Na segunda-feira (9/12), Luigi Mangione, de 26 anos, foi preso sob a acusação de assassinar o CEO de uma das maiores provedoras de saúde dos Estados Unidos, Brian Thompson, da UnitedHealthCare.
Mangione escrevera um manifesto, encontrado posteriormente pelas investigações policiais, em que se referia a corporativos da saúde como "parasitas", afirmando que "eles mereceram", e pedindo desculpas "por qualquer conflito e trauma" causados pelo crime — que, para ele, "tinha de ser feito".
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De acordo com o Economic Times, Mangione, que possuía uma conta na rede social Goodreads, dedicada à resenha de livros, havia avaliado a obra "A sociedade industrial e seu futuro", conhecido como "O manifesto Unabomber", de autoria de Ted Kaczynski, com a nota 4 (de um total de 5 estrelas).
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No comentário deixado por ele, Mangione escrevera: "É fácil descartar esse livro, de maneira rápida e impensada, como o manifesto de um lunático, para evitar enfrentar alguns dos problemas desconfortáveis que ele identifica. Mas é simplesmente impossível ignorar o quão prescientes são muitas de suas previsões sobre como a sociedade moderna se desenvolveu".
Quem foi o Unabomber
Ted Kacyznski, nascido em 1942, em Chicago, ficou conhecido como "Unabomber" após abandonar sua carreria como matemático prodígio, em 1969, para se dedicar a uma vida "fora da civilização" e, entre 1978 e 1995, cometer atos de terrorismo na tentativa de "iniciar uma revolução nacional" contra os frutos sociais perversos da modernidade e da tecnologia.
O homem que inspirou o assassino do CEO da UnitedHealthCare se opunha a fenômenos atuais, como a industrialização acelerada, a burocracia das instituições e o avanço tecnológico desmedido, e defendia uma forma mais primitiva de anarquismo, além de um estilo de vida autossuficiente e descolada dos ideais ocidentais.
De forma similar ao personagem do longa "Na natureza selvagem" (Into the wild, de 2008, dirigido por Sean Penn), Kacznyski se isolou na natureza, numa cabana remota em Montana, a oeste dos EUA, uma área conhecida por picos cobertos de neve, trilhas naturais e um relevo montanhoso.
Lá, ele viveu isolado e aprendeu a sobreviver sozinho e sem o uso de qualquer tipo de "tecnologia", inclusive a eletricidade.
Mas, de acordo com relatos enviados por Kacznyski ao jornal The New York Times, ele teria se frustrado com a impossibilidade de levar uma vida inteiramente afastada da civilização — o espaço que o cercava, na região de Montana em que vivia, começou a ser atingido por ações de destruição antrópica frequentes.
Em "A Sociedade Industrial e seu futuro", ele argumenta que a violência é por vezes necessária e justificável a fim de questionar o status quo e a apontar para o perigo do avanço tecnológico e de uma vida cada vez mais opressiva sob o viés civilizacional.
A partir de 1978, Ted Kaczynski iniciou uma série de ataques a bombas caseiras, que deixaram três pessoas mortas e pelo menos 23 feridas. Foram cerca de 16 ataques a bombas de fabricação própria, que ele levou a cabo até 1995.
Nos dispositivos usados nos atentados havia sempre uma marca do autor, mas também outras pistas responsáveis por confundir os investigadores e afastá-los de sua verdadeira identidade. A marca de Ted eram as iniciais "FC", que remetiam a "Freedom Club".
As bombas eram enviadas via correios, uma chegou a ser disposta em um avião, e várias outras foram lançadas em espaços universitários. Uma das bombas, enviada para a American Airlines, tinha como objetivo assassinar o presidente da companhia aérea, e foi plantada no Voo 444, deixando uma dúzia de pessoas feridas por inalação de fumaça.
A primeira pessoa a morrer por um ataque de Ted foi o dono de uma loja de informática em Sacramento, em 1985; em seguida, alguns anos depois, Thomas J. Mosser, um executivo de publicidade, em 1994; e, em 1995, Gilbert Brent Murray, corporativo do lobby da indústria de madeira nos Estados Unidos.
Ao longo dos anos, com ataques bem sucedidos e ainda a solta, Ted enviava cartas a jornais e exigia sua publicação, sob a ameaça de coordenar ainda mais ataques.
A investigação que levou à prisão de Ted foi uma das mais longas e caras do Departamento de Segurança dos EUA (com gastos estimados de US$ 50 milhões), e uma recompensa de US$ 1 milhão chegou a ser oferecida pelo FBI em troco de quaisquer informações sobre ele.
A família de Ted começou a suspeitar da sua autoria dos ataques terroristas após a publicação, pelo FBI, do "manifesto do Unabomber", o ensaio anti-tecnológico de Ted, considerado, então, um ecoterrorista.
Hoje, o livro está avaliado em 4,5 de 5 e disponível para a compra na plataforma da Amazon.
A prisão de Ted ocorreu apenas em abril de 1996, quando o homem foi encontrado e detido em sua cabana, onde a polícia também identificou componentes para a produção de bombas, cerca de 40 mil páginas de revistas escritas à mão com descrições de crimes e uma bomba ainda ativa, que deveria ser enviada pelos correios mais tarde.
Kaczynski foi condenado à prisão perpétua, e seus pertences foram levados a leilão em 2006, com a receita resultante destinada à restituição de suas vítimas.
Negado
Mangione, que vinha de uma família abastada e estudou em uma escola particular nos Estados Unidos, era graduado e pós-graduado em ciência da computação pela Universidade da Pensilvânia.
O assassinato de Thompson, cometido por ele em Manhattan, na cidade de Nova York, foi marcado pela simbólica manifestação, nas cápsulas de bala usadas pelo assassino, de termos usados pelas companhias e seguradoras de saúde ao rejeitar pedidos de seus clientes: "Negado" e "Destituir".