* Colaborou Vinicius Sartorato
Mikheil Kavelashvili, ex-jogador de futebol do Manchester City, foi eleito neste sábado (14) presidente da Geórgia em uma eleição indireta marcada por boicote da oposição e protestos massivos em Tbilisi.
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Indicado pelo partido governista "Sonho Georgiano", Kavelashvili, de 53 anos, foi o único candidato no pleito, conquistando 224 votos de 225 delegados do colégio eleitoral, que tem 300 integrantes e foi criado após mudanças constitucionais em 2017.
Eleições controversas e crise política
A oposição boicotou a eleição, classificando-a como "ilegítima" e "antidemocrática". A atual presidenta, Salome Zourabichvili, também denunciou o processo, afirmando que ele viola os princípios democráticos e concentra poder nas mãos do "Sonho Georgiano", liderado pelo bilionário Bidzina Ivanishvili.
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A Geórgia vive uma crise política com protestos diários contra o governo e a decisão do partido de arquivar negociações de adesão à União Europeia.
Kavelashvili, conhecido por seus discursos inflamados e alinhamento com ideias de extrema direita, assume um cargo cerimonial em um momento de polarização política.
Críticos o descrevem o ex- jogador de futebol como um "fantoche" de Ivanishvili, que domina o cenário político georgiano. Durante os protestos, manifestantes expressaram indignação com sua eleição, enxergando-a como um desvio do objetivo de integração europeia.
Raízes no futebol e trajetória política
Nascido em Bolnisi, no sudoeste da Geórgia, Kavelashvili teve uma carreira de destaque no futebol, jogando pelo Manchester City nos anos 1990 e por clubes suíços como Grasshoppers e Basel. Após encerrar a carreira esportiva, ingressou na política como membro do "Sonho Georgiano" em 2016, alinhando-se a pautas conservadoras e antiocidentais.
Em 2022, Kavelashvili e outros parlamentares formaram o grupo "Poder do Povo", que, embora oficialmente separado do "Sonho Georgiano", é visto como um braço do partido governista. Ele é conhecido por declarações polêmicas contra a comunidade LGBTQIA+ e por críticas às lideranças ocidentais, acusando-as de tentar arrastar a Geórgia para a guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Geopolítica e disputas internas
Localizada no estratégico Cáucaso, a Geórgia enfrenta tensões geopolíticas históricas, especialmente após a guerra de 2008 com a Rússia, que resultou na ocupação das regiões separatistas da Ossétia do Sul e Abkházia.
Apesar de declarar interesse em aderir à União Europeia, o governo do "Sonho Georgiano" tem adotado políticas que reforçam sua proximidade com Moscou, gerando críticas internas e internacionais.
A eleição de Kavelashvili reflete o crescente domínio do "Sonho Georgiano" sobre as instituições políticas do país. Com as recentes eleições parlamentares também questionadas pela oposição, a Geórgia enfrenta uma crise constitucional sem precedentes. Salome Zourabichvili prometeu não deixar o cargo até que novas eleições sejam convocadas.
Protestos e futuro incerto
Os protestos em Tbilisi destacam o descontentamento popular com o governo e a frustração com o desvio da Geórgia de seu caminho para a integração europeia. A crescente polarização e as alegações de ilegitimidade podem minar ainda mais a frágil democracia georgiana, conquistada após o colapso da União Soviética em 1991.
Enquanto isso, Kavelashvili assume a presidência com pouca legitimidade e enfrentando a oposição de uma sociedade que enxerga sua eleição como parte de uma estratégia para consolidar o poder do "Sonho Georgiano" e afastar o país do Ocidente.
O futuro político da Geórgia permanece incerto, com as ruas de Tbilisi ecoando demandas por democracia e maior transparência governamental.