Ao fim da Segunda Guerra Mundial seguiram-se décadas de intensa rivalidade geopolítica entre EUA e URSS, no período conhecido como Guerra Fria. No final da década de 1980, no entanto, essas tensões passavam, finalmente, a um estado de détente (a desescalada na corrida armamentista e a diminuição de ameaças concretas de dissuasão nuclear).
Desde 1985, a nova administração da URSS, iniciada com a subida de Mikhail Gorbachev ao poder, introduzira reformas administrativas, políticas e econômicas de abertura (glasnost) e reestruturação (perestroika), com uma abordagem mais receptiva ao Ocidente.
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Ainda assim, nem todos os esforços em questões de segurança militar deixaram de preocupar e motivar estratégias das principais potências alinhadas aos blocos Ocidental (com a Organização do Tratado do Atlântico Norte) e soviético.
Mesmo após a assinatura, em 1987, do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), que restringia o uso de tecnologia nuclear pelos países, as atividades militares de espionagem continuavam a motivar operações secretas em zonas estratégicas de conflito, especialmente ao longo do Oriente Médio e da Ásia — o que se somava ao cenário de intensa polarização.
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Foi em março deste mesmo ano (1987) que uma operação surpreendente da URSS desatou um cenário de "pânico" entre os oficiais do Pentágono, e revelou uma fragilidade preocupante nos sistemas de defesa da OTAN.
A operação Atrina
Em 1987, um destacamento de cinco submarinos nucleares (K-299, K-255, K-244, K-298 e K-524) que compunham 33ª divisão da Frota do norte, da União Soviética, iniciou uma movimentação no Mar de Barents, localizado a norte da Noruega e da Rússia, no oceano Glacial Ártico.
Comandado pelo capitão soviético Anatoli Shevchenko, o destacamento avançou pela Escandinávia, num território monitorado pela atividade militar da OTAN, e envolveu, além dos submarinos de reconhecimento soviéticos, ainda outros navios de inteligência e aviões de longo alcance cujas bases operacionais localizavam-se na Rússia central e em Cuba.
A operação ficou conhecida como "Atrina", e foi capaz de algo inaudito pelos militares da OTAN: desaparecer do monitoramento e cruzar a barreira de detecção da Organização ao longo do Estreito da Dinamarca (onde havia uma cadeia de sistemas subaquáticos de detecção sônica da OTAN, disposta numa linha que ia da Groenlândia ao Reino Unido).
A operação soviética pôde patrulhar, apesar do seu tamanho, toda a área sem ser incomodada — e seguiu, então, para o Atlântico e o Caribe, ainda sem passar por qualquer tipo de inspeção.
Embora aviões de patrulha tivessem sido acionados pela OTAN para ir em busca dos submarinos soviéticos — além de forças anti-submarinas da Organização, que vasculharam o Atlântico com sistemas avançados de sonar e radar —, os submarinos soviéticos permaneceram "invisíveis".
O destacamento foi finalmente encontrado apenas ao chegar ao mar dos Sargaços, no Atlântico Norte, ao longo da costa leste dos Estados Unidos.
Essa situação preocupou as forças de segurança do Pentágono, então sob o comando do presidente Ronald Reagan (1981-1989), que se sentiram constrangidas com as movimentações robustas e furtivas dos soviéticos "bem debaixo do seu nariz".
Além disso, o movimento foi visto como um desafio à capacidade técnica da OTAN, que confundiu a natureza dos submarinos avistados, uma vez identificados, com submarinos usados para carregar mísseis estratégicos (seria aquela uma ameaça nuclear?).
A importância estratégica dessa operação estava, além da capacidade de se movimentar livremente sem intercepção dos soviéticos, na possibilidade que essa "negligência" poderia representar aos EUA: o país se descobria vulnerável a ataques de mísseis de submarinos soviéticos caso isso se repetisse numa ofensiva.
Além disso, foi uma operação desmoralizante para a OTAN, que percebeu que não haveria força suficiente para controlar todo o território do Atlântico — e para desincentivar uma operação de guerra massiva — caso fossem pegos de surpresa por uma movimentação similar das frotas soviéticas.
Como resultado da provocação, a OTAN mobilizou suas forças de inteligência e sua armada física para redobrar os esforços de monitoramento da região, estudando as táticas soviéticas, analisando as informações coletadas durante as operações de busca a fim de compreender os padrões de movimento dos submarinos soviéticos e revisando suas estratégias de resposta a situações futuras.