O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, afirmou neste domingo (29) que o avião azeri que caiu na semana passada foi abatido pela Rússia, ainda que de forma não intencional, e criticou Moscou por tentar “abafar” o incidente durante dias.
“Podemos dizer com total clareza que o avião foi abatido pela Rússia... Não estamos dizendo que foi feito intencionalmente, mas foi feito”, declarou Aliyev à televisão estatal do Azerbaijão.
Segundo o presidente, o avião, que caiu na quarta-feira (25), Dia de Natal, no Cazaquistão, foi atingido por disparos terrestres sobre a Rússia e “ficou incontrolável devido a uma guerra eletrônica”.
Aliyev também acusou a Rússia de apresentar versões confusas sobre o ocorrido nos primeiros dias após o acidente, classificando-as como “delirantes”.
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“Infelizmente, durante os primeiros três dias não ouvimos nada da Rússia além de versões absurdas”, afirmou.
O acidente resultou na morte de 38 das 67 pessoas a bordo. Segundo o Kremlin, sistemas de defesa aérea russos estavam em operação perto de Grozny, capital da república russa da Chechênia, para repelir um ataque de drones ucranianos quando o avião tentou pousar.
Leia aqui a transcrição da entrevista na íntegra, em inglês.
Demandas do Azerbaijão
Aliyev revelou que o Azerbaijão fez três exigências à Rússia em relação ao acidente:
Pedido de desculpas – Já cumprido, com o presidente russo Vladimir Putin tendo se desculpado no sábado (27), classificando o incidente como uma “tragédia”.
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Admissão de culpa – Exige que Moscou reconheça formalmente sua responsabilidade.
Punição e compensação – Busca que os culpados sejam responsabilizados criminalmente e que indenizações sejam pagas ao Azerbaijão, às vítimas e às suas famílias.
Embora Putin tenha expressado pesar pelo ocorrido, ele evitou assumir publicamente a responsabilidade da Rússia, ressaltando que a investigação ainda está em andamento e que a “versão final dos eventos será conhecida após a análise das caixas-pretas”.
Investigação internacional
Aliyev enfatizou que o Azerbaijão é favorável à participação de especialistas internacionais na investigação do acidente e rejeitou categoricamente a sugestão russa de que o Comitê Interestadual de Aviação, dominado por oficiais russos, lidasse com o caso.
“Não é segredo que essa organização é composta majoritariamente por funcionários russos. Não se poderia garantir plena objetividade aqui”, destacou Aliyev.
Contexto do acidente
O avião Embraer 190 da companhia Azerbaijan Airlines, partiu de Baku, capital do Azerbaijão, com destino a Grozny, mas desviou sua rota em direção ao Cazaquistão, onde caiu durante uma tentativa de pouso na cidade de Aktau, às margens do Mar Cáspio.
Passageiros e membros da tripulação que sobreviveram relataram ter ouvido barulhos altos na aeronave enquanto ela sobrevoava Grozny.
Autoridades russas alegaram que drones ucranianos estavam atacando a região de Grozny na noite do acidente, o que levou ao fechamento do espaço aéreo local.
Paralelos com outros incidentes
O acidente é o segundo incidente fatal relacionado à aviação civil e ao conflito na Ucrânia. Em 2014, o voo MH17 da Malaysia Airlines foi abatido por um míssil russo, matando todas as 298 pessoas a bordo enquanto sobrevoava uma área controlada por separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia.
Embora Moscou tenha negado envolvimento no caso do MH17, um tribunal holandês condenou, em 2022, dois russos e um ucraniano pró-Rússia por seu papel no ataque.
A tragédia recente reacende preocupações sobre os impactos colaterais do conflito em andamento na Ucrânia na segurança da aviação civil na região.
Com informações do The Guardian