TENSÃO NO AR

O que está acontecendo na guerra da Ucrânia?

Mil dias após o início do conflito e com a autorização do uso de mísseis de longo alcance fabricados nos EUA pelas forças armadas ucranianas, o governo russo revisou sua doutrina nuclear e o mundo observa com atenção os desdobramentos do atual cenário

Imagem do míssil do Atacms lançado pelo sistema M270 MLRS, em 2006Créditos: https://sill-www.army.mil, Public domain, via Wikimedia Commons
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No milésimo dia do conflito entre Rússia e Ucrânia, Kiev disparou mísseis de longo alcance de fabricação estadunidense contra o território russo pela primeira vez desde que o governo Biden suspendeu as restrições ao seu uso. O governo ucraniano afirma que atingiu um arsenal militar do perto da cidade de Karachev, sem confirmar o uso dos mísseis.

O ministério da defesa da Rússia afirmou que a Ucrânia lançou seis mísseis Atacms, de fabricação dos Estados Unidos, visando a região sudoeste de Bryansk durante a noite desta terça-feira (19). Cinco dos mísseis foram abatidos e outro foi danificado, segundo o governo russo, e os destroços dos foguetes teriam causado um incêndio em uma instalação militar.

A região de Bryansk, localizada ao norte de Kursk, é tida como estratégica para a Rússia devido à sua infraestrutura militar.

Durante meses, Kiev solicitou permissão para atacar alvos em território russo com mísseis ocidentais, pedido que seus aliados haviam negado até agora por medo de uma escalada do conflito.

Com a permissão, a Ucrânia pode utilizar o sistema de mísseis conhecidos como Army Tactical Missile System (Atacms), que já eram usados em alvos russos dentro do território ucraniano ocupado há mais de um ano.

O que são os mísseis Atacms?

Fabricados pela Lockheed Martin, os mísseis Atacms podem atingir alvos a até 300km de distância. Os projéteis balísticos voam muito mais alto do que a maioria dos foguetes e podem escapar de defesas antiaéreas ao atingir o solo em alta velocidade.

O míssil é disparado pelo sistema de lançamento múltiplo M270 (MLRS) ou pelo sistema de artilharia de alta mobilidade M142 (Himars). Após viajar até o ponto mais alto, desce seguindo uma trajetória parabólica, o que torna mais difícil sua interceptação.

A partir de agora, a Ucrânia poderá atingir alvos na Rússia para tentar preservar os mais de 1.000 km² de território que detém atualmente na região russa de Kursk. Os ataques feitos com os mísseis Atacms podem atingir depósitos de armas e munições russos, além de linhas de suprimento e bases militares, dando uma proteção maior às tropas ucranianas que estão na região.

Especialistas apontam que a permissão poderia ter sido dada para fortalecer a posição ucraniana antes de Donald Trump assumir a presidência e buscar negociar um acordo entre os dois países. "No entanto, pode ser outro caso de apoio ocidental insuficiente e tardio à Ucrânia", pontua o pesquisador do centro de Estudos Europeus da Universidade Nacional da Austrália, Jon Richardson.

"O envolvimento da Coreia do Norte pode ser a principal razão para a remoção dos limites do Atacms. Além de fortalecer as chances da Ucrânia de manter sua posição dentro do território russo, a medida também pode desencorajar a Coreia do Norte de enviar mais tropas", disse, em artigo no The Conversation.

Revisão da doutrina nuclear russa

Depois da permissão de Joe Biden para que a Ucrânia ataque alvos dentro do território russo com armas de longo alcance fornecidas pelos EUA, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, revisou a doutrina nuclear do país

A partir de agora, o documento amplia os critérios para uma retaliação nuclear ao considerar como “ataque conjunto” a agressão de um país não nuclear que receba apoio de uma potência com capacidade atômica. Qualquer ação ofensiva contra a Rússia ou os seus aliados por parte de um membro de uma coligação será interpretada como um ataque da coalizão como um todo, uma referência pouco velada à Otan, segundo o texto.

Dou outro lado, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, afirmou em uma entrevista coletiva nesta terça-feira que a retórica "irresponsável e belicosa" de Moscou "não fará nada para melhorar a segurança da Rússia".

“Desde o início de sua guerra de agressão contra a Ucrânia, ele tem procurado coagir e intimidar tanto a Ucrânia quanto outros países ao redor do mundo por meio de retórica e comportamento nuclear irresponsável”, disse o porta-voz.