ASSAD POR UM FIO?

Guerra nuclear mais próxima por causa da crise na Síria, avalia Arbex

EUA, Rússia e Irã guerreiam através de intermediários

Por um fio.Os "rebeldes" avançam, montados em uma grande ofensiva de fake news e guerra psicológica
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O professor José Arbex Jr., um dos maiores especialistas brasileiros em questões relativas à Palestina e ao Oriente Médio, avalia que o mundo está mais próximo de um confronto nuclear por conta da "descontrolada" guerra civil na Síria, que ameaça o regime de Bashar al-Assad em Damasco.

Arbex, professor da PUC-SP, é autor de vários livros, dentre os quais Terror e Esperança na Palestina.

Ele registra que "está havendo uma guerra de informação e desinformação fenomenal".

Nas redes sociais, especialmente no X, Assad já caiu.

Tanto a Central de Inteligência Americana (CIA) quanto o Mossad atuam nos bastidores da crise síria e são capazes de propagar versões fantasiosas sobre os acontecimentos.

Desmentidos

Nas últimas horas, o governo do Irã desmentiu que tenha mandado retirar diplomatas e assessores militares da Síria. O Egito desmentiu ter pedido a Assad que deixe a Síria. O governo da Síria desmentiu que Assad esteja foragido em Teerã.

São fake news que tiveram ampla circulação.

É certo que a Organização para a Libertação do Levante (HTS), movimento inspirado na al-Qaeda, está avançando em direção a Damasco.

Para Arbex, trata-se de um "movimento mercenário" que foi organizado para invadir a Síria.

Publicações ocidentais já passaram a dourar a pílula da HTS, tentando descrever o movimento como tolerante e "rebelde", quando antes já foi descrito como terrorista.

Abu Mohammad al-Jolani, o líder da HTS, ex-integrante da al-Qaeda e do Estado Islâmico, tem uma recompensa de U$ 10 milhões oferecida pelos Estados Unidos por sua captura.

Agora, dá entrevista a jornalistas ocidentais como "moderado".

Garantindo que está prestes a derrubar Assad, al-Jolani passou a assinar com seu nome original, Ahmed al-Sharaa, para se dissociar de seu passado como militante fundamentalista.

Resistência russa

A não ser que haja um colapso total do governo Assad, Arbex Jr. duvida que a Rússia abandonará o estratégico porto de Tartus, no Mediterrâneo, que em 2017 teve a concessão renovada por mais 49 anos.

Da mesma forma, diz que a perda da Síria deixará o Hezbollah isolado por via terrestre no Líbano, o que será um golpe no chamado Eixo de Resistência encabeçado pelo Irã.

Segundo Arbex Jr.:

A Rússia não pode admitir perder o controle total sobre a Síria. Ela tem um porto, uma base militar na cidade de Tartus, que é uma das principais no mar Mediterrâneo, e ela não pode se dar ao luxo de perder isso. O Irã também não pode perder o controle da parte que lhe cabe no território sírio [ligação terrestre com o Hezbollah].

Outra pirueta de Erdogan

Para o professor, a Turquia mais uma vez mudou bruscamente de posição e praticamente deu aval para que o HTS avance até Damasco.

Os turcos tem interesses específicos em esmagar o movimento separatista curdo, que ocupa território no Irã, Iraque, Síria e Turquia e sonha com um Curdistão independente.

Aos Estados Unidos, por outro lado, interessa impor uma derrota militar à Rússia e ao Irã, no caso da primeira por causa da guerra na Ucrânia, no caso de Teerã para enfraquecer a China.

O Irã, por sua posição geográfica e geopolítica, é um dos principais elos da Nova Rota da Seda, projeto chinês de integrar um grande mercado euroasiático.

Segundo Arbex Jr., a luta na Síria pode custar muito sangue e aproxima o mundo de um conflito generalizado, possivelmente nuclear:

Assim como a Rússia não pode admitir perder sua base, a China não permitirá uma derrota do Irã que signifique redução no fornecimento de petróleo [iraniano aos chineses]. Isso pode levar a um confronto generalizado muito perigoso, potencialmente com o uso de armas atômicas, porque a coisa está evoluindo descontroladamente e pode gerar um cataclisma mundial.

Trump e Lavrov

Nas últimas horas, o presidente eleito Donald Trump disse que não quer o envolvimento militar direto dos EUA na Síria e sugeriu que a Rússia deveria fazer o mesmo, ou seja, retirar suas tropas do país.

O governo Biden, no entanto, age de forma acelerada nos bastidores para impedir que Trump cumpra sua promessa de campanha de retirar os EUA de conflitos militares.

Para os governos da OTAN e da Ucrânia, a derrubada de Assad seria um debacle espetacular da Rússia.

Sergei Lavrov, o ministro russo das Relações Exteriores, disse, sem apontar para o agente, que a HTS está sendo usada para "atingir propósitos geopolíticos":

Estamos tentando fazer de tudo para não permitir que terroristas prevaleçam, mesmo que eles digam que não são mais terroristas.

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