Combatentes da oposição síria chegaram à capital do país, Damasco, e conseguiram o controle da cidade nas primeiras horas da manhã deste domingo, quando anunciaram o fim do governo do presidente Bashar al-Assad, que teria fugido para um destino ainda desconhecido.
Os insurgentes já controlam instalações estratégicas, como a rádio e a televisão públicas do país. A tomada de Damasco põe fim a mais de 53 anos de governo da família al-Assad e 24 do atual presidente e acontece quase 14 anos depois do país ter vivido uma onda de protestos que se transformou rapidamente em uma sangrenta guerra civil.
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O primeiro-ministro de Al Assad, Mohamed Ghazi al Jalali, divulgou um vídeo no qual afirma estender a mão a “todos os sírios que estão interessados neste país para preservar as suas instituições”.
“Estou na minha casa, não a abandonei porque pertenço a este país e não conheço nenhum outro país. É a minha pátria”, afirmou ele, mostrando a sua disposição de colaborar com a oposição armada, de acordo com informações da Agência EFE.
Também neste domingo, os opositores chegaram a Latakia e Tartus, redutos do atual regime sírio na costa noroeste do país. Nas duas cidades, as estátuas de Hafez Al Assad, pai de Al Assad, que governou o país entre 1971 e 2000, foram demolidas, como mostra o vídeo abaixo.
Ofensiva rápida
Foram poucos dias desde o início da nova ofensiva militar dos grupos opositores até a derrubada do governo. Em 27 de novembro, uma coalizão de combatentes lançou o primeiro ataque, na linha de frente entre Idlib, controlada pela oposição, e a província vizinha de Aleppo.
Três dias depois, os combatentes tomaram a segunda maior cidade da Síria, Aleppo. Ocuparam em seguida as cidades de Hama e Homs, no noroeste, e de Daraa, um dos epicentros dos protestos de 2011, e Suweida.
A ofensiva foi travada por vários grupos armados de oposição sírios liderados pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) ou Organização para a Libertação do Levante, contando com o apoio de facções aliadas apoiadas pela Turquia.
O HTS é liderado por Abu Mohammed al-Julani e governou a província de Idlib durante anos. Outros grupos que participaram da operação foram a Frente Nacional de Libertação, Ahrar al-Sham, Jaish al-Izza e o Movimento Nour al-Din al-Zenki.
Outros países e a mudança de regime na Síria
O regime de al-Assad já vinha enfraquecendo nos últimos anos, mas contava com o apoio militar russo e iraniano para se sustentar.
Agora, com a Rússia voltando suas atenções para a guerra da Ucrânia e o Irã vendo seu aliado libanês Hezbollah como alvo de ataques israelenses, o suporte ao exército sírio já havia deixado de ser suficiente.
No Fórum de Doha 2024, que está sendo realizado no Catar, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse neste sábado que continuaria a apoiar o Exército Sírio contra “a ameaça do terrorismo” e enfatizou que Hayat Tahrir al Sham é considerado um grupo terrorista pela comunidade internacional.
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Lavrov não revelou se Moscou poderia acolher Al Assad, cujo paradeiro é atualmente desconhecido. O chefe da diplomacia russa declarou que, juntamente com os seus homólogos turco e iraniano, apoiam a implementação da resolução 2.254. Os diplomatas “estão tentando parar o derramamento de sangue na Síria”, acrescentou.
A resolução é o roteiro para um processo de paz na Síria que o Conselho de Segurança da Organização das ações Unidas (ONU) estabeleceu em 2015, mas que até agora não foi implementado, muito pela relutância do regime sírio em negociar com os seus adversários.
“Precisamos de um processo urgente e sério, fundamentalmente diferente do que tem sido até agora”, pontuou em Doha o enviado especial das Nações Unidas, Geir O. Pedersen.
Com informações da Al Jazeera e El Diario