Em 2023, a Índia se tornou a nação mais populosa do planeta, com um recorde de 1,428 bilhão de habitantes, ultrapassando a China (que contava, então, com 1,425 bilhão).
Hoje, a população indiana já passa de 1,455 bilhão.
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Além de ser a potência mais populosa do mundo, o país do sul asiático tem um perfil demográfico com prevalência de jovens, e uma estimativa de crescimento populacional ascendente — sua população deve atingir o pico de 1,7 bilhão de pessoas em 2064.
Qual não seria a surpresa ao se saber que, apesar das estimativas de crescimento orgânico acentuado, os líderes regionais desse país estão trabalhando em políticas de estímulo ainda mais concreto para o aumento acelerado da população?
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É o que tem ocorrido em pelo menos dois estados ao sul da Índia: Tamil Nadu e Andhra Pradesh, localizados na costa leste do país, ao longo do Golfo de Bengala, que compartilham semelhanças culturais e históricas.
Cidades como Chennai, em Tamil Nadu, são polos de inovação e tecnologia da região, e o sul do país é conhecido por sua produção extensiva na agricultura, que privilegia o plantio de arroz e especiarias.
Politicamente, o sul da Índia ainda é representado por uma quantidade significativa de assentos no Parlamento, especialmente na câmara baixa (Lok Sabha).
Isso se deve, principalmente, à sua grande base populacional, o que permite a estados como Tamil Nadu desempenhar uma função de alinhamento por coalizão para objetivos políticos do governo central.
Agora, um chamado público tem sido feito por autoridades políticas de Andhra Pradesh e Tamil Nadu em favor de uma maior taxa de concepção, numa estratégia denominada "política de útero".
Com foco nas eleições locais e nos incentivos políticos de uma população numerosa, políticos dessa região têm apelado à religião e à cultura para estimular que mulheres indianas tenham mais filhos.
Durante uma cerimônia de casamento organizada pelo governo do estado em Maharashtra, um dos estados mais ricos da Índia, um líder enfatizou como uma população maior pode significar "mais representação em Lok Sabha", a câmara baixa do Parlamento indiano.
Ele ainda mencionou uma bênção de prosperidade tâmil que aponta "os 16 tipos de riqueza" — e disse que, embora 16 não signifique 16 filhos, a situação atual leva a "repensar as medidas de controle populacional" e levanta uma questão: "por que não ter 16 filhos, o que nos ajudaria a manter nossa representação em Lok Sabha?"
A questão populacional já tem sido um divisor regional na Índia, que põe em contradição o norte do país, em que o controle populacional é menos difundido, e a região sul, que controla taxas de natalidade de forma mais contundente — o que, neste cenário, representaria uma ameaça política.
O fator numérico influencia a divisão de recursos e, como já mencionado, a representação no parlamento. Isso acontece porque, no cálculo para divisão de recursos, o governo central indiano considera o tamanho da população um fator de proporcionalidade.
Como os estados do norte possuem populações maiores, eles acabam recebendo uma fatia maior dos recursos, enquanto o sul, que possui um crescimento populacional mais controlado, recebe proporcionalmente menos.
Apesar disso, a influência econômica dos estados do sul é vista como mais significativa.
Um analista político ouvido pela RT na Índia sob anonimato afirmou que essa é uma política negligente e perigosa: "Como eles podem pedir às mulheres que tenham mais filhos?", questionou ele. "O que acontece com o corpo da mulher? Com sua saúde e carreira?"
As dificuldades de distribuição e a baixa renda da população também são invocados como fatores restritivos a essa espécie de retórica: "Eles têm ideia do que é, para uma família, criar uma criança, dar comida adequada, roupas decentes, assistência médica e uma educação adequada?"