DEMAGOGIA

Trump pode ser assassinado se abandonar a Ucrânia?

Isolacionismo tem tradição nos Estados Unidos

Risco?.Apoiadores de Trump fazem propaganda de que ele pode ser assassinado como KennedyCréditos: Wikipedia
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Se porventura for eleito e de fato acabar com a guerra na Ucrânia sem concessões significativas da Rússia, o republicano Donald Trump corre o risco de ser assassinado?

É o que dizem os seguidores do MAGA, o movimento que impulsiona o candidato.

Trump já foi alvo de duas tentativas, ambas de homens brancos. No primeiro caso, não é possível determinar a motivação de Matthew Crooks, de 20 anos, que acertou Trump na orelha.

No segundo caso, Ryan Routh deixou uma nota criticando a política de Trump de abandonar o acordo nuclear com o Irã.

Porém, o homem que planejava matar Trump em um campo de golfe da Flórida também se envolveu com o recrutamento de militantes e a compra de armamento para apoiar o governo da Ucrânia na guerra contra a Rússia.

Tradição

Embora seja um demagogo na tradição da extrema-direita, Donald Trump propõe uma rota isolacionista que já teve grande apoio no Partido Republicano.

O democrata Franklin Delano Roosevelt (FDR) teve grande dificuldade para enfiar os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e só conseguiu fazê-lo depois do ataque do Japão a Pearl Harbor e de uma campanha de demonização dos japoneses como subhumanos patrocinada por Hollywood.

O argumento de Trump é de que o dinheiro gasto em aventuras militares externas deve ser aplicado nos EUA.

Wall Street e o complexo industrial militar

Desde que Bill Clinton governou os Estados Unidos (1993-2001), o Partido Democrata tornou-se o preferido de Wall Street.

Clinton demoliu o ato Glass–Steagall, que regulamentava o sistema financeiro e criava um muro entre os bancos comerciais (que coletam depósitos do público) e os bancos de investimento que especulam à vontade.

Com o ato Glass-Steagall não teria havido a crise de 2008.

Quando Barack Obama assumiu, resgatou Wall Street com dinheiro público -- mantendo o pacto de sangue de Clinton.

Acabar com a guerra na Ucrânia pode afetar profundamente o mercado financeiro.

Hoje, além das empresas Big Tech, são as cinco grandes fabricantes de armas -- Boeing, General Dynamics, Lockheed Martin, Northrop Grumman e Raytheon -- que geram lucros extraordinários nas bolsas.

Não por acaso, Trump foi atacado recentemente por militares que serviram a ele em cargos de alto escalão, dentre eles os generais John Kelly, Mark Milley e James Mattis.

Ucrânia e OTAN

As críticas, de que Trump é "fascista" e "fã de Hitler" provavelmente são justas.

Porém, por trás delas também figura a guerra da Ucrânia, que é um projeto fundamental da elite estadunidense para que o Século 21 também seja o século dos EUA.

A expansão da OTAN é essencial para o cerco ao projeto da Rússia e da China de criar um gigantesco mercado euro-asiático sem interferência de Washington.

Recentemente, líderes ocidentais denunciaram suposta interferência da Rússia nas eleições da Geórgia e da Moldávia, onde Washington apoia políticos anti-Putin.

É o mesmo pacote: cerco físico à Rússia.

Uma derrota política na Ucrânia seria um forte golpe neste projeto dos EUA e na aliança militar do Ocidente.

O "exemplo" de Kennedy

Em 1963, o presidente democrata John Kennedy foi assassinado no Texas. O assassino foi morto em seguida e as teorias de conspiração floresceram.

Kennedy foi acusado por detratores de não ter autorizado cobertura aérea para a fracassada invasão da baía dos Porcos, em Cuba, em 1961.

Na crise dos mísseis de 1962, Kennedy fez um acordo secreto pelo qual tirou armamentos instalados pelos EUA na Turquia em troca da retirada dos mísseis soviéticos de Cuba, o que também desagradou falcões de seu governo.

Finalmente, antes de morrer Kennedy parecia ter dúvidas sobre o tamanho do engajamento dos EUA na guerra do Vietnã. Depois do assassinato, seu sucessor, Lyndon Johnson, foi quem autorizou bombardeios massivos contra o Vietnã do Norte.

Por coincidência, também foi Johnson quem autorizou a operação Brother Sam, de apoio dos EUA ao golpe militar no Brasil em 1964.

Por isso, é possível que a promessa de Trump de acabar imediatamente com a guerra na Ucrânia seja apenas um "ativo de campanha", como foi a promessa de Barack Obama de fechar a base estadunidense de Guantánamo, aberta até hoje.