiria um cessar-fogo temporário.

A entrada dos EUA e do Reino Unido no grupo dos pró-cessar-fogo (mesmo que um cessar-fogo aparente ou temporário) mostra que, a cada dia, a narrativa israelense vem perdendo força na comunidade internacional.

Enquanto o perfil de Israel acusa Lula de ser um "negacionista do Holocausto", a verdade é que a fala de Lula que comparou o genocídio em Gaza ao Holocausto foi aprovada por 77 chefes de estado antes de ser realizada.

Nesta semana, ainda ocorrerá uma reunião do G20 no Rio de Janeiro. O grupo é presidido pelo Brasil, que quer colocar o cessar-fogo em Gaza na pauta das maiores economias mundiais.

Esta não é a cúpula definitiva com chefes de estado, que deve ocorrer em novembro de 2024, mas convoca lideranças diplomáticas do mundo para debates multilaterais.

A reunião será importante para consolidação de uma articulação multilateral e multipolar em favor da paz e do fim da fome, em favor dos países em desenvolvimento com cooperação internacional.

Lula convidou para a reunião do G20, além de representantes de todos os membros do grupo, ministros de Relações Exteriores de Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal e Singapura.

O presidente brasileiro estendeu o convite a representantes de instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Mundial, as Nações Unidas, a Corporação Andina de Fomento (CAF), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics, além da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Além disso, haverá representantes de Ministério das Relações Exteriores de Bolívia, Paraguai e Uruguai, bem como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a Organização para o Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).