FIM DOS TEMPOS

Trump, eleito, pode causar convulsão na América Latina; entenda

Republicano provavelmente vai recuar da promessa de expulsar todos os ilegais

Verdinhas.Um homem retira dólares enviados por parentes que moram fora de El Salvador; mais de 20% do PIB do país vem de fora.Créditos: Governo de El Salvador
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Se Donald Trump for eleito nesta terça-feira 5 e de fato cumprir as promessas de campanha, pode causar turbulência econômica sem precedentes na América Latina, provocando indiretamente convulsão social e queda de governos.

Hoje, nos Estados Unidos, vige a política do "catch and release" na fronteira com o México: os imigrantes detidos entrando ilegalmente no país passam por uma triagem.

Como é impossível manter todos eles presos, muitos são soltos pela Border Patrol e recebem uma data para se apresentar diante de um tribunal.

Foi o caso da brasileira Carla, que deu entrevista para os correspondentes da Fórum na Pensilvânia.

Ela só será considerada ilegal se não comparecer à Justiça na data prevista.

Carla está nos EUA há 11 meses. Entrou com o marido e o filho, que sofre de paralisia cerebral e é cadeirante. Ficou alguns dias detida mas foi solta e rumou para a Pensilvânia, onde ela e o marido trabalham. Ele, produzindo concreto. Ela, como diarista. O filho tem transporte, fraldas e atendimento médico providenciado pela escola. 

Remessas

No esquema de hoje, os imigrantes ilegais são uma verdadeira potência econômica para seus países de origem.

Em 2022, quase 27% do PIB de Honduras foi baseado em remessas de dólares feitas por hondurenhos que vivem fora do país, especialmente nos EUA. El Salvador (24%), Jamaica (quase 23%), Haiti (22%), Nicarágua (20%) e Guatemala (19%) fazem parte da lista.

Outros países vulneráveis a uma flutuação grande das remessas são a República Dominicana, o Equador e o Peru.

O México foi o país que mais recebeu remessas em 2022 na América Latina: U$ 61 bilhões (contra U$ 5 bi do Brasil).

Porém, muitos dos mexicanos que vivem nos EUA estão lá legalmente e, proporcionalmente ao PIB, as remessas não representam uma fatia tão importante da economia.

21 milhões

Donald Trump tem falado em 21 milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos e na "maior deportação em massa" da História.

Promete 10 anos de prisão para o ilegal que for pego voltando aos EUA depois de deportado.

É muito provável que seja mera retórica de campanha: expulsar milhões de pessoas consumiria valores extraordinários em horas de trabalho da polícia, do sistema judiciário e em transporte, alimentação e cuidados médicos dos presos.

Além disso, os empregadores dos EUA dependem da mão-de-obra barata dos ilegais, especialmente para as colheitas sazonais e empregos de faxineiras, entregadores e outras atividades.

Porém, se de fato acontecer um súbito corte nas remessas pode ter implicações políticas graves em toda a América Latina.

As remessas para Cuba, por exemplo, tiveram um pico em 2019, atingindo U$ 3,7 bi; mergulharam durante a pandemia de COVID, apresentando recuperação em 2022 (U$ 2 bi).

Este é um dos fatores que ajudam a explicar as profundas dificuldades econômicas enfrentadas pela ilha caribenha nos dias de hoje: falta de moeda forte para bancar importações.

O governo Trump tentou sufocar Cuba banindo as remessas feitas pela empresa Western Union, mas elas foram retomadas em maio deste ano, depois que a empresa driblou as sanções com novos parceiros cubanos.

Ironicamente, a turbulência social e econômica eventualmente provocada por Trump poderá levar mais gente a tentar entrar nos Estados Unidos através das máfias de tráfico humano.